Em tarde inspirada, Fonseca reafirma qualidades

Foto: Corinne Dubreuil / FFT

A excelente exibição do carioca João Fonseca em sua estreia na chave de simples do ATP 500 da Basileia, nesta terça-feira, cai como uma luva para acalmar espíritos que ainda não entenderam a qualidade de seu tênis, a precocidade de sua escalada e os desafios que precisam ser galgados todos dias, com paciência e esforço.

Houve algo perto de uma histeria quando Fonseca perdeu na primeira rodada de Bruxelas, uma semana atrás, como se Botic van de Zandschulp fosse um qualquer. Além de muitas vitórias expressivas e uma presença respeitável no top 25, qualquer um que entenda o mínimo de tênis reconhece que o holandês é um tenista de variados recursos e muito bem adaptado ao piso sintético.

Pior ainda, a derrota de então veio em dois sets bem apertados, ambos liderados por Fonseca, que por muito pouco não esticou a batalha. Teve falhas? Claro, principalmente com o saque a favor, mas nada que beirasse um desastre. E isso tudo pouco depois que ele havia vencido Stefanos Tsitsipas e Flavio Cobolli, outros dois nomes de peso no circuito. De herói da Copa Davis e estrela da Laver Cup, João virou para alguns um tenista de segunda linha.

Uma semana depois, vemos Fonseca confirmar todo seu potencial, ao derrubar o atual campeão da Basileia e o tenista de melhor saque do momento, o francês Giovanni Perricard, que no ano passado levantou o troféu sem ter o serviço quebrado. É bem provável que o peso de defender o título tenha recaído nos ombros do jovem francês, mas o fato é que ele foi engolido técnica e taticamente pelo adversário.

Essa vitória na verdade começou na véspera, quando acertadamente ele competiu nas duplas ao lado de Rafael Matos e, por detalhes, o dueto brasileiro não derrubou os multicampeões Mahut/Herbert. O que vimos nessa partida? Fonseca muito aplicado nas devoluções, fazendo o adversário jogar e firme com o serviço.

Ora, foram exatamente essas duas qualidades que barraram Perricard. Com muitas devoluções bloqueadas dos dois lados, o brasileiro tentou entrar em todos os pontos e foi muito bem sucedido. Raramente procurou a passada direta, conteve-se no exagero da força e do risco, exceto lá nos dois primeiros match-points, onde a ansiedade falou mais alto.

Ao mesmo tempo, cuidou com carinho de seu próprio serviço, que é a primeira coisa que um tenista precisa fazer quando enfrenta um super-sacador. Perricard não é lá um grande devolvedor e isso foi bem explorado. Para completar a clareza tática, Fonseca martelou o lado direito do francês sem piedade. Na hora da única quebra, lá do segundo set, foram quatro bolas consecutivas no forehand.

Depois de uma de suas melhores exibições da temporada, Fonseca agora reencontrará um adversário ainda mais gabaritado, o tcheco Jakub Mensik, esse sim com um arsenal bem completo, capaz de atacar, defender e contragolpear o tempo todo. O campeão de Miami em março já cruzou com João no Next Finals do ano passado, perdeu e sabe o que esperar.

Mensik no entanto não vive um grande momento. Andou perdendo para jogadores sólidos como Taylor Fritz e Alejandro Davidovich, mas também para nomes como Luca Nardi, Ugo Blanchet e Jesper de Jong. Aliás, na segunda-feira, levou um sufoco da ascendente estrela suíça Henry Bernet, 481º do ranking. É bem verdade que o tcheco não teve o serviço quebrado, mas jogou com índice baixo de primeiro saque e fez muito menos winners do que o garoto.

O duelo já acontece nesta quarta-feira, última partida da programação. Que Fonseca jogue sem qualquer responsabilidade, mas com a mesma aplicação.

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Luiz Fernando
Luiz Fernando
2 horas atrás

Que sequência para o nosso JF hein!!! É como sair da panela e cair na frigideira, o Mensik tende a ser um adversário ainda mais duro, pois o tcheco é mais completo do q o francês. Não nos esqueçamos que até hj Fonseca também vinha sem grandes atuações recentes, ou seja, no esporte as coisas podem mudar de um dia para o outro. Mas a vitória de hj deve ter enchido o cara de confiança, bola pra frente e pra vitória…

Marco Aurelio
Marco Aurelio
2 horas atrás

Matéria irrepreensível, Mestre. Que o nosso João Fonseca de hoje, terça-feira, esteja amanhã, quarta-feira, no jogo contra o perigoso, e jovem, Mensik.

Victório Benatti
Victório Benatti
2 horas atrás

Nosso João Fonseca ainda está na fase de altos e baixos.
De um resultado ruim a um resultado bom, assim ele vai.
Para provar que é um tenista de alto nível, ele precisa ser mais consistente, ou seja, acertar mais e errar menos.

Sérgio Ribeiro
Sérgio Ribeiro
18 minutos atrás
Responder para  Victório Benatti

Me aponte um , fora Rafa Nadal e Carlos Alcaraz, que aos 19 anos recém completados, apresentou tamanha consistência ??? . Na boa , este Papinho de” para provar” … já deu , meu caro . Abs !

Tom França
Tom França
2 horas atrás

Assino embaixo em todo o que pontuou, e acrescento dizendo que a longa parada entre a Laver Cup e Bruxelas, provoubque ele só precisa de ritmo. Mesmo perdendo em Bruxelas, voltou a jogar apenas suma semana depois, além de fazer um inédito e estratégico jogo de duplas no dia anterior, o que lhe deu mais subsídios pra desenvolver uma excelente partida contra o Perricard. Espero que mudem de pensamento, e não deixem mais o João tanto tempo fora de uma competição, principalmente depois de vir de grandes vitórias contra os gregos na Davis e o italiano, na Laver.

Ernesto
Ernesto
2 horas atrás

Dalcin, o que seria um “tenista de segunda linha”? Em termos de ranking, seria estar em qual posição? Fiquei bem curioso com essa expressão.

Luiz F.
Luiz F.
1 hora atrás

Leitura Obrigatória! Excelente!

Rtono
Rtono
1 hora atrás

Interessante ver que alguns comentaristas de sofá da semana passada (que diziam ter muita mídia pra cima do João e que ele não era tudo isso, esquecendo que ele tem apenas 19 anos) voltaram a dar as caras para dizer a mesma coisa do Perricard, desvalorizando esta excelente vitória. Devem estar torcendo por uma derrota do João contra o Mensik para copiar e colar os comentários da semana passada.

Giba
Giba
45 minutos atrás

O que mais me impressionou positivamente hoje foi como o João conseguiu executar bem o inteligente plano tático. Como bem frisou o Dalcim, todo mundo que acompanha o tênis sabe que o francês saca demais, mas tem muita dificuldade na devolução. Mas jogar contra um grande sacador exige muita paciência e concentração. Há games em que o cara encaixa 2, 3 aces e isso não dá ritmo para o adversário. João entrou com três objetivos: fazer o Perricard jogar sempre que possível – e isso exigiu dele conseguir devoluções mesmo que só para colocar a bola em jogo -, não bobear no saque e aproveitar qualquer chance de quebra, porque seriam poucas. Passou com louvor em todos os quesitos.

AKC
AKC
33 minutos atrás

Faz um tempo que queria ver esse confronto, importante o Fonseca ganhar destes caras mais novos que são seus rivais diretos, caras que provavelmente ele vai enfrentar diversas vezes na carreira.

Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br
Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br

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