Com 17 anos recém-completados, a juvenil catarinense Carolina Bohrer é um dos nomes da nova geração do tênis brasileiro a se destacar em competições de base. No fim do ano passado, fez parte da equipe que chegou às quartas de final da Billie Jean King Cup Junior na Espanha, no melhor resultado do país na competição desde o quinto lugar em 2013. A tenista vive nos Estados Unidos desde 2018, acompanhando a família que se mudou por oportunidade de trabalho e recebeu propostas de universidades norte-americanas, mas tem como objetivo fazer uma boa transição para o tênis profissional.
Bohrer disputou nesta semana, em São Paulo, o Torneio Internacional Feminino de Tênis – Ano VII – Engie Open, competição de nível ITF W75 que acontece nas quadras de saibro do Clube Paineiras do Morumby. E tem planos de se manter em atividade nas quadras de saibro da América do Sul até o fim da temporada. Quando está no Brasil, tem uma base de treinamento com Marcelo Rebello em Santa Catarina, mas as viagens do circuito são feitas na companhia do pai, Leonardo Martins. Por isso, a busca por um treinador também é uma prioridade.
“Atualmente eu tenho duas bases, uma nos Estados Unidos e outra aqui no Brasil. Mas para o próximo ano, estou tentando encontrar um técnico para viajar comigo e me acompanhar nos torneios. Lá se joga muito mais na quadra dura e um tênis mais agressivo, que é como eu gosto”, disse Bohrer a TenisBrasil durante o ITF em São Paulo. “Acabei de fazer 17 e estou um ano adiantada na escola. Todas as universidades já fizeram propostas, mas quero jogar profissional. Tudo vai depender também do financeiro. A gente preceisa conseguir alguns patrocínios para viajar”.
Início do tênis durante reabilitação do avô
O início de Bohrer no tênis foi acompanhando o avô, Paulo, que estava em reabilitação depois de um episódio cardíaco e convidou a neta para um bate-bola. “O meu avô, Paulo Bohrer, sempre jogou tênis. Quando eu tinha oito anos para nove, ele teve um ataque cardíaco. Um dia ele me pediu para lançar umas bolas na quadra. Depois de uns 10 ou 15 minutos, me deu uma raquete para bater uma bola. Eu nunca tinha jogado tênis antes e bati uma esquerda na paralela. Todo mundo ficou chocado”.
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Além de ter atuado em competições juvenis, Bohrer debutou no ranking profissional em maio do ano passado, aos 15 anos, e recebeu convites para torneios profissionais, com destaque para os WTA 125 de Florianópolis e Montevidéu, onde pôde enfrentar tenistas do top 200. Ela também acompanhou a equipe adulta da Billie Jean King Cup no confronto contra a Alemanha, em São Paulo no mês de abril. “A minha experiência lá foi muito positiva. Elas me abraçaram muito e foi muito bom ver como elas treinam e o quanto elas trabalham de físico e na quadra. A Bia é uma é uma inspiração, ainda mais por ser canhota e ter um jogo agressivo. Foi bom também para que eu pudesse jogar duplas mais vezes. Naquela semana, eu treinei bastante com a Luísa Stefani e a Ingrid Martins. E depois, comecei a jogar melhor”.
Depois de ter alcançado o 862º lugar do ranking profissional aos 16 anos, em fevereiro, Bohrer perdeu algumas posições. Houve uma mudança no sistema de pontuação dos torneios menores ITF no início da temporada e ela não conseguiu defender integralmente os resultados conquistados no ano anterior. Por isso ocupa hoje o 1.045º lugar. Nas duplas, está na 974ª posição.
O presidente da CBT, Rafael Westrupp, falou durante o confronto entre Brasil e Coreia do Sul pela Billie Jean King Cup do ano passado, em Brasília, sobre o acompanhamento à jovem jogadora. “A Carol foi morar fora por questões profissionais da família, que se mudou para lá. Ela é de Florianópolis e nosso acompanhamento é por meio de ações como as semanas de treinamento ou torneios que realizamos no Brasil, como por exemplo no ITF W80 que fizemos em Brasília e ela ganhou convite e jogou muito bem. Aqui no Brasil, o ponto focal de treinamento é com o Marcelo Rebello, que também treina o Dudu Ribeiro. E nos Estados Unidos, um país que respira esse esporte, tem bons locais para treinar. Temos essa conversa direta, tanto que ela jogou o Sul-Americano de 16 anos e também a Billie Jean Junior”.
Confira a entrevista com Carolina Bohrer
Como o tênis surgiu na sua vida? Quem te influenciou a começar a jogar e quais jogadoras você admirava?
Eu tinha oito anos para nove quando o meu avô teve um ataque cardíaco. Foi ele quem me introduziu ao tênis. Um dia ele me pediu para lançar umas bolas para ele na quadra. Depois de uns 10 ou 15 minutos, me deu uma raquete para bater uma bola. Eu nunca tinha jogado tênis antes e bati uma esquerda na paralela. Todo mundo ficou chocado. Estava lá o Rafael Kuerten também, que ele perguntou ao meu avô se eu já estava jogando e dissemos que não. Quando comecei, admirava bastante o estilo de jogo da Serena Williams e do Roger Federer.
Conta um pouquinho mais da história do seu avô. Ele já jogava há bastante tempo? Está tudo bem com ele hoje?
O meu avô, Paulo Bohrer, sempre jogou tênis. Ele joga de continental e com bastante slice, que foi um estilo de jogo que eu odiava por algum tempo, mas jogava com ele. E esta tá tudo bem com ele. Mora até hoje em Santa Catarina.
Você foi muito jovem para os Estados Unidos, até por uma oportunidade de trabalho dos seus pais. Como foi essa mudança muito grande na sua vida e na sua rotina, não só no tênis, mas também por causa da língua, cultura e estudos diferentes?
Desde pequena eu já ia para os Estados Unidos pelo menos uma vez no ano. E quando comecei a jogar, disputava alguns torneios lá. Aí me mudei em dezembro de 2018. A adaptação não foi super difícil. Nos primeiros seis meses, o mais difícil era a língua. Mas as meninas com que eu treinava eu já conhecia dos torneios. O que foi bem diferente foi o estilo de jogo. Lá se joga um tênis mais agressivo, que é como eu gosto, se joga muito mais na quadra dura, e jogam mais torneios. Fazem menos treinos físicos e mais joguinhos.
Como é feito o acompanhamento da sua equipe atualmente? Tem a base nos EUA e uma em Santa Catarina quando está no Brasil?
Atualmente eu tenho duas bases, uma nos Estados Unidos e outra aqui no Brasil. Mas para o próximo ano, estou tentando encontrar um técnico para viajar comigo e me acompanhar nos torneios. Eu acabei de fazer 17 e estou um ano adiantada na escola. Então é uma baita pressão nesse último ano de aulas. Todas as universidades já fizeram propostas, mas quero jogar profissional e estou pensando em fazer universidade online enquanto estiver jogando. Tudo vai depender também do financeiro. A gente precisa conseguir alguns patrocínios para viajar.
Ano passado você se destacou na Billie Jean King Cup Jr na Espanha e ajudou o Brasil a chegar às quartas de final. E logo depois jogou o WTA 125 em Floripa. O que você tira de positivo daquelas semanas e como você sentiu a diferença de jogo para essas profissionais do top 200?
Foi uma ótima experiência no ano passado na Billie Jean King Cup Junior. Foi a primeira vez que viajei sem os meus pais [Andressa e Leonardo] para um torneio grande. Pude jogar contra juvenis muito boas do mundo inteiro e foi bom ver como elas jogam, independentemente de cada país. E logo depois, joguei o Australian Open Junior Series no Rio de Janeiro e consegui a vaga na Austrália.
Foi bem difícil porque a gente chegou de viagem no mesmo dia que eu ia estrear. Joguei meio mal nas primeiras rodadas, porque a gente saiu do saibro para a quadra rápida, sem treinar, sem nada, outro estilo de jogo, num calor muito grande, enquanto na Espanha estava frio. Mas me mostrou bastante a perseverança de lutar e tudo, porque foi mais isso do que jogo. Eu não estava bem tecnicamente naquela semana, fora de ritmo para a quadra dura, mas a perseverança de lutar foi ótima.
E logo depois, voltei para o saibro e joguei o WTA 125 de Floripa. Ali, eu estava jogando mais agressiva do que normalmente jogo e peguei a Martina Capurro Taborda, uma argentina que foi finalista do torneio. Ela é mais defensiva e é canhota. Eu amo jogar contra canhota. Fiz uma boa partida, saquei bem e ataquei. Acho que foi um ótimo jogo para mim, mesmo perdendo por 6/4 e 6/3. E depois joguei outro 125 em Montevidéu e peguei a Solana Sierra que tem mais o meu estilo de jogo. Ela está até aqui no torneio e gosta de jogar mais agressiva e eu fiquei feliz com o jeito que joguei.
Já nesse ano você pôde treinar com o time profissional da BJK Cup contra a Alemanha. Como foi essa experiência e o quanto o momento do tênis feminino no Brasil, com Bia, Luísa e Laura conseguindo bons resultados te motiva nessa fase da carreira? Você já tinha contato com elas antes?
Eu já conhecia algumas delas antes. A Ingrid eu conheci nos Estados Unidos, quando joguei um ITF de US$ 100 mil na Pensilvânia. A gente conversou e tudo mais. Depois, conheci a Carol Meligeni e a Laura Pigossi nos torneios aqui no Brasil, treinei com a Laura no 80 mil de Brasília e ela foi super legal comigo. Já a Bia e a Luísa eu conheci na Billie Jean King Cup contra a Alemanha e são todas super legais. A minha experiência lá foi muito positiva. Elas me abraçaram muito e foi muito bom ver como elas treinam e o quanto elas trabalham de físico e na quadra. A Bia é uma é uma inspiração para o tênis feminino brasileiro, ainda mais por ser canhota e ter um jogo agressivo.
Foi bom também para que eu pudesse jogar duplas mais vezes. Naquela semana, eu treinei bastante com a Luísa e a Ingrid. E depois, comecei a jogar melhor. Eu amei essa oportunidade e foi incrível.
Pela idade, você ainda teria mais um ano de juvenil, mas seu calendário é muito mais focado no profissional. E você até comentou que faltou um pouco de sorte nas chaves e que a mudança na pontuação dos ITFs acabou te atrapalhando de defender alguns resultados do ano passado. Como está o planejamento de calendário para o ano que vem? É de novo com foco no profissional ou podemos vê-la tentando vaga nos Slam do juvenil?
A ideia nossa agora é jogar o W75 e, dependendo das oportunidades ficar até o final do ano jogando e treinando na América do Sul. Já o meu foco para o ano que vem é jogar mais no profissional, mas talvez eu jogue alguns torneios juvenis para ajudar a minha irmã, Manuela Bohrer, a conseguir ranking na ITF. Ela acabou de fazer 14 anos. Mas como eu estou sempre viajando para os torneios, ela não tem tantas oportunidades, porque meu pai está comigo. Por isso é tão importante eu ter um treinador junto, porque aí eles podem viajar juntos. E eu posso jogar duplas com ela em alguns torneios para ela conseguir alguns pontos no ranking.
Mario Sérgio. O que esperar da Carol Bohrer….temos alguma esperança…ja tem 17 anos….?
Perspectivas são boas, principalmente pelos resultados na BJK Cup Junior, contra as melhores do mundo nos 16 anos. Ela tem um jogo mais voltado para a quadra dura e conseguiu as primeiras vitórias como profissional nesse piso. E mesmo no saibro, ela competiu bem contra jogadoras mais exprientes no fim do ano passado.
Parabéns Carol. Excelente reportagem, parabéns ao site.
É bom conhecer o histórico das jogadoras(es) , principalmente que estão iniciando, fica mais fácil saber. Tem futuro promissor também.
Bela reportagem Mario Sergio. Está chegando ao tenis profissional brasileiro uma geração promissora . A ascensão de Bia é uma grande referência pra essa garotada ver que é possível chegar lá .