Atual campeão de Wimbledon, o espanhol Carlos Alcaraz é também agora duas vezes vencedor do tradicionalíssimo torneio do Queen’s Club, o que o torna no momento o tenista mais gabaritado sobre a sempre difícil e exigente quadra de grama. É bem verdade que não encarou qualquer grande nome na sua trajetória desta semana, mas novamente mostrou a capacidade especial de trocar o saibro pela grama com total eficiência.
O número 2 do mundo conquista assim seu terceiro título consecutivo em cinco finais sequencias, tendo vencido em Monte Carlo, ido à final de Barcelona e depois faturado Roma e Roland Garros antes de Londres. Ou seja, tem se mostrado com folga o melhor tenista do circuito, incluindo nessa trajetória duas vitórias seguidas sobre o líder Jannik Sinner. Já tem 2.240 pontos de vantagem no ranking da temporada, o que colocará brevemente o italiano sob pressão da perda do posto no ranking tradicional.
A semana em Queen’s não foi fácil para Carlitos. Até mesmo a estreia contra o lucky-loser Adam Walton foi apertada. Veio depois o sufoco inesperado diante de Jaume Munar, incluindo desvantagem no terceiro set, e só então se viu um espanhol mais solto. A vitória sobre o bom Jiri Lehecka neste domingo também exigiu total esforço. O tcheco aliás merece atenção em Wimbledon porque tem muitos recursos sobre a superfície, desde o saque até as bolas mais retas.
O que faz Alcaraz tão bom sobre a grama é uma saborosa mistura de leveza sobre o piso tão traiçoeiro com a habilidade de usar diferentes efeitos e explorar muito bem o jogo de rede. O saque segue sendo um ponto a se melhorar, mas ele inteligentemente utiliza o efeito aberto que tão bem combina com a grama. Sua leitura de devolução impressiona na grama e Lehecka testou isso o tempo inteiro.
Não há saída: Alcaraz chegará mais favorito do que nunca a Wimbledon. Com ou sem festa em Ibiza.
E segurem Bublik…
Alexander ‘Sacha’ Bublik por seu lado viveu mais uma grande semana e reconquistou o título de Halle de dois anos atrás, mas desta vez com duas façanhas consideráveis: venceu de virada o número 1 do mundo Sinner e enfim derrotou Daniil Medvedev na decisão deste domingo, sob olhares e aplausos de Boris Becker.
Foi mais um show do cazaque, que distribuiu seus 31 winners por diferentes golpes, desde o primeiro saque fulminante até o voleio sutil. E com direito a um lance notável quando encarou set-point no momento de maior pressão da segunda série, ao optar por fugir do backhand e fazer uma deixadinha de forehand na cruzada. Não é para qualquer um.
Para completar seu novo dia de festa e emoção, tentou conter as lágrimas e depois trocou chuva de champanhe com o adversário. O que afinal mudou tanto em Bublik, um tenista polêmico que chegou a considerar a aposentadoria pouco tempo atrás? Acho que tem sido uma postura mais séria e concentrada em quadra, ainda que não tenha perdido a essência de seu estilo, sempre marcado por descontração e imprevisibilidade. Está dando prazer vê-lo jogar.
Cabeças mudam para Wimbledon
A boa notícia para os favoritos de Wimbledon é que Bublik conseguiu lugar entre os cabeças de chave e assim o risco de algum dos grandes nomes cruzar com o perigosíssimo cazaque diminui para uma eventual terceira rodada. É bom lembrar que os cabeças entre 25 e 32, que será o caso de Bublik, enfrentam obrigatoriamente os cabeças de 1 a 8 na terceira fase.
Wimbledon aliás perdeu três cabeças na lista masculina: Casper Ruud, Arthur Fils e Sebastian Korda, todos contundidos, o que abriu vagas para Tallon Griekspoor, Matteo Berrettini e o próprio Bublik nessa faixa dos 25 a 32. E olha que o holandês e o italiano também são nomes a ser respeitados na grama.
Outra mudança importante de última hora foi Jack Draper. Ele parou na semi de Queen’s em dia muito nervoso, mas superou Taylor Fritz e Novak Djokovic para reassumir o quarto posto. Assim, é de se prever que Nole tenha de cruzar com Sinner, Alcaraz, Zverev ou Draper em eventuais quartas de Wimbledon.
O feminino, ao contrário, terá até agora todas as 32 mais bem colocadas no torneio. A novidade de última hora foi a chinesa Xinyu Wang, que com o vice em Berlim – onde tirou quatro das tops 20, incluindo Coco Gauff – subirá para o 32º lugar nesta segunda-feira.
E mais
– Canhota de muita intimidade com a grama, Marketa Vondrousova completou sua notável semana em Berlim com título. Ela já ganhou Wimbledon em 2023 e fez final em Roland Garros, porém o ombro tem sido problema constante.
– A tcheca ainda de 25 anos tirou Sabalenka na semi e as tops 20 Keys e Shnaider. Subirá para 73ª e assim estará solta na chave de Wimbledon.
– McCartney Kessler, responsável pela queda de Bia Haddad na estreia de Nottingham, levou o título. Prova de que é uma tenista cada vez mais consistente no circuito.
– Bia aliás entrou em Bad Homburg e sua sequência tem enormes desafios. Deve estrear contra a mesma Xinyu e, se passar, deve encarar Svitolina ou Mertens.
– A ótima notícia veio com o título de duplas em Nottingham, o primeiro ao lado de Siegemund. As duas sobem para o sexto lugar no ranking da temporada e definitivamente estão com chance de ir ao Finals.
– Fonseca por sua vez entrou direto em Eastbourne e pega nesta segunda-feira o habilidoso Zizou Bergs, 49º do ranking, finalista de ‘s-Hertogenbosch há uma semana, onde venceu Popyrin e Opelka.
– Saiu a chave masculina do quali de Wimbledon. Wild e Monteiro ficaram no mesmo quadrante, o que sugeriria um duelo direto pela vaga, mas os dois têm jogos bem difíceis no caminho. Meligeni se deu melhor, apesar de ter Hughes em eventual segunda rodada.
Acho melhor o goat enfrentar Alcaraz ou Sinner nas quartas do que em fases posteriores nessa altura da carreira. Quanto mais descansado, maiores as chances. No entanto, é o terceiro favorito em WB por causa da idade avançada.
Depois de Federer é o melhor sobre a grama que eu já vi!
Realmente o Bublik vem surpreendendo, mas vamos ver em Wimbledon se ele conseguirá fazer estragos. Espero que sim, um cara bacana. Agora se o Djokovic tiver trabalho pesado já nas quartas, terá que jogar demais pra levar o 25º Slam. Ainda acredito que esse Wimbledon será do Sinner. Aguardemos!
Uma curiosidade fora da pauta, realmente muito interessante.
Quem pensa que Rafael Nadal é o tenista responsável pelo maiores top spins da história, está equivocado.
Na década de 1970, foi colocada no mercado o equipamento denominado raquete “espaguete”, que proporcionava quantidade mais giros que os obtidos pelo rei do saibro.
Consta que jogadores de nível mais baixo venciam jogadores top que usavam a raquetes normais.
Tal tipo de equipamento foi proibido no final da década.
Há um certo engano nessa informação, Samuel. Na verdade, esse encordoamento duplo proporcionava mudanças repentinas na trajetória da bola e não giro maior.