Que os brasileiros estão espalhados pelo mundo e sempre que podem acompanham os representantes nacionais pelo circuito, principalmente nos maiores eventos como os Masters 1000 e os Grand Slam, todos que costumam assistir às partidas já têm uma noção, mas confesso que fiquei impressionado com a presença massiva de brasileiros no complexo de Roland Garros nos Jogos de Paris. E não fui só eu, até mesmo os tenistas ficaram positivamente surpresos.
“Não esperava tantos brasileiros na quadra assistindo o tênis com tantos esportes acontecendo ao mesmo tempo”, disse o paranaense Thiago Wild após a vitória nas duplas com o cearense Thiago Monteiro, outro que também enalteceu a torcida. O número de pessoas e a força do apoio foi unanimidade, as paulistas Beatriz Haddad Maia, Luisa Stefani e Laura Pigossi seguiram na mesma linha e destacaram o público nacional.
Todos os jogos envolvendo tenistas do Brasil estavam cheios ou lotados, seja em simples ou nas duplas, talvez a única exceção seja a estreia de Pigossi, que aconteceu ao mesmo tempo da estreia de Bia, o que dividiu o público, que acabou indo mais para ver a número 1 do país e empurrou de igual para igual a canhota paulista contra uma tenista da casa.
Por falar em torcida, uma coisa muito interessante de acompanhar quando se está nas quadras externas, onde todos os brasileiros jogaram até então, é o som vindo de quadras ao lado ou até dos grandes estádios, podendo até entender o ritmo do que se passa.
Hoje, por exemplo, ao mesmo tempo que Bia jogava, na Philippe Chatrier, que era perto da quadra da número 1 do Brasil e 22 do mundo, Novak Djokovic e Rafael Nadal faziam um clássico. Mesmo sem olhar o placar dava para notar que o espanhol não estava bem, pois havia muito silêncio para uma partida tão importante. O barulho veio justamente na reação no segundo set, mas foi muito menor a diversos outros jogos que já aconteceram até então no torneio.
Rolou em Roland Garros
– uma rara substituição de juiz de cadeira aconteceu hoje na partida de simples de Bia, no meio do segundo set; segundo a organização o árbitro teve uma importante questão particular (sem citar qual era) e precisou se retirar.
– por falar mais uma vez em Bia, uma coisa que me deixou positivamente surpreso foi a diferença dela de uma partida para a outra, meio perdida e abatida na derrota em simples e bem mais enérgica e vibrante nas duplas, algo que ela comentou na entrevista na zona mista.
– abatido estava um pouco Rafael Nadal, que também na zona mista chegou de mansinho e falou bem baixo sobre a derrota para Djokovic, mostrando um certo desânimo com seu nível de tênis atual, bem abaixo do comum, algo que ele mesmo reconheceu e lamentou.
– para quem fica curioso em saber onde vão parar aquelas bolinhas que os jogadores acabam jogando para fora da quadra quando erram feio, ou elas vão para uma área vazia ou caem no público, podendo acertar a cabeça de algum desavisado que está apenas de passagem, como incrivelmente consegui presenciar hoje, mas ficou apenas o susto.
– o sucesso do tênis nacional não apenas tem rendido uma torcida de peso em Roland Garros, mas também atenção bem maior da imprensa, com presença constante de vários veículos nas partidas dos brasileiros desde as estreias, algo bem diferente de Tóquio.
Como pesquisador intercultural, vivendo fora do Brasil e pela minha própria experiência, ocorrem dois fenômenos bem marcantes no momento: a situação politico-social nacional e o fato do imigrante longe de sua pátria. Juntando estes dois elementos, o esporte acaba sendo, se não a única, umas das fontes de identidade e reconhecimento de nossa cultura e sociedade. Nem mesmo o futebol consegue isso, pois as Olimpíadas estão todos os melhores esportistas nacionais. Então, é uma oportunidade de nos “re”conhecermos a nós mesmos, dentro do processo de viver no Exterior.