Felipe Priante
Apesar do crescimento exponencial das premiações no circuito de tênis nos últimos tempos, com os principais torneios pagando cada vez mais aos jogadores, a maior parte dos tenistas sofre para conseguir sobreviver da modalidade, o que levou Novak Djokovic a criticar as condições, lamentando que apenas 400 conseguem ganhar a vida com o tênis. Inspirado na fala do número 1 do mundo, TenisBrasil preparou uma série especial com alguns brasileiros que não estão nesta faixa descrita pelo sérvio e que lutam para seguir competindo mesmo com as adversidades financeiras.
O personagem do terceiro capítulo desta série é o experiente Fernando Romboli, que aos 34 anos de idade já passou por muitas coisas na carreira, chegou a ser 236 do mundo em simples, mas atualmente se dedica às duplas, em que está bem perto de voltar ao top 100, tendo como melhor marca o 88º lugar. Assim como o gaúcho Orlando Luz, ele destaca a importância dos torneios interclubes para ajudar nos gastos, mas revela uma forma diferente de conseguir dinheiro para bancar a carreira: vende passagens aéreas.
“Eu vendo passagens com pontos, abri uma agência. É um negócio que é muito simples para mim porque toda hora estamos vendo isso (passagens). Obviamente me consome um pouco, então tento balancear, mas sem um patrocínio não tem como. Foi uma coisa que foi crescendo e aproveito o meu tempo livre para usar da melhor forma possível”, conta Romboli, mostrando uma das fontes de renda alternativas que usa para se bancar.
A outra é bem mais conhecida dos tenistas desta faixa de ranking: a disputa dos interclubes. Ele disputou alguns no começo e no fim do ano, ajudando com um dinheiro a mais para a carreira, uma vez que as premiações não conseguem cobrir tudo. “No nível challenger, a premiação melhorou neste ano. Na verdade não é que melhorou, mas é que aumentou a quantidade de torneios 100 e isso dá uma ajudada, mesmo nos 75 a gente está ganhando mais. Nos challengers eles pagam o hotel, que é uma boa ajuda, quando você consegue ir longe na chave e não gastar com isso é algo que ajuda bastante”.
Romboli explica que para os duplistas em chalenger a semifinal é quase que um divisor entre lucro e prejuízo. “Bons resultados fazem a diferença, quando você faz semi, final, ou ganha em uma semana é uma diferença brutal. Quando chega na semi você já não perde dinheiro e se consegue um título, dá para ganhar uma gordurinha e compensar as semanas em que toma primeira rodada. Antes a primeira rodada era um papelão, pagava 110 euros, hoje em dia já pega pelo menos 200 e pouco, querendo ou não já é uma diária a mais de hotel”.
Porém, ter lucro com uma semifinal não é garantia, uma vez que outros fatores também entram na conta. “Depende muito de onde você está e de quanto gastou para chegar lá. Por exemplo, na América do Sul a gente gasta bastante de torneio para torneio com avião, mas na Europa, não”, afirma o experiente tenista, dizendo que nas viagens europeias é mais fácil encontrar passagens aéreas mais baratas, podendo também optar por ir de ônibus ou trem. “Mas abaixo da semi você fica no vermelho”, sentencia Romboli.
Tentando se virar conforme o possível, ele ressalta a importância de ganhos marginais durante a temporada. “A gente tenta se virar, às vezes ao invés de pegar um avião que custa 250 euros você pega um ônibus que custa 80. São sacrifícios que a gente faz. Às vezes tem um torneio que dá comida como o de Campinas, que sempre dá alimentação. Esses pequenos gastos fazem a diferença”.
Para cortar gastos, atualmente ele não tem uma base de treinamentos e opta por treinar sozinho mesmo. “É muito difícil você conseguir bancar um treinador e um preparador físico. Agora me mudei para Portugal para estar mais na Europa e poder ter menos gastos de viagem. Felipe Brandão, que também está morando lá, tem me ajudado com os treinos. Também tem as passagens que vendo e com as quais faço uma grana”, diz o atual parceiro de Marcelo Zormann no circuito.
Romboli tem bem claro que neste momento não está ganhando dinheiro, mas confia no seu potencial e vê seu esforço como um investimento. “Tenho mais uns seis anos e tenho certeza que, se eu me meter em 50, 40 do mundo dá para fazer um dinheiro bom. Quem não quer ficar viajando e jogando torneios grandes? Sinto que hoje eu jogo melhor do que anos atrás e isso que me mantém jogando, vejo que tenho potencial de chegar lá”.
Para ele, a dupla está muito parelha e por isso um detalhe pode fazer a diferença. “Você vê muita dupla que sai dos challengers para os ATP e ganha o torneio, só o que falta é a oportunidade de jogar no nível de quem joga ATP. A diferença é que os caras já estão lá e nós não. A grana lá é muito maior, então é questão de bater na porta e conseguir entrar”, explica o duplista.
Leia as outras reportagens da série:
Análise muito consciente
Ele fez 8 finais de challenger esse ano, e venceu duas, está bem perto do top 100. Ainda dá pra almejar disputar mais ATPs e aposentar numa condição financeira melhor
Eita vida dura! Só vale a pena mesmo para os superdotados de talento e/ou muito ricos…
É difícil. Só no futebol é que um pé de rato pode ganhar 30 mil por mês e não precisa bancar treinador, viagem, fisioterapia, médico, cirurgia, hotel, etc.
Bom tenista! Já ganhou Challenger em simples e não falta muito pra se manter no top 100 em duplas , talvez isso ocorra ano que vem!