Um piso mais veloz, uma adversária muito firme nas devoluções e um dia irregular determinaram a queda de Beatriz Haddad Maia logo na estreia de Cincinnati, superada em sets diretos pela experiente Jelena Ostapenko. Nada que seja preocupante, principalmente porque 24 horas depois Bia e Anna Danilina retomaram com sucesso a parceria e venceram o forte dueto de Latisha Chan e Samantha Stosur.
Bia, percebam, não foi a única ‘vítima’ entre os tenistas que foram longe em Montréal. A campeã Simona Halep se arrastou na estreia e nem entrou em quadra para a segunda rodada nesta quarta-feira, enquanto Pablo Carreño, Hubert Hurkacz e Daniel Evans nem passaram da estreia. O espanhol venceu o torneio masculino em cima do polonês e o britânico fez semi de simples e final de duplas. É mesmo muito difícil no circuito de hoje se fazer duas semanas exigentes consecutivas.
De olho no US Open, que certamente é o ponto maior desta temporada de quadra dura descoberta, a chance de Bia Haddad aparecer entre as 16 principais favoritas é muito grande. Com a derrota de Ostapenko na rodada seguinte, a canhota brasileira pode até ganhar o 15º posto no ranking e no momento é ameaçada apenas por duas concorrentes: Veronika Kudermetova, que só passa Bia com mais duas vitórias, ou se Madison Keys ou Elena Rybakina chegarem pelo menos na final.
Caso confirme a cabeça 16, Bia terá alguns importantes privilégios. Em primeiro lugar, suas duas primeiras adversárias certamente estarão fora do top 30, ainda que nomes de peso e campeãs como Naomi Osaka, Bianca Andreescu e Sloane Stephens estejam soltas na chave. Depois, ela só poderá cruzar com uma das quatro maiores cabeças em eventuais oitavas, e vamos combinar que Iga Swiatek é a única real preocupação, já que Maria Sakkari e Paula Badosa vão mal e Anett Kontaveit está longe dos melhores dias. Ons Jabeur ainda possui chance de entrar entre as quatro. Com o abandono em Cincy, Halep pode no máximo manter o sexto posto.
Mesmo que acabe como cabeça 17, Bia Haddad ainda será a tenista nacional a ocupar a maior condição de favorita num Grand Slam desde que Gustavo Kuerten figurou como cabeça 14 no US Open de 2003. A última vez que uma brasileira entrou na lista das favoritas em Nova York foi obviamente Maria Esther Bueno, quinta principal inscrita em 1968, quando só oito cabeças eram selecionadas.
Nadal vai ter de treinar mais
O objetivo de Rafael Nadal de jogar Cincinnati para pegar ritmo, após a contusão abdominal sofrida em Wimbledon, caiu por terra. Ele não passou da estreia, viveu altos e baixos naturais para a inatividade e terá agora de decidir: foca o treino nos 10 dias que faltam para o US Open ou arrisca pedir convite para competir mais em Winston-Salem. Se eu fosse ele, jogaria o ATP 250, nem que fosse dupla.
Durante quase três horas, o espanhol cometeu erros muito além do natural, mas ainda assim esteve bem perto de ganhar o primeiro set, o que se mostraria fundamental. Fez uma segunda série bem mais consisnte, em que sacou com determinação e usou bem o forehand, mas sua postura muito recuada abriu caminho para um ousado e bem aplicado Borna Coric, que marcou sua terceira vitória em cinco duelos diante do canhoto de Mallorca.
Ainda um mero 152º do ranking – ficou um ano sem jogar devido à cirurgia no ombro -, Coric estava jogando challengers no saibro italiano antes de ganhar dois jogos no 500 de Hamburgo e aí se arriscar na quadra dura. Antes de Nadal, passou muito bem por Lorenzo Musetti em Cincy e agora terá pela frente Roberto Bautista. É bom vê-lo jogar em alto nível novamente.
E mais
- O sinal de alerta também soou para Coco Gauff e Nick Kyrgios. Nova número 1 do mundo de duplas, a jovem norte-americana torceu o tornozelo e terá de correr contra o tempo para jogar o US Open. O australiano já havia mostrado limitações em Montréal e andou em quadra nesta quarta-feira contra Taylor Fritz.
- Ons Jabeur e Anett Kontaveit flertaram com a eliminação, Maria Sakkari, Garbiñe Muguruza e Leylah Fernandez seguem em baixa. Já Karolina Pliskova não tirou o que podia da quadra mais veloz. De novo, muitas surpresas femininas.
- Na hora certa e numa chave adequada, Emma Raducanu busca a confiança às vésperas de defender o US Open. Passou com clara superioridade por Serena e Azarenka e agora terá um teste importante contra a embalada Jessica Pegula.
- Daniil Medvedev não brilhou na estreia, mas passou pelo holandês Botic van der Zandschulp e agora só precisa bater Denis Shapovalov para garantir mais quatro semanas no número 1 e o sempre prestigioso posto de cabeça 1 do US Open. Mas como atual campeão em NY, terá de evoluir muito para não ser destronado de vez por Nadal ou Alcaraz.
- Ben Shelton, conhecido como Big Ben no circuito universitário americano, onde foi campeão, virou sensação em Cincinnati. Aos 19 anos, canhoto de 1,93m, mostrou um tênis muito agressivo e passou por Casper Ruud com sobras. Vai desafiar o também canhoto Cameron Norrie, que enfim ganhou uma de Andy Murray. Ben é filho de Bryan Shelton, top 55 do ranking em 1992.
- Felix Aliassime e Jannik Sinner fazem o grande duelo da nova geração nas oitavas de Cincinnati. No único confronto, em Madri deste ano, o canadense venceu.
- Monfils não se recuperou da lesão no pé e está fora do US Open, que deu convites para Thiem, Venus e Kenin.
Mais tarde, volto para comentar o retorno de Nadal