SP Open apresenta novos nomes e está de olho no futuro

Tiantsoa Rajaonah (Foto: Fotojump)

A edição inaugural do SP Open chegou ao fim no último domingo, apresentando novos nomes e de olho no futuro. A semana na capital paulista foi uma celebração do momento do tênis feminino no Brasil, que cresceu bastante nos últimos anos, especialmente depois da medalha de Laura Pigossi e Luísa Stefani nos Jogos Olímpicos de Tóquio, passando pela consolidação de Bia Haddad Maia com três temporadas seguidas entre as 20 melhores do mundo e boas campanhas em Grand Slam. O evento marcou a volta do circuito da WTA ao Brasil depois de nove anos e à capital paulista, cidade natal da maioria das brasileiras no torneio, depois de duas décadas e meia.

Principal tenista do Brasil na atualidade, Bia Haddad Maia precisou utilizar uma das duas exceções no calendário da WTA para jogar um 250. Ela teve que abrir mão da tentativa de defender pontos do vice-campeonato de Cleveland do ano passado e poderia até mesmo nem jogar o 500 de Seul, torneio do qual é a atual campeã e já estreia na terça, em caso de uma boa campanha em São Paulo. Para uma tenista já estabelecida, foi o momento de pensar no coletivo. A chance de jogar em casa, fortalecer o evento e inspirar as novas gerações foi prioridade em relação ao calendário individual.

Bia não teve o resultado que ela e o público brasileiro esperavam e reconhece que não fez uma boa partida depois de ser eliminada nas quartas de final pela mexicana Renata Zarazua. Ela também já havia afirmado ao longo da temporada que existem fatores pessoais que estão interferindo em seu desempenho esportivo. Emocionalmente, a tenista já se expressou repetidas vezes ao longo do ano sobre uma “luta interna”, dela consigo mesma, e sobre “existirem duas Bias” e que quando esse lado mais emotivo toma conta, fica mais passiva e o corpo trava. É algo que ela identificou, consegue falar abertamente e trabalhar nisso.

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Com Bia ciente dessas dificuldades, o desafio agora é tentar trazer sensações melhores para a quadra de jogo. O que nos resta neste momento é torcer para que o carinho e o respeito recebido por ela dos fãs ao longo da semana em São Paulo represente um necessário ganho de confiança para a reta final do ano. Bia é capaz de fazer muito mais. Ela e sua equipe têm plena consciência disso, mais do que qualquer um de nós.

Aposta em jogadoras jovens e campeã inédita no circuito
Alexandra Eala (Foto: Fotojump)

Com as limitações de calendário impostas pela WTA – Um torneio 250 concomitante com um 500 não pode ter uma top 10 inscrita. E mesmo as top 30 só podem disputar dois por ano – e uma posição difícil no calendário também, entre um Grand Slam e o início da temporada asiática, além de concorrer com um WTA 500 também esvaziado em Guadalajara, a solução para o torneio foi apostar em jogadoras jovens. Um exemplo é a filipina Alexandra Eala, que ganhou o carinho do público brasileiro e venceu dois jogos. O desgaste acumulado depois de ter conquistado um torneio da série 125 na semana anterior acabou pesando e a filipina sentiu um desconforto na coxa direita durante sua partida das quartas.

A campeã em São Paulo foi a francesa Tiantsoa Rakotomanga Rajaonah, ou apenas Sarah, como prefere ser chamada. A canhota de 19 anos conquistou seu primeiro WTA e disputava a chave principal de um torneio apenas pela terceira vez na carreira. Com um jogo que misturava a agressividade, especialmente desde as devoluções e variações com lobs e curtinhas, ela salvou três match-points na estreia contra a mexicana Ana Sofia Sanchez e não perdeu mais sets no torneio.

Apesar de ser um pouco mais tímida nas primeiras entrevistas, a francesa se soltou um pouco mais nas fases finais do torneio e contou com muito apoio dos torcedores brasileiros no fim de semana. O título também serviu para homenagear a avó da tenista, que fez aniversário no fim de semana.

Vice-campeã, a indonésia Janice Tjen fez o melhor resultado de seu país na WTA desde 2002, quando Angelique Widjaja foi campeã em Pattaya. Tjen, de 23 anos, era apenas a 413ª do ranking no início da temporada e está perto do top 100. Foi ótimo também poder conversar com Francesca Jones, recém-chegada ao top 100 aos 24 anos e semifinalista do torneio. A trajetória da britânica é ainda mais impressionante por conta de sua rara condição genética, com quatro dedos em cada mão, e que chegou a ouvir dos médicos que não conseguiria jogar tênis. E embora isso não afete seu estilo de jogo, a britânica explica que foi preciso fazer restrições no calendário e rotina de treinamento para se preservar fisicamente. Ela também atingiu seu melhor ranking após o torneio.

História e o futuro do tênis brasileiro

A nova geração do tênis feminino brasileiro se fez presente. Nauhany Silva e Victória Barros fizeram suas estreias no circuito da WTA aos 15 anos e Naná venceu seu primeiro jogo na elite do circuito, diante de Carol Meligeni. Elas também jogaram juntas nas duplas e planejam repetir a parceria. Victória, que treina na França, já confirmou presença nos WTA 125 do Rio de Janeiro e Florianópolis, além de jogar dois eventos grandes do circuito juvenil, no México e nos Estados Unidos no fim do ano. Naná também jogará em Santa Catarina e inclui em seu calendário dois torneios profissionais da ITF em São Paulo.

Victória Barros e Nauhany Silva (Foto: Fotojump)

A gaúcha Pietra Rivoli, de 17 anos, disputou o quali e vai para seu último ano de juvenil em 2026 pensando na transição e focada em torneios profissionais. Já a paulista Ana Candiotto, de 21 anos, aproveitou o convite oferecido para a chave principal para vencer um jogo na WTA e saltar no ranking. Uma vitória que pode abrir portas, especialmente para uma tenista que ocupa uma faixa de ranking em que a viabilidade financeira do circuito é bem difícil.

Jogadoras que fizeram história no tênis brasileiro também foram lembradas e homenageadas. A começar pela maior de todas, Maria Esther Bueno, que dá nome à quadra principal e tinha uma estátua no Parque Villa-Lobos, um ponto bastante concorrido para quem tirava fotos durante o torneio. Uma cerimônia na última terça-feira valorizou as top 100, Niege Dias, Teliana Pereira, Patrícia Medrado, Dadá Vieira, Gisele Miró, Vanessa Menga e Paula Gonçalves. Já na sexta, Sofia de Abreu, primeira campeã brasileira de Tênis foi lembrada pelo Memorial do Tênis Brasileiro.

Brasileiras do presente
Foto: Luiz Doro Neto

Entre as brasileiras mais experientes, Laura Pigossi mais uma vez aproveitou o ambiente criado pela torcida para conseguir bons resultados. A paulistana de 31 anos avançou uma rodada em simples, antes de ser superada por Bia Haddad nas oitavas e sair com a sensação de que, por poucos pontos, poderia ter mudado completamente a partida. E nas duplas, foi vice-campeã ao lado de Ingrid Martins para chegar ao top 100 da modalidade.

A parceira carioca reconhece que teve um início de ano difícil, além de ter passado por um grande susto, quando sofreu um acidente de carro na Itália em maio. Nos últimos meses, tem conseguido melhores resultados com a norte-americana Quinn Gleason e tem as portas abertas para jogar novamente com Laura no futuro, conforme o calendário de simples permitir.

Foi bom também ver Carol Meligeni de volta às quadras para seu primeiro torneio desde o falecimento do pai, Flávio Rodrigues Alves, vítima de um AVC em agosto. Superada por Naná ainda na rodada de estreia, a atual número 3 do Brasil estava bastante emotiva quando saiu de quadra, mas ficou feliz por ter conseguido competir. Respeitosamente e de forma muito correta, reconheceu os méritos de jovem algoz. No mesmo dia, reencontrei a campineira na saída do Villa Lobos e conversamos um pouquinho sobre livros. A tenista tem compartilhado algumas de suas leituras com os seguidores e se mostra fã da literatura brasileira contemporânea com nomes como Socorro Acioli (A Cabeça do Santo e Oração para desaparecer) e Mariana Salomão Carrara (Se Deus me chamar não vou), além de dividir atenções com a Metamorfose de Franz Kafka. Ótimas escolhas.

O momento de maior emoção foi a final de duplas com três brasileiras em quadra e o título de Luísa Stefani, ao lado da húngara Timea Babos. Medalhista olímpica em Tóquio e campeã de duplas mistas no Australian Open, Stefani valorizou muito a conquista em casa e o impacto que o torneio tem para as novas gerações. “Esta semana aqui é muito mais do que um título. Isso aqui é muito grande, é um passo gigantesco no caminho certo do futuro do nosso tênis feminino brasileiro. Olha o que a gente fez no Parque Villa Lobos essa semana. É um momento muito especial, e estou super feliz de fazer parte dessa história”.

Desafios para o futuro
Quadra Central do SP Open (Foto: Fotojump)

Como é normal para qualquer evento em primeiro ano, o torneio tem desafios para o futuro. Acesso e mobilidade podem ser melhorados na entrada e saída do portão 6 do parque, localizado entre duas estações da Linha Esmeralda da CPTM (Cidade Universitária e Villa Lobos – Jaguaré) e também no entorno das quadras. Em especial a quadra 1, que apresentou filas e torcedores em pé durante os jogos das brasileiras. Lugares vazios eram vistos, apesar da venda total de ingressos, o que incomoda quem assiste pela TV e gostaria de estar no torneio. Ingressos de cortesia foram parar nas mãos de cambistas, que circulavam livremente e dentro dos portões do parque.

O diretor do torneio Luiz Carvalho fala em aumentar a capacidade das quadras e até mesmo mudar a data do torneio para julho, servindo de preparação para o US Open e ficando mais atrativo para trazer nomes de peso. Existe um contrato com a WTA até 2027, o retorno por parte das jogadoras foi positivo e o torneio pensa em crescer. E a semana no Villa Lobos mostrou que é possível, com os devidos ajustes e ouvindo o retorno daqueles que estiveram dentro e fora das quadras.

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Paulo A.
Paulo A.
3 meses atrás

Lui e sua valorosa equipe estão de parabéns! Qual seria o problema pessoal que tanto tem atrapalhado a Bia nas quadras?

Vanderlei Festi
Vanderlei Festi
3 meses atrás

Esqueceu de citar a brasiliense Luiza Fullana, que fez uma ótima participação. Acredito muito nesta tenista.

Luis
Luis
3 meses atrás

Me desculpe, mas Bia não pensou só no coletivo. Ela com certeza tinha compromissos com patrocinadores que exigiam sua presença. Não estou criticando Bia; isso é normal. Só que seu texto fica parecendo que ela jogou só por patriotismo ou algo parecido, quase sacrificando seu calendário pessoal

Ronildo
Ronildo
3 meses atrás
Responder para  Luis

E a Bia acertou muito agindo assim. Tanto que depois que ela foi derrotada os preços dos ingressos caíram consideravelmente. Tomara que o evento tenha sido financeiramente bem lucrativo para ela.

Walter
Walter
3 meses atrás

Torneio somente para patrocinadores e mídia. Público ficou em último plano. Não é a toa que o organizador é o mesmo do Rio Open, que tem os mesmos problemas

Ronildo
Ronildo
3 meses atrás
Responder para  Walter

Era melhor que não fosse realizado o torneio então? Porque houveram muitos anos sem torneio de primeiro nível da WTA no Brasil. Fica evidente que o organizador tem que tomar todas as precauções para não sair com prejuízo financeiro.

Francisco
Francisco
3 meses atrás

Mário, sua coluna é fantástica e muito agradável de ler. Parabéns por conseguir passar com tanta fluidez pelos principais tópicos noticiados sobre o torneio.

Wilson Lima
Wilson Lima
2 meses atrás

Esse problema com ingressos é irritante e repuguinante. No Riopen basta ficar 10 minutos no portão de entrada, para ver os funcionários da Claro e outros patrocinadores, entregando ostensivamente ingressos de cortesia para os campistas ASSALTAREM os torcedores. Uma vergonha. Já fui 8 anos no torneio, desisti, não sou trouxa para ser assaltado na cara da polícia e na falta de escrúpulos dos organizadores e patrocinadores.

Jornalista de TenisBrasil e frequentador dee Challengers e Futures. Já trabalhou para CBT, Revista Tênis e redações do Terra Magazine e Gazeta Esportiva. Neste blog, fala sobre o circuito juvenil e promessas do tênis nacional e internacional.
Jornalista de TenisBrasil e frequentador dee Challengers e Futures. Já trabalhou para CBT, Revista Tênis e redações do Terra Magazine e Gazeta Esportiva. Neste blog, fala sobre o circuito juvenil e promessas do tênis nacional e internacional.

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