Gauff domina final dos 100 erros e pode esquentar circuito

A espera pareceu longa. Vinte e um meses depois de erguer o troféu no US Open e comprovar sua condição de nova joia precoce do tênis feminino norte-americano, Coco Gauff voltou a erguer um troféu de Grand Slam, em piso totalmente diferente mas diante da mesma adversária, sinal evidente de sua capacidade de adaptação.

Mas se nos dermos conta que a campeã de Roland Garros tem ainda apenas 21 anos recém completados e se solidifica como número 2 do ranking, esse jejum fica menos significativo. Afinal, na finalzinho da última temporada, ela também foi campeã do Finals e nestas últimas semanas fez todas as finais importantes sobre o saibro europeu, tendo perdido para Aryna Sabalenka em Madri e para Jasmine Paolini em Roma.

O quanto Gauff pode colocar fogo no circuito feminino a partir de agora? É difícil dizer, porque sua distância para o número 1 é muito grande e ainda lhe faltam alguns atributos essenciais no seu jogo, como um saque menos irregular – terminou a campanha com 41 duplas faltas nos sete jogos realizados -, um forehand confiável e confiança para fazer transições mais seguras à rede.

De qualquer forma, é uma tenista extremamente veloz, o que lhe confere grande poder defensivo, e um título deste tamanho certamente irá contribuir para serenar muito mais a cabeça. Esses atributos aliás se mostraram essenciais na virada em cima de Sabalenka. Decidida a fazer a adversária bater sempre mais uma bola, a norte-americana induziu a número 1 a inacreditáveis 70 erros, ou seja, quase 60% dos 119 pontos que Gauff anotou na partida. Mas não foi só. A norte-americana também fez 30 winners – o que empatou com as 30 falhas – e portanto apenas 19 lances foram os chamados ‘erros forçados’. O duelo viu também 34 break points no total, sendo 21 deles permitido por Sabalenka e seu poderoso saque, que foi perdido nove vezes.

A final feminina se realizou em mais um dia de condições climáticas difíceis na Philippe Chatrier, onde o vento era forte e trocava por vezes de direção, o que certamente atrapalhou demais as tenistas e contribuiu para um nível técnico aquém do esperado. Mas novamente tem que se dar muito crédito a Gauff por ter optado pela tática correta nesse tipo de situação, ou seja, carregar a bola mais de spin e assim diminuir a margem de erro.

Na entrevista oficial, Gauff destacou a cabeça fria após perder um tiebreak em que teve chances e por isso o valor desse novo Slam está justamente no “reflexo de meu amadurecimento”, recordando do nervosismo gigante que sentiu na final de 2022 diante de Iga Swiatek. Ela diz que sempre se achou mais perto de ganhar Roland Garros do que qualquer outro Slam e não escondeu seu descontentamento ao saber que Sabalenka afirmou que, se Swiatek tivesse vencido a semi em cima dela, seria a campeã.

Aliás, a bielorrussa não anda lidando bem com as derrotas e esta pareceu pesar ainda mais sobre ela, talvez porque havia superado Iga na quinta-feira e se achado na obrigação de ganhar. Sabalenka reclamou do vento e de quiques irregulares da bola, considerou-se mentalmente instável e afirmou ter feito sua pior apresentação em meses, concluindo com um “ela ganhou não porque jogou um tênis incrível, mas porque eu errei demais”.

Sinner ou Alcaraz?

Muito antes do que se pensava, o dueto Jannik Sinner e Carlos Alcaraz começa a repetir o domínio que o Big 3 marcou em suas longas duas décadas de existência. Afinal, este já será o sétimo título garantido entre os dois nos oito últimos Grand Slam e nada menos que o sexto consecutivo. O espanhol ganhou todas as quatro finais que fez neste nível, em três pisos diferentes, Sinner nunca perdeu em três, todas na quadra dura.

Não resta dúvida que, apesar de ser um ano mais jovem, Alcaraz tem um currículo muito mais expressivo sobre o saibro, superfície em que Sinner acaba de alcançar suas duas primeiras grandes finais, de forma seguida, em Roma e Paris. O espanhol também tem 8 a 4 no histórico – 7 a 4 em nível ATP – e portanto a lógica coloca favoritismo para o número 2 do mundo, ainda que o italiano tenha liderado por 2 sets a 1 antes de cair no quinto set na semi do ano passado em Roland Garros.

Será um duelo entre as variações e improvisações de Alcaraz diante da solidez absoluta e frieza de Sinner. Tem tudo para ser uma final histórica.

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Marco Aurelio
Marco Aurelio
7 horas atrás

Gauff e Sinner!!! TOPsss

Marcos RJ
Marcos RJ
7 horas atrás

Sabalenka é uma tremenda jogadora, mas tem essa mania de dar declarações cafajestes quando perde jogo. Sem falar do hábito horrível de gritar toda vez que bate na bola.
Parafraseando o Romario… Sabalenka calada é uma poeta.

Paulo A.
Paulo A.
6 horas atrás
Responder para  Marcos RJ

De fato, ela foi muito deselegante na cerimônia de premiação. Mas o choro de derrotada é livre.

Fabio
Fabio
6 horas atrás
Responder para  Marcos RJ

Praticamente uma Cecília Meireles.

Maurício Luís Sabbag
Maurício Luís Sabbag
7 horas atrás

Gosto tanto da Gauff quanto da Sabalenka, como já disse antes. Agora… a bielorussa, mais até que seu jogo, precisa melhorar o mental. Frequentemente tem se mostrado uma má perdedora, como se pode ver na entrevista.
Como era esperado, disparou seus petardos acompanhados de gritos, enquanto que a Gauff foi se defendendo aos trancos e barrancos.
No saibro e nas condições descritas acima, deu certo pra jovem americana.
Fiquei feliz por ela.
E amanhã, pra mim tanto faz Sinner ou Alcaraz. Gosto do jogo dos dois e quem sai ganhando é o esporte com esses dois fora-de-série.

Última edição 7 horas atrás by Maurício Luís Sabbag
jmsa
jmsa
6 horas atrás

Em muito tempo eu não via uma final tão ruim tecnicamente como essa ,um dos piores jogos que uma final de grande slam já teve .
Aryna sabalenka ,a virtude do verdadeiro campeão é dar mérito ao adversário na derrota ,caiu um pouco no conceito de vários

SANDRO
SANDRO
6 horas atrás

Uma final de baixíssimo nivel técnico… Ambas jogaram mal, excesso de erros e de jogadas bisonhas e horrorosas… Infelizmente o emocional prevaleceu e a parte técnica ficou devendo e muito, porém, alguém teria que vencer este “Jogo dos 7 erros” e seria quem errasse menos na hora de decidir… Agora me resta torcer para a dupla Jasmine Paolini e Sara Errani no Domingo… Que diferença da Final do Masters Mil de Roma, na qual o jogo entre Jasmine Paolini e Coco Gauff foi muito mais interessante que esta Final errática de Roland Garros…

André Aguiar
André Aguiar
5 horas atrás

O vento existiu para as duas mas prejudicou mais a Sabalenka, cuja vantagem em relação às adversárias é a potência dos golpes mais retos, os quais normalmente lhe conferem os pontos necessários para vencer. O vento forte reduz muito essa vantagem, pois tira a precisão desses golpes e vai minando a cabeça. Daí os monumentais 70 erros não forçados, 40 a mais que a Gauff, diferença equivalente a 10 games. A bielorussa não sabe e acho que não aprenderá golpear com muito spin para se virar em dia de vento. Portanto mérito da Gauff que tem esse golpe e manteve a cabeça no lugar. Sabalenka foi infeliz na coletiva ao dizer que a Iga teria vencido hoje a Gauff. Era melhor ter dito que provavelmente ela (Sabalenka) teria perdido da polonesa na semifinal de quinta-feira se as condições climáticas fossem as mesmas de hoje (vento forte, sem chuva e portanto com o teto aberto).

Luiz Evandro
Luiz Evandro
5 horas atrás

Não entendo porque não fecham a quadra quando há muito vento, que só faz o nível do jogo cair muito. Deveria se pensar mais na qualidade do espetáculo e no torcedor que pagou caro.

André Aguiar
André Aguiar
5 horas atrás
Responder para  Luiz Evandro

Penso o mesmo. Acredito que há bons modelos de previsão de velocidade do vento que permitam estabelecer um limite acima do qual o teto seria fechado.

Felizmente, segundo o site Meteo France, a previsão é que o vento amanhã não seja tão forte como o de hoje, cujo pico ultrapassou os 60 km/h. Deve ficar na faixa de 20-40 km/h, mais forte no início e melhorando no decorrer do jogo. Ou seja, uma condição não ideal, mas melhor que a de hoje.

Última edição 5 horas atrás by André Aguiar
Groff
Groff
4 horas atrás

Palpitei Alcaraz em 4. Vamos ver como vai ser.

Marcelo Reis
Marcelo Reis
4 horas atrás

Coco Gauff em Roland Garros:

2021: perdeu para a campeã
2022: perdeu para a campeã
2023: perdeu para a campeã
2024: perdeu para a campeã
2025: CAMPEÃ

Bateu e bateu até conseguir!

Luciano
Luciano
4 horas atrás

Apesar do Sinner estar jogando muito, acho que o Alcaraz leva. Dalcim, na próxima final de Slam talvez vocês poderiam sortear uma raquete pra quem acertar o resultado, pra prestigiar a galera que está sempre participando aqui e contribuição pro site.

Ronildo
Ronildo
4 horas atrás

Parabéns à Gauff por mais este título tão difícil, sob condições muito ruins, principalmente por causa do excesso de vento ocasionando muitos erros não forçados na partida.
Quanto à Sinner e Alcaraz creio que disputarão por muito tempo a hegemonia do circuito. Pelo andar da carruagem, Alcaraz vence RG e W, enquanto Sinner fica com o US Open.

Marcelo Reis
Marcelo Reis
3 horas atrás

Se não me falha a memória, teremos 7 finais vencidas de GS amanhã em quadra. Todas de que participaram. Um deles perderá a sequência invicta.

Rob
Rob
3 horas atrás

Sabalenka é uma atleta transparente….estava frustrada com seu próprio jogo, admitiu que fez um péssimo jogo e não sei onde está o drama. A fala dela sobre a IGA sim…foi bem sem noção. A Gauff , a meu ver, não foi desmerecida…os 70 erros falam por si.

Maurício Luís Sabbag
Maurício Luís Sabbag
3 horas atrás

Apesar do vento e do nível técnico sofrível, a Gauff fez 2 pontos que valeram o ingresso. 1) devolução bombástica na paralela; e 2) defendeu um ‘smash’ da Sabalenka com o revés. Achei coisa de cinema.
Lembrei de um lance bem parecido na final de RG 1989. A favoritaça Steffi Graf fez um ‘smash’ no revés da espanhola Arantxa Sanchez, que adivinhou o lado e deu uma passada fantástica na paralela.
E Graf perdeu o jogo.

Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br
Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br
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