O tempo no esporte: a crueldade silenciosa do envelhecimento no tênis

Foto: Corinne Dubreuil/ATP Tour

Eduardo Faria *
Especial para TenisBrasil

No tênis, assim como em tantos outros esportes, a paixão não envelhece. A mente segue desperta, curiosa, faminta por aprender e competir. O desejo de evoluir permanece intacto, assim como o prazer em estar em quadra, sentir a bola na corda, estudar adversários, testar estratégias. Porém, em algum momento, o corpo começa a dar sinais de que não responde mais da mesma forma. E essa constatação pode ser, para muitos, mais dura do que uma derrota.

É natural que um atleta dedicado, experiente e bem-preparado se esforce para manter o desempenho. Mas o processo de envelhecimento é irreversível e cobra seu preço com juros pesados no alto rendimento. Mesmo mantendo uma rotina disciplinada de treinos físicos e técnicos, sono regular, alimentação controlada e recuperação ativa, o corpo deixa claro: o tempo passa, e a fisiologia muda.

O que acontece, afinal?

– A recuperação muscular e neural se torna mais lenta.

– A potência e a explosão declinam pela perda progressiva de fibras rápidas (do tipo II).

– A resposta hormonal (testosterona, GH) se reduz.

– A capacidade aeróbica máxima (VO₂ máx) tende a cair.

– A coordenação neuromuscular perde eficiência.

– O risco de lesões se eleva e a dor demora mais a ir embora.

Mesmo um atleta experiente, com excelente leitura de jogo e preparo mental, se depara com limitações antes inexistentes: o sprint que já não chega a tempo, a reação que atrasa alguns milissegundos, o corpo que exige um dia a mais de descanso.

O caso Djokovic: o tempo não escolhe seus alvos

Em meio às tradicionais quadras de grama de Wimbledon deste ano de 2025, uma cena se repetiu com um novo tom. Novak Djokovic, aos 38 anos, caiu diante de Jannik Sinner, 23, na semifinal do torneio mais tradicional do circuito. O que parecia mais uma disputa épica entre gerações se tornou também um raro momento de vulnerabilidade de uma lenda viva.

Após a partida, Djokovic foi direto: “Por mais que eu cuide de mim, a realidade me atinge agora. Quanto mais o torneio se prolonga, pior tem sido minha condição. Tenho conseguido chegar às semifinais de todos os Grand Slam neste ano, mas agora preciso enfrentar jogadores como Sinner e Alcaraz e eles são jovens, estão prontos, e é cada vez mais difícil acompanhar esse ritmo.”

Palavras que ecoam como um divisor de águas na trajetória de um dos maiores da história. Não se trata de decadência. Trata-se de fisiologia e de tempo. O tênis exige agilidade, explosão, resistência e recuperação rápida – atributos que o corpo, com o passar dos anos, já não entrega com tanta naturalidade.

A mente quer, o corpo resiste

É um dilema silencioso, a cabeça está jovem, mas o corpo amadureceu. E essa contradição, embora previsível, dói. Porque o amor pelo jogo segue firme. Porque existe memória muscular e emocional de dias em que tudo respondia com perfeição. E porque o tenista competitivo seja ele amador ou profissional, raramente está pronto para aceitar que não comanda mais seu corpo como antes.

Ajustar não é desistir

O segredo, talvez, esteja em mudar o foco. Não se trata mais de vencer o tempo, mas de conviver com ele. Conhecer como o seu corpo reage ao treinamento é uma grande estratégia para aumentar a longevidade no esporte. Na 5º SET, desenvolvemos o TFI – Treinamento Físico Inteligente, um programa exclusivo que tem como carro-chefe o mapeamento genético esportivo. Por meio dessa avaliação, identificamos as potencialidades individuais de cada jogador — seja ele juvenil, amador, profissional ou alguém que busca praticar tênis com mais segurança, prazer e desempenho.

Com o TFI, é possível conhecer a sua capacidade de recuperação, o tipo de treino mais compatível com o seu perfil biológico, a distribuição das fibras musculares (potência ou resistência), a sua propensão a lesões e pontos de atenção no planejamento físico.

Essas informações são valiosas para que o seu professor de tênis, treinador ou preparador físico estruture um programa de treinamento individualizado, eficiente e seguro. Com o direcionamento correto, os resultados aparecem e o seu tênis se torna não apenas mais competitivo, mas também mais prazeroso e sustentável.

O tempo não para

O rendimento pode não ser mais o mesmo, mas:

– A experiência se torna uma arma poderosa.

– A consciência corporal se refina.

– A tática pode compensar a perda física.

– O prazer do jogo, paradoxalmente, se intensifica com o entendimento de que cada momento em quadra é único, e, por isso, valioso.

Tenista de todos os níveis tem em mente que ajustar a intensidade dos treinos, respeitar os limites da recuperação, adotar rotinas inteligentes de força e mobilidade, dar atenção total ao aquecimento e ao trabalho de recuperação pós-jogos e treinos, cultivando o prazer de jogar, são atitudes que prolongam a vida esportiva com dignidade.

Ciência e realidade: o que os estudos mostram

– A literatura científica é clara para todos os esportistas:

– A velocidade de condução nervosa diminui com a idade, afetando o tempo de reação.

– A sincronização muscular perde eficiência.

– Há redução progressiva de unidades motoras, principalmente as do tipo rápido.

– A neuroplasticidade também tende a cair, reduzindo a capacidade de adaptação neural.

Em termos práticos, isso significa que, mesmo com muita técnica e dedicação, o atleta mais velho tende a:

– Reagir com menor velocidade.

– Ter mais dificuldade em sustentar explosões rápidas repetidas.

– Precisar de mais tempo para se recuperar entre estímulos.

Conclusão

A conclusão mais realista e sincera é que o tempo não se vence, mas se honra!

O envelhecimento no esporte é, sim, cruel. Tira potência, impõe pausas, desafia o ego. Mas também revela a essência mais bonita do tênis: a capacidade de adaptação, a inteligência emocional e a resiliência. Afinal, o jogo nunca foi só físico, é mental, emocional e humano.

Ainda veremos muitos jogadores veteranos brilhando nas quadras. Talvez não com os mesmos reflexos ou potência, mas com algo ainda mais admirável: a coragem de continuar, mesmo quando o tempo tenta dizer o contrário.

Você jogador apaixonado, não importa o seu nível de jogo, siga sempre em frente, busque os seus sonhos e realizações, mas respeitando o seu corpo com inteligência!

Bons treinos, bons jogos!

Licenciado em Educação Física, pós-graduado em treinamento esportivo e com diversas formações na área do treinamento físico e qualidade de vida, Eduardo Faria trabalha com tenistas desde 1986, ao lado de Fernando Meligeni, Flávio Saretta, Alexandre Simoni, Vanessa Menga e Thiago Alves, entre outros. Integrou a equipe da Copa Davis desde do final dos anos 90 até os dias atuais, atuando com nomes como Andre Sá , Bruno Soares, Marcelo Melo, Gustavo Kuerten e Marcos Daniel. É fundador da empresa ‘5º Set’, contendo o programa TFI (Treinamento Físico Inteligente), que combina testes físicos, mapeamento genético e avaliação nutricional para melhorar a performance de tenistas, do amador ao profissional: confira detalhes em quintoset.com.br.

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Marco Aurelio
Marco Aurelio
17 horas atrás

Excelente matéria! Parabéns!

Paulo A.
Paulo A.
17 horas atrás

Excelente! Parabéns!.

Samuel, o Samuca
Samuel, o Samuca
13 horas atrás

Maravilha!!!

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