Bem-vindos, novos campeões

Foto: Rafael Pignataro

São dois universos totalmente diferentes, porém cada um com sua importância.

Lá no topo, num Masters 1000 milionário, o monegasco Valentin Vacherot causou uma daquelas enormes surpresas, que acontecem de tempos em tempos. Entrou de última hora no qualificatório e saiu com o título, nove vitórias incríveis – seis delas de virada -, incluindo uma muito especial sobre Novak Djokovic.

E no interior de São Paulo, na acolhedora São João da Boa Vista, no menor de todos os torneios possíveis do calendário profissional, a estrela ascendente de Nauhany Silva voltou a brilhar, com seu primeiro troféu de simples aos 15 anos, uma façanha rara para o tênis nacional.

Me darei ao direito de começar por Naná. A paulistana de golpes pesados, sorriso largo e enorme coração, se tornou apenas a terceira brasileira de 15 anos a ganhar um torneio profissional. A história começou com Andrea ‘Dadá’ Vieira, em 1986, então com 15 anos e 5 meses, e incluiu também Beatriz Haddad Maia, em 2011, poucos dias mais jovem. Nauhany tem 15 anos e 7 meses. Curioso ciclo de 14-15 temporadas entre as três.

As últimas semanas têm sido empolgantes para Naná e sua equipe da Rede Tênis. Começou com a vitória no WTA 250 do Parque Villa-Lobos, que lhe deu ainda mais visibilidade, o que poderia ser um problema. Que nada. Ela voltou a jogar bem no W35 do clube Paineiras e, apesar de levar virada em simples da mesma Carol Meligeni que havia vencido no SP Open, chegou ao título de duplas com Ana Candiotto.

Aí veio um desafio físico e emocional em São João. Logo na estreia, virou 1/4 no terceiro set diante da quarta favorita. Dois dias depois, perdeu o primeiro set e se viu 0/2 na série decisiva contra Luiza Fullana. Na semi, a cabeça 7 disparou com 4/0 e aí Naná ganhou 12 dos 14 games seguintes. E por fim dominou na final outra chilena com poucas oscilações para quem fazia sua primeira final profissional.

Levou o troféu principal apenas em seu oitavo torneio adulto, lembrando que a WTA impõe restrições de participação para sua faixa etária, a ponto de Naná ter de abrir mão do 125 do Rio da próxima semana e disputar apenas o de Florianópolis. “Para a idade dela, jogar torneios profissionais é fundamental. Enfrentar adversárias mais velhas e experientes traz vivências muito importantes”, destaca o treinador Danilo Ferraz. “Feliz pelo crescimento técnico e mental que ela vem demonstrando. Agora é manter os pés no chão”, afirma o coordenador Leo Azevedo. Pés no chão são muito bem-vindos.

E Vacherot acreditou

Uma semana antes de se arriscar em Xangai, Vacherot não passou da estreia num challenger francês diante do 317º do mundo. Não desanimou e foi corajoso, ao viajar para a China sem sequer ter vaga garantida no quali do Masters 1000. Entrou de última hora, ganhou os dois jogos de virada e no segundo deles chegou a ficar a dois pontos da derrota.

Começou então sua notável trajetória. Reagiu contra Alexander Bublik, Tallon Griekspoor e Holger Rune. Contra o experiente holandês, salvou seis break-points num único game, cuja quebra determinaria vantagem de 6/5 e saque ao adversário para fechar o jogo ainda no segundo set. Diante do dinamarquês, precisou sacar com 3-4 no tiebreak de segundo set que poderia encerrar sua campanha.

Ou seja, pressão atrás de pressão. E mesmo sem um golpe espetacular, o monegasco achou caminhos. Claro que a sorte também o ajudou ao ver Novak Djokovic sentir a perna esquerda ainda na metade do primeiro set. Ficou totalmente emocionado ao ver o primo Arthur Rinderknech também se classificar para a final em cima de Daniil Medvedev e veio um abraço fraternal entre eles, uma das cenas do ano.

E na final em família, coisa rara no tênis profissional, não houve corpo mole. Muito pelo contrário, Vacherot jogou um tremendo terceiro set, trocando firmemente bolas e usando bem o primeiro saque. Completou a semana com um salto de 164 posições no ranking, que o leva ao 40º posto, e quase US$ 1,2 milhão no bolso, mais do dobro de tudo que o tenista de 26 anos somou em sua carreira.

O que mais me chama a atenção? Primeiro, o fato de Vacherot não ser um tenista espetacular, ainda que seja dono de um tênis sólido e de boa movimentação. Depois, a história que contou: “Passei o verão (europeu) com este torneio em mente, achei que teria uma chance de entrar e quem sabe terminar o ano no top 100”.

Arriscar, acreditar, lutar. Ótimas lições.

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Lucas Miranda Faria
Lucas Miranda Faria
2 horas atrás

GRANDE: J. N. Dalcim!!!!!

Ronildo
Ronildo
2 horas atrás

Fantástico. Tênis é isso mesmo, atualmente. O esforço físico em cada partida é extraordinário. Cada jogo é uma verdadeira batalha, tanto no masculino como no feminino.

Tom França
Tom França
1 hora atrás

Dalcim, você poderia citar se possivel, diferenças e semelhanças entre Victória Barros e a Nauhany Silva? Você também acredita que a opção do Staff de Victória Barros por torneios internacionais, pode favorecer ela mais do que a Nauhany, que tem disputado mais torneios nacionais de WTA?

Jorge Luiz
Jorge Luiz
49 minutos atrás
Responder para  Tom França

Mais os torneios que a Naná está jogando também são internacionais

Thiago Silva
Thiago Silva
1 hora atrás

Esse título do Vacherot foi mais “parrudo” que o Australian Open 2006.

Paulo A.
Paulo A.
1 hora atrás

Pena o jogo da Naná não ter sido transmitido, nem pela Internet. Traria ainda mais visibilidade e sucesso à essa garota preciosa do nosso tênis.
E parabéns pelo post, Dalcim. Como sempre, delicioso de se ler.

lucas
lucas
1 hora atrás

a Dada vieira é de 71, portanto provavelmente o titulo dela foi em 86,

Jorge Luiz
Jorge Luiz
52 minutos atrás

Parabéns Naná, muito promissora,ela e a Victória, porém tô com a impressão que a Victória esteja muito estrelinha, tomara que seja só impressão

Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br
Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br

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