O tênis feminino no Brasil vive um momento de maior exposição e visibilidade, especialmente após a medalha olímpica de Luísa Stefani e Laura Pigossi em Tóquio e das conquistas de Beatriz Haddad Maia, atual 21ª do mundo, na elite do circuito nas últimas temporadas. Há pouco mais de um ano, o Ginásio Ibirapuera, em São Paulo, recebeu um quase 15 mil pessoas nos dois dias de confronto entre Brasil e Alemanha pela Billie Jean King Cup. E a capital paulista voltará a receber em setembro um torneio da WTA depois de 25 anos.
O cenário é inspirador para a formação de novas jogadoras, que buscam espaço no circuito. Mas para quem está no torneios menores ainda uma limitação financeira. As tenistas procuram meios de viabilizar suas carreiras, às vezes com diferentes alternativas, para manter o sonho do tênis profissional.
“O tênis é um esporte muito caro e eu brinco que pago para trabalhar. Acaba que o prize money nesse nível não paga viagem, não paga hotel, não paga nada… E o custo é muito alto de quem está realmente investindo nisso”, comentou a brasiliense Luiza Fullana, de 24 anos e atual 546ª da WTA, que conquistou seus dois primeiros títulos profissionais no ano passado. “Muitas vezes, temos que viajar sozinhas, porque não conseguimos bancar os custos dos treinadores. O mais importante é ter o amor pelo esporte que as coisas vão chegando”.
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De volta ao Brasil depois de um período de treinos na Espanha desde o fim do ano passado, Fullana disputa nesta semana o Brasil Tennis Classic, torneio ITF W35 realizado no Esporte Clube Pinheiros, em São Paulo. E para economizar, hospedou-se na casa de outra jogadora, a jovem paulista Helena Bueno. Curiosamente, elas chegaram a se enfrentar na primeira rodada. “Ela é super minha amiga, estou hospedada na casa dela aqui”, comentou a brasiliense. Uma das maneiras que a gente tem de economizar é ficando em casa de amigos ou jogando interclubes”.
Interclubes, torneios de grana, rifas e aulas de tênis
A opção por torneios interclubes, no Brasil ou no exterior, é bastante comentada pelas jogadoras. E isso as obriga a fazer escolhas no calendário, como deixar de disputar torneios que valem pontos no ranking para arrecadar um pouco mais de dinheiro. A paulista Jennifer Rosa Dourado, natural de São Carlos, tenta equilibrar os dois formatos de competição. Além disso, arrecada dinheiro com rifas, vaquinhas, produção de conteúdo e parcerias nas redes sociais.
“Há alguns anos, eu disputei Jogos Abertos e Regionais, quando tive uma boa proposta financeira. Este ano, vou jogar um interclubes em Maringá. Eles vão me pagar a viagem e eu vou receber para jogar por eles. Isso também ajuda. Infelizmente vai cair em duas semanas de ITF em Santiago, mas o dinheiro que eu receber me ajuda a jogar mais semanas por ano. Tem que ter um equilíbrio”, explicou a jogadora de 24 anos e que ficou sete meses afastada no início da temporada, depois de ter sofrido um acidente e passado por cirurgias na mão. “Aumentou muito o número de torneios aqui na América do Sul. E jogar em casa é maravilhoso, porque você não tem que se adaptar tanto ao clima e também pelo fator financeiro. Fica muito mais fácil custear todos os torneios”.
Jennifer é treinada pela mãe, Aureliana, que tem uma escola de tênis em sua cidade natal. Elas notam que há maior interesse do público feminino pelo tênis nos últimos anos. “Até uns dois anos atrás, eu diria que entre 85% e 90% dos nossos alunos eram homens. Hoje em dia, já é 45% do público feminino vindo, porque está caindo esse esteriótipo de que o tênis é muito difícil e ninguém consegue. E quando começa a ter mais visibilidade, as pessoas tentam fazer. E isso fortalece o tênis no Brasil”, comentou. “Na minha época de juvenil, a gente tinha que ligar para as meninas, senão não dava chave. E hoje os torneios estão com mil inscritos nos juvenis. Então, é bem legal ver como esse número vem aumentando. Tem mais pessoas querendo jogar e vendo que é possível”.

Quem também ocupa algumas semanas do calendário com interclubes é Ana Candiotto, paulista de 21 anos e 565ª do ranking, que costuma aproveitar os períodos de torneios profissionais na Europa para jogar por um clube na Itália. O dinheiro que recebe, investe na própria equipe para poder viajar com treinador e preparador físico em mais semanas da temporada. “Faz pelo menos três anos que eu jogo interclubes na Itália. Todo ano passo um mês e meio ou dois meses na Europa e fico jogando interclubes, porque o nível é bem alto. E agora eu também vou jogar um interclubes aqui no Brasil. E com o dinheiro, eu consigo investir em treinadores e na equipe. Tudo o que a gente recebe, a gente acaba investindo para ir crescendo no ranking”.
Atleta da Rede Tênis, Candiotto conquistou seu primeiro título profissional no fim do ano passado em Mogi das Cruzes e está apenas duas posições abaixo de seu melhor ranking. “Estou conseguindo viajar muito mais com minha equipe agora. No meu primeiro ano de profissional, eu cheguei a viajar por 36 semanas, mas apenas duas com o treinador. Agora eu consigo estar com o técnico [Alan Bachiega, da Rede Tênis] e preparador físico [Leandro Lobato], o que faz toda a diferença”.
Durante a semana no Pinheiros, Candiotto teve a companhia da mãe, Débora, e de outros amigos e familiares que estiveram no clube. “Fiquei três semanas treinando depois que voltei da Europa e estou muito contente por jogar a 15 minutos de casa, com toda a minha equipe presente, família, minha avó, minhas amigas… Isso é um privilégio”, completou.
Estudos no Brasil e no exterior

Disputar torneios com premiação em dinheiro, mas sem pontos no ranking, também foi uma solução encontrada pela paulista Letícia Vidal. “Hoje em dia, eu tô buscando mais torneios de grana, porque se manter no circuito é bem complicado sem patrocínio. Tudo bem que não tem tanto tempo, porque a gente quer focar no profissional. É nas brechas que a gente consegue encaixar para ter essas oportunidades de ganhar dinheiro”.
Aos 28 anos, Letícia recomeça sua trajetória no esporte depois de um longo afastamento. Depois de ter se destacado em competições juvenis no início da carreira, decidiu se retirar do tênis sentindo-se mentalmente muito desgastada. Formou-se em administração na Universidade Paulista, trabalhou no setor corporativo, mas aos poucos reencontrou o amor pelo esporte com os feitos de suas antigas colegas de circuito.
“Eu joguei dos meus 8 aos 17 anos, fui super bem no juvenil, joguei os Grand Slam, Sul-Americanos e Mundiais. Mas na minha época o tênis era completamente diferente. Não se pensava muito em faculdade, não tínhamos jogadoras brasileiras no top 100, a última tinha sido a Teliana. Não era igual agora com a Bia sendo 20 do mundo e a dupla sendo muito mais bem vista com a Stefani e criei muitas dúvidas na minha cabeça: ‘Por que eu vou chegar, se não tem ninguém mais chegando no top 100?’, isso me fez questionar muito”, relatou a paulista, que hoje treina na Tennis Route no Rio de Janeiro.
“A Stefani jogava o circuito juvenil comigo. A Laura e a Bia também eram da minha época, só um pouco mais velhas. E nas Olimpíadas achei incrível vê-las ganhando, além da Carol chegando ao top 200 e meninas de fora, que eu ganhava, chegando lá também. E quando eu parei, eu simplesmente parei e sumi. Ficou algo inacabado para mim, mas eu precisava me dar uma segunda chance. Não estava fazendo sentido a vida sem o tênis para mim”.

(Foto: João Pires/Fotojump)
Luiza Fullana também optou pelo caminho dos estudos, mas pelo tênis universitário nos Estados Unidos. Formou-se em marketing pela Charleston Southern University entre 2020 e 2023 e chegou a trabalhar na área, conciliando com a rotina no circuito. “Tive bolsa integral. Eles pagaram minha moradia e alimentação. E tive acesso a uma estrutura incrível de quadras, bolas, raquetes e material. Eu realmente não tinha os recursos necessários para sair do juvenil e ir jogar no profissional. Então foi a saída que eu achei para continuar jogando”, relembrou a brasiliense. “Eu fazia dois ou três jogos por semana com tudo pago e isso acabou me preparando muito, fisicamente e mentalmente, para enfrentar o circuito. Então foi uma experiência muito especial. Hoje em dia, várias meninas me perguntam: ‘Ah, Lu. Como foi sua experiência? O que eu devo fazer?’. Eu sempre falo que, para quem tiver a oportunidade, que vá. E você sempre vai ter a opção de voltar. Não custa nada ir lá e ter uma experiência nova”.
Portas abertas e pela geração de Bia e Stefani
Não são apenas os resultados de jogadoras como Bia Haddad, Laura Pigossi e Luísa Stefani que inspiram as jogadoras brasileiras. A convivência com elas nos treinamentos e competições por equipes também mostram caminhos a seguir para as mais novas. “As portas se abriram muito depois de jogadoras como a Bia e a Luísa, ou com o João Fonseca hoje. Hoje todo mundo quer conhecer o tênis e procuram muito mais. É claro que tivemos outras jogadoras antes, mas foi uma virada de chave”, disse Letícia Vidal.
Convocadas para confrontos recentes da Billie Jean King Cup, Fullana e Candiotto também tentam absorver o máximo dessas experiências. “Acho incrível o trabalho das meninas. São inspirações para mim e para outras jogadoras que estão chegando. E não somente como jogadoras, são pessoas maravilhosas e com características muito boas. Então, isso é uma coisa que eu busco para mim”, disse a brasiliense. A jovem paulista acrescentou. “Elas nos apoiam muito e estão sempre dispostas a conversar ou fazer treinos. É muito bom tê-las por perto e ter essa proximidade com pessoas com um bom ranking e que conquistaram muitas coisas. É muito gratificante estar perto delas, que estão sempre dispostas a receber a gente”.

As portas abertas nos últimos anos inspiram também a novíssima geração. É o caso de Nathalia Tourinho, de apenas 14 anos, que disputou nesta semana apenas seu segundo torneio como profissional após receber convite na chave. Atualmente, ela está treinando nos Estados Unidos, treinando na academia de Gabe Jaramillo e sonha chegar ao tênis profissional.
“Acho que quanto mais brasileiras estiverem na WTA, mais garra eu vou ter para conseguir”, comentou em entrevista durante o Roland Garros Junior Series. “A Bia é minha maior inspiração, é 20 do mundo e guerreira. A gente se conheceu em 2022, mas eu era menorzinha, não tinha tanta experiência nos torneios. Mas a Laura e a Carol [Meligeni] jogaram no Clube Paineiras, onde eu treinava, e acabei pegando um pouco das experiências delas, principalmente de como cuidam do físico e do mental. Elas jogaram uma contra a outra e foi um dia que eu aprendi bastante, fiz anotações com meu treinador. E a gente viu que estou no caminho certo. É questão de tempo, de trabalhar bastante e de tentar ser uma delas”.
Concordo que o tênis feminino está com uma base interessante agora no Brasil, pode nos trazer alegrias no futuro próximo.
Victoria, Nana e Nathalia Tourinho para mim tem grandes chances de se tornarem jogadoras profissionais de ponta. Eu assisti o jogo da Nathalia agora no W35 do Pinheiros contra a Argentina de 27 anos e ex-149 da WTA e me impressionei com a velocidade da bola da Tourinho.
Apesar do score de 6×1 6×1 o jogo foi muito disputado, a Nathalia teve chances de fechar em quase todos os games, mas como tem apenas 14 anos faltou experiência e sobrou nervosismo.
Mas a maneira que ela joga dentro da
Quadra é ditando o ritmo do jogo com golpes potentes e variações de curtas e slice realmente me impressiona.
No masculino vejo apenas o Fonseca e o Guto como potencial para nosso futuro
Tomara que você esteja certo! Ficaria muito feliz de acompanhar três jovens talentos brasileiros (Vic, Naná e Natalia) nos torneios mundo afora, de preferência entre as pros…
Fica patente que o grande gargalo ainda é a eterna carência de recursos financeiros, tanto nos patrocínios quanto na realização de mais torneios no país. E penso que nao adianta torneios maiores pois as nossas jogadoras que aqui têm base e moram, ainda nao possuem nível técnico para vencê-los. O ideal seria muitos torneios de até 35K, preferencialmente uma série deles ao longo do ano, como em um circuito.