Renovado, Sinner termina temporada por cima

A deixada cruzada de forehand, nos momentos decisivos de uma intensa partida em Turim, é para mim a imagem mais forte que fica da extraordinária vitória de Jannik Sinner neste domingo sobre o arqui-rival Carlos Alcaraz, que valeu a ele o segundo título seguido do ATP Finals, façanha obtida apenas por outros três homens neste século.

O italiano provou no mais alto nível sua nova disposição de alterar ritmos e improvisar pontos importantes, algo que havia prometido depois do US Open. Esse volume de jogo ainda mais aprimorado se junta a sua capacidade indiscutível de controlar o jogo do fundo de quadra, o que faz melhor do que ninguém no circuito atual.

É difícil saber se a confiança é o que deixou seu saque tão precioso ou se a evolução dos dois serviços foi o que lhe deu soltura tão grande. Por um ou por outro, Sinner subiu mais um degrau de qualidade. Pena que tivesse relaxado no começo do segundo set e enfim perdido o primeiro game de serviço de todo o campeonato, mas ele concluiu a tarefa sem perder uma única parcial, aumentando sua invencibilidade no piso sintético coberto para 31 jogos.

Os líderes do ranking fizeram mais uma tremenda partida nesta temporada, num ritmo alucinante de trocas de bola e velocidades incríveis para alcançar winners. O primeiro set seguiu palmo a palmo, pequenas brechas em dois games mais longos, até chegarmos no momento crucial: ótimas devoluções e postura ofensiva deram o set-point ao espanhol. Eis que Sinner disparou então um segundo saque extremamente profundo e ofensivo, que o backhand não controlou. O tiebreak teve um único vacilo de Sinner, mas a rigor o italiano foi superior o tempo todo, escolhendo muito bem as direções da bola.

Minutos depois de Alcaraz receber novo tratamento para a coxa direita, que acabou enfaixada, veio a quebra inesperada, com duas duplas faltas e um backhand descalibrado de Sinner. A supremacia de Alcaraz durou pouco e o empate chegou num sexto game todo apressado do espanhol. Naquela altura, Carlitos visivelmente tentava evitar ralis, o que lhe custava subidas à rede imprecisas e voleios tortos. Ainda assim, empurrou a decisão até o 12º game, quando então Sinner teve atuação magnífica nos contragolpes.

É justo dizer que Jannik “desempatou” o placar mais relevante da temporada. Cada um deles havia ganhado dois Grand Slam e o Finals ganhou ares de tira-teima, e com enorme peso. De quebra, Sinner entrará 2026 apenas 550 pontos atrás do número 1, numa redução significativa do prejuízo, calcada em três títulos consecutivos na quadra coberta e duas vitórias seguidas em cima de Alcaraz, caso consideremos que a milionária exibição da Arábia Saudita não teve nada de jogo amistoso.

E mais

– Este foi o o sexto título de Sinner nesta temporada, dois a menos que Alcaraz, e agora os dois estão empatados com 24 na carreira.
– A Espanha segue o jejum no Finals, que vem desde Alex Corretja, em 1998. A derrota de Alcaraz foi a quinta em decisões desde então, somando-se à de Ferrero, Ferrer e duas de Nadal.
– Ficam duas dúvidas: Alcaraz vai mesmo integrar o time da Copa Davis da próxima semana e Darren Cahill terá feito a última aparição como treinador de Sinner.
– Jannik fecha o ano com a premiação bruta de US$ 19 mi, cerca de US$ 600 mil a mais do que Alcaraz, mesmo tendo jogado 16 partidas e três meses a menos.
– Entre os espectadores da grande decisão, estavam Guga Kuerten, o campeão do Finals de 2000, e a jovem estrela da F-1 Andrea Kimi Antonelli.
– O Brasil ficou bem perto de surpreender a Austrália na repescagem da Billie Jean King Cup, em Hobart. Naná Silva fez outra excelente exibição e tirou set da top 100 Kimberly Birrell, enquanto Laura Pigossi chegou a ter match-point para superar a 32ª do mundo Maya Joint. Se a decisão fosse para as duplas, o equilíbrio tenderia a ser grande.
– Com a queda, o Brasil permanece no Grupo 1 da competição e aguarda adversários de 2026 para tentar de novo chegar na repescagem para o quali mundial.
– Além da Australia, classificaram-se para o quali mundial Bélgica, República Tcheca, Polônia e Suíça.
– Victória Barros também ficou próxima de seu primeiro título profissional de simples. Chegou a vencer o primeiro set no W15 de Antalya e foi batida por uma adversária 11 anos mais velha e com metade de seu ranking. A potiguar deve aparecer perto do 1.100º posto.
– Harri Heliovaara e Henri Patten ficaram com o título de duplas do ATP Finals, terminaram o ano como segunda melhor parceria e devem brigar pela liderança do ranking individual da modalidade em 2026. Joe Salisbury tentava o tri, ao lado de Neil Skupski.

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Jonas
Jonas
2 horas atrás

Atuação incrível do novo Djoko. Um campeão precisa ter força mental e saber controlar os nervos. Sinner deu conta do recado em Wb e no Finals, que siga evoluindo.

Detalhe, não fosse a merecida suspensão, seria a segunda temporada consecutiva do gelado italiano no topo do ranking. Essa briga tende a ser bem interessante após o Australian Open.

JClaudio
JClaudio
2 horas atrás

Um jogo entre Alcaraz e Sinner parece outra divisão do tênis.
Não precisa ser um sábio para notar a intensidade do jogo.
As trocas de bolas são brutais, algumas a 165 km por hora, surpreendentemente, elas voltam, geralmente fundas e incômodas.
Ninguém no circuito consegue manter trocas de bolas como os dois, parece fácil, olhando pela televisão (ilusão).
A ESPN Premium colocou como opção a transmissão das partidas com dados estatísticos em tempo real (trajetória da bola, deslocamento dos tenistas, velocidade de saque, velocidade de backhand ou forehand, altura), tudo com som original e sem narração.
Nunca tinha visto em tempo real, o que coloca em perspectiva a evolução do jogo e seus atores principais.
O tênis hoje é outro, dois atores principais, alguns coadjuvantes e muitos figurantes.
Na arquibancada, torcedores olham para os celulares, buscando o conforto do passado… enquanto a modernidade desfila incontrolavelmente.

Paulo Almeida
Paulo Almeida
2 horas atrás
Responder para  JClaudio

Dito isso, Djokovic continua sendo o maior e melhor de todos os tempos desde 2011.

JClaudio
JClaudio
1 hora atrás
Responder para  Paulo Almeida

“Na arquibancada, torcedores olham para os celulares, buscando o conforto do passado… enquanto a modernidade desfila incontrolavelmente”.

(O baile da saudade, segue forte)

Marcelo Costa
Marcelo Costa
1 hora atrás
Responder para  Paulo Almeida

Cara na boa, pare se puder, o tênis jogado hoje é magnífico demais pra vocês ficarem vivendo lá em 2011

Tribunal ATP Finals
Tribunal ATP Finals
2 horas atrás
Responder para  JClaudio

Concordo. Os últimos torneios no masculino parecem uma procissão cuja final todos sabem qual será. De qualquer forma, Alcasinner estão em outro patamar e 2026 deve seguir na mesma tocada.

Julio Marinho
Julio Marinho
2 horas atrás

Parabéns ao Sinner e seus torcedores. Jogador espetacular que só faz bem ao tênis. Só discordo do texto em relação a Ryad. Considerar vitória em torneio de dois jogos não dá, ainda mais que Alcaraz costuma ser bem mais forte na ponta final de torneios do que na inicial. Jogaram para vencer, mas tirando a grana, não vale nada em termos de circuito, pressão, prestígio. Nesse cenário se dois jogos acho que Sinner ganhará 9 em 10 vezes em um indoor contra Alcaraz. Em um cenário como de hoje, de torneio, as coisas são parelhas. Ano que vem, esperemos muito mais jogos entre eles. Espero que o saque do Alcaraz avance ainda mais.

Jmsa
Jmsa
2 horas atrás

Duvidava que o sinner conseguiria colocar novos elementos em seu jogo ,mas ainda vejo o alcaraz um pouco mais versátil.
Dalcim ,projetando a próxima temporada pelo que se viu esse ano ,Draper e Shelton são os que vão incomodar essa dupla e Djokovic , será o último como profissional ,desde já feliz natal e ano novo kkkkkk

Jonas
Jonas
1 hora atrás
Responder para  Jmsa

Ele nunca vai ter a habilidade do Alcaraz… houve um voleio no primeiro set fácil que deixa isso bem claro. Porém, caso siga melhorando o saque e consiga colocar ainda mais variação em seu jogo teremos um jogador praticamente perfeito.

Paulo Sérgio
Paulo Sérgio
2 horas atrás

Cadê o Sr. Ribeiro?
Anda sumido rs.

Tribunal ATP Finals
Tribunal ATP Finals
2 horas atrás

Grande jogo, Sinner obteve uma vitória difícil mas merecida. Se analisarmos boa parte dos jogos de Sinner e Alcaraz, este foi com certeza o único jogo imprevisível.

Marcelo Costa
Marcelo Costa
1 hora atrás

Vendo o jogo novamente, em câmera lenta, é nítido o backswing do italiano muito mais ágil, a raquete ao tocar as costas, ja volta ajustada pro próximo golpe, aparenta ficar ali milissegundos e ele ja a retorna pra posição inicial. Isso da a ele possibilidade de jogar sempre a frente, pegando a bola sempre na subida, tendo tempo de escolher onde, como e qdo jogar.
Essa forma de jogar tênis, nunca havia visto, tamanha intensidade, velocidade, precisão e pouquíssimo tempo de terminação após a batida.
Sinner é a síntese do tênis

Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br
Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br

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