Variação, paciência e humildade são armas de Fonseca contra Draper

João Fonseca vai em busca da maior vitória de sua curtíssima carreira e de um lugar no top 50 do ranking por volta das 11 horas deste sábado, quando reencontrará o mesmo Jack Draper que o eliminou com autoridade na segunda rodada de Indian Wells e caminhou para aquele que seria seu primeiro troféu de Masters 1000. O canhoto era então o 14º do ranking. Hoje, impulsionado justamente por essa conquista, é o quinto do mundo.

Mas há muitos elementos que diferenciam aquele jogo do que pode acontecer no saibro de Roland Garros. E o principal deles é que agora os dois sabem o que esperar. Não é nada fácil enfrentar canhotos de alto nível no circuito e o britânico soube explorar essa vantagem, principalmente com o saque alto na vantagem. João até conseguiu algumas devoluções firmes, porém percentualmente a postura tática rendeu muito a Draper, que chegou a ganhar oito games na sequência, portanto com quatro quebras de saque consecutivas.

Aquele primeiro set, aliás, merece ser bem estudado pelo time de Fonseca, que fez hoje um treino fechado em Paris. O brasileiro teve chances de quebra em três serviços diferentes e, num deles, obteve sucesso, logo ali no quarto game. Draper jogou com índice apenas razoável de primeiro saque, na média 55% em cada set, o que o deixa mais vulnerável a grandes devolvedores. E o carioca definitivamente é um tenista que coloca pressão no segundo serviço do oponente, com bolas profundas e em direções diversas e por vezes inesperadas. Nem sempre ele vai para a habitual bola no centro e no corpo do sacador e consegue desequilibrar pelas paralelas. Por isso, é muito provável que o britânico novamente fuja ao máximo de sacar no lado direito, exceto numa bola mais de risco e com placar favorável.

Outra arma muito bem utilizada por Draper foram as deixadinhas, variação aliás que muitos dos adversários do brasileiro investem e que tendem a funcionar ainda melhor no saibro. No entanto, quem viu a partida do britânico diante de Gael Monfils na noite de quinta-feira percebeu falhas de execução nas curtas e algumas dúvidas nas trocas mais longas lá da base. Por isso, encher a bola de topspin e tentar empurrar Draper para trás pode ser bom caminho. É verdade que ele se mexe muito bem e consegue winners dos dois lados, daí a importância de tirar a bola da cintura e diminuir os espaços para a definição dos pontos. Fonseca terá de adotar uma postura bem mista, entre fazer o britânico se mexer na base e ao mesmo tempo ser agressivo após o primeiro saque e na devolução do segundo.

Sobra competência para o carioca executar tantas variações. A questão será ter tranquilidade para encontrar os momentos certos e respeitar o poder de fogo do britânico de 23 anos, que talvez seja o tenista que tenha mais evoluído em 2025 no campo técnico e emocional. Acredito que a maciça maioria dos 10 mil espectadores da Suzanne Lenglen estarão ao lado do brasileiro, já que os franceses não são profundos admiradores dos britânicos. De qualquer forma, Draper é o favorito, pagando apenas a metade nas bolsas de apostas. E eu acho isso muito bom.

Resumão

– Alcaraz resolveu fazer lances de efeito quando tinha 2 sets a 0 e Dzumhur mostrou ótimo tênis, tendo saído com quebra no quarto set, dando enorme trabalho. O campeão encara o sacador canhoto Shelton, que perdeu todos os quatro sets, mesmo no piso duro.
– Musetti levou o esperado susto contra Navone, mas pouco a pouco se assentou. Tenta enfim chegar nas quartas de Paris contra Rune, que por muito pouco não parou em Halys, a última esperança francesa após desistência de Fils. Italiano perdeu as duas contra Rune, mas agora tem grande chance de vingança.
– Paul jogou seu 14ª set neste torneio e passou por grande batalha diante de Khachanov. Muito mais eficiente, Popyrin encerrou sequência de cinco primeiras rodadas seguidas em Roland Garros e ainda não perdeu set nesta edição, primeiro australiano a fazer isso desde Rosewall em 1968.
– Tiafoe ganhou o chato duelo americano com Korda e enfim faz oitavas em Paris. Tenho dúvidas se passará por Altmaier. Alemão é 66º do mundo, já tirou Fritz e tenta quartas inéditas de Slam.
– Swiatek não teve vida fácil contra Cristian e escapou de ir ao terceiro set para chegar a 24 vitórias seguidas no torneio. Fará agora interessantíssimo duelo com Rybakina, que vem do título em Estrasburgo e atropelou Ostapenko nesta sexta-feira sem dó, nem piedade. O histórico está 4-4. Uau.
– Sabalenka só perdeu 10 games em três jogos, uma máquina. Deve enfim ser testada por Anisimova, semi em 2019 quando era jovem revelação.
– Zheng tentará quartas inéditas em Roland Garros depois de enfrentar a sensação canadense Mboko, que até tirou dois serviços da campeã olímpica. Fará duelo de bolas pesadas contra Samsonova, que agora tem oitavas em três Slam diferentes.
– O calor e a umidade do começo da tarde incomodaram Paolini, mas a campeã de Roma dominou depois do primeiro set mais duro. Vai pegar Svitolina, que tenta quartas pela 5ª vez em Paris e ganhou da italiana de virada em Melbourne.
– Mais um ótimo dia para os duplistas brasileiros: a aniversariante Bia Haddad, agora 29, foi às oitavas com Siegemund, Matos surpreendeu os cabeças 8 ao lado de Bucsa após salvar 3 match-points e Stefani venceu fácil com argentino Gonzalez.