Felipe Priante
Apesar do crescimento exponencial das premiações no circuito de tênis nos últimos tempos, com os principais torneios pagando cada vez mais aos jogadores, a maior parte dos tenistas sofre para conseguir sobreviver da modalidade, o que levou Novak Djokovic a criticar as condições, lamentando que apenas 400 conseguem ganhar a vida com o tênis. Inspirado na fala do número 1 do mundo, TenisBrasil preparou uma série especial com alguns brasileiros que não estão nesta faixa descrita pelo sérvio e que lutam para seguir competindo mesmo com as adversidades financeiras.
Abrindo a série, o primeiro a contar um pouco sobre os malabarismos que precisa fazer para seguir no circuito é o pernambucano José Pereira, que atualmente não figura sequer no top 500 da ATP e teve como melhor ranking a 232ª colocação, alcançada em setembro de 2015. Juvenil de destaque, chegando a ocupar o quarto lugar no ranking da ITF, o atleta de 32 anos não repetiu o desempenho no profissional, mas tem a seu favor o fato de ser irmão de Teliana Pereira e ter uma academia da família como base.
“Tenho a sorte de ter a academia e um nome, porque lá há pessoas com um poder aquisitivo alto que são apaixonadas pelo tênis e sabem da nossa história. Fui atrás, conversei com muita gente antes de conseguir os patrocínios. Tive a sorte de ter pessoas lá na academia que gostaram de mim, da minha história e do meu potencial e que me ajudam hoje”, afirma, destacando a importância de ter um patrocínio para ajudar a fechar as contas.
“Eu tenho ‘sorte’ por ter patrocinadores que me ajudam com minhas viagens, mas sou 5% desses atletas que estão fora dos 400 que têm patrocínio. É complicado porque nesses 400 (que Djokovic citou), ele coloca também os duplistas. Então é masculino e feminino, simples e duplas. Você tem que estar entre os 150 do mundo (para ganhar dinheiro com o tênis)”, observa Zé Pereira.
O pernambucano radicado em Curitiba explica que a premiação nos torneios abaixo dos challengers não é o único problema. “Neste ano, só joguei challenger, que paga hotel e tem uma premiação melhor, mas caso contrário, se tiver que jogar os futures, como quem está começando ou voltando de lesão, é muito difícil. A premiação é muito ruim, você gasta muito e as condições dos torneios são muito precárias para um tenista profissional. Tem torneio que é muito pior do que um juvenil. Acho que até a própria situação de jogo eles precisavam pensar em melhorar”.
Conseguir patrocinadores mesmo com ranking mais baixo é algo que Zé Pereira destaca como fundamental em sua carreira. “É difícil uma empresa patrocinar um jogador 400, 500 do mundo, a não ser que seja uma promessa. É complicado porque a conta nunca bate”, reforça o pernambucano.
“Eles teriam que dar uma reformulada na questão da premiação, não sei quais seriam os meios. Precisam olhar mais para quem tem ranking baixo, porque os de cima já estão garantidos. Sei que aqueles que estão lá em cima trabalharam duro para isso, mas com certeza poderiam ajudar quem está mais abaixo”, afirma Zé Pereira, cobrando uma atuação mais incisiva das entidades que comandam o tênis mundial.
Sem tempo para elaborar uma solução, o pernambucano defende melhor distribuição. “O tênis arrecada muito dinheiro, a ATP e a ITF não são entidades que têm um poder aquisitivo alto. Entra muito dinheiro no tênis, mas sem os jogadores não há tênis. Nós que fazemos o show de certa forma, eles deveriam pensar em reformular a questão de premiação. Vi que vão lançar um programa para cobrir os gastos de quem não chegar em um certo prize money (premiação oficial por jogo feito) no ano, mas precisam ir muito além disso”.
Parabéns pela iniciativa! Revelar que o mundo do tênis não é feito apenas pelos milionários e os tops do mundo.
Muito legal a iniciativa de mostrar esse outro lado do tênis. Ao invés de uma matéria curta e carente de informações, poderiam fazer um podcast. Acredito que estes tenistas teriam muitas histórias a contar.
Complementando meu comentário acima. Seria muito legal colocar o Saretta para conversar com estes tenistas em um podcast.
achei estranho pq ele fala que tem patrocinadores mas nao fala quem eles sao. imagino que todo patrocinador queira publicidade, entao pq nao dizer quem sao?
Pelo visto, existem ativos muito mal alocados por investidores Brasil afora. Melhor do que apostar no Teliano, seria aplicar em um CDB 90% do CDI ou ações da Magalu.
Ótima ideia, legal a gente conhecer essas histórias. Por outro lado, até entendo essa disparidade. As pessoas querem assistir os grandes torneios, e até alguns ATP 500 ou 250 tem pouco apelo junto ao público.
É cruel admitir isso, mas talvez seja um esporte para sustento de uns 400 atletas mesmo.
A iniciativa é super boa, falar dos malabarismos financeiros. Eu mesmo tenho muita curiosidade mas achei q essa primeira entrevista ficou super pobre. Não sei se não conseguiram extrair nada dele ou ele não tem nada pra dizer mesmo. Resumo da entrevista: “não sei muito bem pq eu tenho um nome então tenho patrocínio e também só joguei challenger apesar de não ter ranking pra jogar challenger, mas acho q deveria ser reformulada a questão da premiação”
Excelente artigo. Acho que um programa para cobrir os gastos dos 1000 do mundo seria uma das soluções.