De vendedor de paçoca à Austrália. Conheça a história de Luiz Calixto

O juvenil mineiro Luiz Calixto posa ao lado do ídolo Carlos Alcaraz (Foto: Reprodução/Instagram)

Diego Diegues
De Melbourne, especial para TenisBrasil

Mais do que vitórias ou derrotas, o tênis pode ser usado como oportunidade de vida. Luiz Calixto disputa na Austrália, o seu primeiro Grand Slam juvenil em cadeira de rodas. A derrota para o norte-americano Charlie Cooper, número dois do mundo, por 6/0 e 6/4, pouco chamou a atenção, numa história comovente fora de quadra.

O tenista de apenas 17 anos foi diagnosticado ainda jovem com pseudoartrose tibial (na sua perna direita), uma séria complicação de uma fratura óssea na qual o osso nunca se regenera. Calixto, que até meados do ano de 2022, vendia paçoca e balas nas ruas de Belo Horizonte, como forma de gerar fundos para sua família, foi descoberto por seu treinador, Leo Butija.

A história fica interessante, quando Butija recusa os produtos oferecidos por Calixto no semáforo, numa rua muito próxima ao clube, onde trabalhava. Na época, o jovem tenista, que nunca tinha ouvido falar sobre a modalidade, já usava prótese na sua perna direita, e acabou chamando a atenção por ter “sumido do retrovisor”. ”Eu ia de sinal em sinal, não parava. Minha família nunca teve boas condições financeiras. E o Leo me encontrou por acaso e quis saber da minha historia”, disse.

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Há mais de 15 anos trabalhando com tenistas cadeirantes, Butija tentou fazer o retorno no semáforo, inclusive perguntava aos moradores quem era aquele vendedor de paçocas, mas ninguém o reconhecia. “Duas semanas depois eu estava subindo a rua e ele descendo, mas não consegui parar o carro. Até que na terceira vez eu consegui falar com ele (Calixto). O levamos pra quadra, e a ideia era simplesmente tirar ele da rua, e colocá-lo para pegar bolinhas”.

Nem em seus maiores sonhos, Calixto imaginaria que um pouco mais de três anos depois, ele estaria na Austrália jogando um torneio juvenil de Grand Slam, pela primeira vez. “Não estava vendo uma oportunidade de jogar em alto rendimento, mas sim de me tirar da rua. Não sabia nada de tênis, e fui começando a jogar campeonatos, desenvolvendo meu game e evoluindo”, disse o tenista.

Butija ressaltou que nos primeiros meses, o jovem tenista chegou a desaparecer e que só aparecia no clube, aos sábados para treinar. “Durante uns 3 meses eu pensei que o tínhamos perdido. Ele era só mais um, não tínhamos nenhuma pretensão, mas ele começou a se destacar pela maneira que jogava e evoluiu muito num espaço curto de tempo” afirmou o treinador.

Principal cadeirante masculino juvenil do Brasil e número cinco do mundo, Calixto conta com apoio de alguns patrocinadores e da Confederação Brasileira de Tênis. O jovem atleta tem toda uma equipe ao seu redor, incluindo técnico, fisioterapeuta, nutricionista, preparador físico e psicológico. No auge dos seus 17 anos, o mineiro deve terminar o seu Ensino Médio neste ano e costuma treinar por três horas diárias no seu clube em Belo Horizonte.

Em seu último ano como juvenil, e se preparando para a transição dos torneios adultos de cadeira de rodas, o brasileiro admitiu que o seu principal objetivo é disputar os Jogos Paraolímpicos em Los Angeles, em 2028. “Espero ganhar a vida como jogador profissional cadeirante”, afirmou.

Na modalidade que disputa o seu primeiro Australian Open, Calixto, ainda com chances de sair vencedor, explicou que apenas os quatro melhores ranqueados são elegíveis para a disputa juvenil. O torneio é jogado num sistema chamado “round robin”, na qual todos os jogadores se enfrentam por pelo uma vez, e os dois melhores se enfrentam na final. Ele ainda enfrentará o belga Alexander Lantermann e o australiano Benjamin Wenzel. Lembrando que não existe uma premiação em dinheiro para competições abaixo dos 18 anos.

Ymanitu e Pena caem na estreia, Vitória busca recuperação

Também pela chave juvenil do tênis em cadeira de rodas, a mineira Vitória Miranda é a principal cabeça de chave, mas perdeu da norte-americana Sabina Czauz na estreia por duplo 6/2. Ela ainda enfrentará a belga Luna Gryp e a letã Ailina Mosko.

Já na divisão Quad, para os tenistas com deficiência em pelo menos um membro superior, Leandro Pena e Ymanitu Silva foram eliminados na estreia da chave principal. Vindo do quali, Pena perdeu para o chileno Francisco Cayulef por 7/6 (7-5) e 6/3. Já Ymanitu não teve um bom sorteio e caiu diante do holandês Sam Schroder, principal cabeça de chave e líder do ranking, por 6/0 e 6/1.

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JClaudio
JClaudio
3 horas atrás

O técnico Leonardo Oliveira, mais conhecido como Leo Butija, fez de Belo Horizonte, uma referência no tênis de cadeira de rodas.
Uma figura interessante para o esporte.
Ele é treinador da Vitória Miranda (o nome Vitória está ficando comum nos jovens tenistas brasileitos, Naná se chama Vitória, e temos a Victoria Barros) , “Bujica” tem um projeto consistente para o esporte (inclusive “encapado” pela CBT, que faz um bom trabalho aqui, dando condições a quem realmente faz a diferença, importante detectar essas pessoas, o investimento é pouco e os resultados são formidáveis).
Que o jovem Luiz Calixto tenha um futuro brilhante no esporte.

Paulo A.
Paulo A.
2 horas atrás
Responder para  JClaudio

Parabéns ao Leo e ao Luiz! Que outros garotos tenham a mesma oportunidade.

Elienki Hasamael
Elienki Hasamael
26 minutos atrás

Que linda história e que exemplo maravilhoso!

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