Nadal dá o tom nostálgico na charmosa temporada europeia de saibro

Fruto de enorme sucesso ao longo de mais uma década, a charmosa temporada europeia de quadras de saibro ganhou um tom nostálgico com a iminente despedida de Rafael Nadal. Cada semana uma emoção diferente, com homenagens, torcida e reconhecimentos poucas vezes visto, como o pedido de um souvenir do argentino Pedro Cachin, ao final do encontro em Madri. Alguns criticaram, mas achei autêntico.

Nadal ao longo dos anos construiu uma personalidade. Tornou-se cada vez melhor não apenas nas quadras, mas também nas suas atitudes. Virou exemplo de solidariedade ao arregaçar as mangas para ajudar vítimas de enchentes em sua terra natal.

Este perfil veio com o tempo. A gente gosta de comparações, em especial nesses últimos tempos, com Carlos Alcaraz. Mas o pupilo de Juan Carlos Ferrero parece que nasceu pronto. Chegou ao circuito com inglês fluente, carisma, um jogo incrível e com sua simpatia ganhou a preferência de muitos.

Já Nadal enfrentou desafios. Não falava muito bem inglês e nas suas coletivas costumava recorrer ao seu assessor de imprensa , Benitto Barbadillo, para responder as questões. Aos pouco se soltou, mas não abriu mão do forte sotaque, que, se lembrarem, arrancou gargalhadas certa vez ao lado de Roger Federer, um poliglota.

Lembro também que Nadal tinha uma certa indignação em alguma pergunta um pouco mais incisiva. Respondia … “acha que não joguei bem hoje?”. Mas já se tratava da construção de um escudo. Conquistando títulos de forma fulminante sofreu com infundadas acusações de doping. Uma delas até do governo francês e que não deu em nada, aliás, deu sim, uma indenização que o tenista recebeu e destinou à caridade. Nesta época o Canal + francês criou um cartoon em que o tenista espanhol fazia xixi no tanque de gasolina de um carro, e ‘aditivado’ o automóvel deixava o posto em disparada.

Sem dúvida Nadal precisou de muita força mental para superar esses assuntos extra quadra e seguir ganhando torneios. Muito dessa desconfiança vinha pelo seus biceps ao estilo do marinheiro Popeye. Usava bermuda corsário e camisetas regatas, o que acentuava ainda mais seu físico.

Isso tudo tem muito a ver com a rápida transformação física do adolescente Nadal até virar campeão de Roland Garros. A primeira vez que vi o espanhol jogar foi no Master de Monte Carlo de 2003. Gustavo ‘Guga’ Kuerten perdeu um jogo incrível para o então forte rival o sueco Magnus Norman. O brasileiro venceu o primeiro set por 6/1 e liderava o segundo por 5/2, quando tomou a virada. Perdeu o segundo set por 7/5 e o terceiro por 6/2. A convite do juiz de cadeira Adão Chagas fomos ver a promessa espanhola em ação. Já estávamos na terceira rodada e o magrinho espanhol perdeu para o então campeão Guillermo Coria. Nesse ano, por conta de uma lesão (que na época foi definida fratura por estresse) já naquele pé que o incomodou ao longo de toda sua vida profissional, Nadal não jogou Roland Garros e por isso fiquei muito tempo sem vê-lo. Já em 2005 era um homem feito e deu início aos 14 troféus do Grand Slam francês.

Agora Nadal vive uma situação que parece ser incontrolável: quer jogar, mas o corpo não permite. Por isso, não alimenta expectativas. Diz que segue um dia atrás do outro e nem sequer (pelo menos até hoje) falou incisivamente sobre uma eventual despedida em Roland Garros. Fica a esperança de que ele ainda possa fazer bonito.

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Gilçon de Jesus
Gilçon de Jesus
6 meses atrás

Nadal é uma Lenda do Tênis, eu que sou fã . Vou sentir saudades, mais ainda acredito nele em Roland Garros.

Joselito
Joselito
6 meses atrás

Sempre o achei meio chatinho, principalmente em suas entrevistas. Mas reconheço que é um grande campeão, principalmente no saibro.

Jornalista especializado em tênis, com larga participação em diversos órgãos de divulgação, como TV Globo, SporTV, Grupo Bandeirantes de Comunicações e o jornal Estado de S. Paulo. Revela sua experiência com histórias de bastidores dos principais torneios mundiais. Já cobriu mais de 70 Grand Slams: 30 em Roland Garros; 21, no US Open; 18 em Wimbledon; e 5 no Australian Open.
Jornalista especializado em tênis, com larga participação em diversos órgãos de divulgação, como TV Globo, SporTV, Grupo Bandeirantes de Comunicações e o jornal Estado de S. Paulo. Revela sua experiência com histórias de bastidores dos principais torneios mundiais. Já cobriu mais de 70 Grand Slams: 30 em Roland Garros; 21, no US Open; 18 em Wimbledon; e 5 no Australian Open.

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