Jogadoras da nova geração do tênis brasileiro estão cada vez mais motivadas pelos resultados recentes de nomes como Beatriz Haddad Maia, Luísa Stefani e Laura Pigossi. Ao longo do ano, jovens tenistas tiveram a oportunidade de conviver de perto com as principais atletas do país, seja em suas bases de treinamento ou acompanhando a equipe profissional da Billie Jean King Cup. Para essas jovens, as experiências tem sido importantes para o desenvolvimento pessoal de cada uma e já pensando também em um processo de renovação para o futuro.
Com apenas 15 anos, a gaúcha Isabeli Andreola foi uma das juvenis que passou uma semana treinando com o time da Billie Jean King Cup, durante a preparação para o confronto entre Brasil e Coreia do Sul em Brasília, e tentou absorver o máximo de uma experiência inédita ainda no início da carreira.
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“Já havia conhecido a Carol e a Laura este ano, e agora também pude falar com a Bia, a Luísa e a Ingrid. Elas tiraram todas as nossas dúvidas, como por exemplo sobre College ou ir para o profissional direto. Muita gente tem essa dúvida, e como elas passaram por diferentes caminhos, é muito legal estar com elas. A gente as vias bastante na TV. Mas de perto, dá para ver que elas trabalham muito duro e o caminho é esse. Tem que querer muito estar onde elas chegaram”, disse a TenisBrasil.
“A Bia é muito humilde, sabe bem onde está, mas foi uma fofa. Ela se apresentou para a gente: ‘Prazer, Bia’, mas também quis nos passar também o que ela aprendeu e o que poderia ter feito melhor com a nossa idade. Então foi muito importante ter tido essa conversa. Elas sabem o quanto é importante a gente estar aqui. Para talvez no futuro não tão distante a gente estar aqui jogando, com novas juvenis”, acrescentou a gaúcha.
Outra juvenil que esteve na capital federal foi a paranaense Paola Dalmônico, de 17 anos, que hoje aparece no 290º lugar no ranking mundial de sua categoria. “É o meu primeiro contato com elas e está sendo uma experiência incrível. Sempre fui muito fã de todas e acompanho os resultados o ano todo. Sei que trabalhei muito para estar aqui e a gente consegue ver que elas têm muita disciplina. Quando você quer, a chance de dar certo é muito maior”.
“Esse trabalho que a CBT está fazendo já tem alguns anos e muitas juvenis já passaram por aqui, não só a gente. Sinto que estamos aprendendo muito. Elas sempre tentam tirar todas as nossas dúvidas e nos ajudar nos treinos. Quando tem alguma coisa que elas acha que podemos melhorar, elas vão lá e falam. É muito bom para o nosso desenvolvimento como juvenil estar no meio delas”, explicou a curitibana.
Prestes a completar 18 anos, Paola conseguiu nesta temporada seus primeiros pontos no ranking profissional. “Com certeza foi uma emoção, qualquer menina do juvenil tem o objetivo de entrar no ranking da WTA. Então foi uma sensação de objetivo cumprido, mas ao mesmo tempo querendo mais. Querendo mais pontos. Acho que a principal diferença das meninas do juvenil para as profissionais é a parte mental. Elas conseguem administrar mais os momentos de pressão. Jogo, todo mundo tem, logicamente as profissionais têm mais força e precisão nos golpes, mas a principal diferença e a maneira como elas entram focadas e conseguem se manter consistentes durante o jogo inteiro. É algo que eu ainda preciso melhorar”.
Olívia Carneiro e Pietra Rivoli tiveram a experiência no início do ano
Paola e Isabeli não foram as únicas a treinar com as profissionais na competição este ano. Em abril, quando o Brasil enfrentou a Alemanha em Stuttgart, a gaúcha Pietra Rívoli e a paulista Olívia Carneiro também puderam conviver de perto com as principais jogadoras do país. “Elas são gigantes. Essa ascensão da Bia, da Luísa e da Laura inspira demais a gente. Particularmente, isso faz com que eu queira cada vez mais e saiba que é possível chegar onde elas estão”, afirmou Pietra, que também fez parte da equipe brasileira na Billie Jean King Cup Junior, mundial de 16 anos, disputado na Espanha na última semana.
Já Olívia Carneiro é hoje a brasileira mais bem colocada no ranking mundial juvenil, ocupando o 48º lugar. Ela treinou com Bia Haddad Maia e Luísa Stefani no time RTB e também tem um carinho especial pela também paulista Laura Pigossi, que tem sido uma mentora para ela. “É um privilégio. A Bia tá praticamente no top 10, a Luísa acabou de ganhar um Grand Slam. E são duas pessoas que eu convivo. Claro que ainda tenho que trabalhar muito, mas elas me fazem acreditar que eu consigo chegar lá também. Tenho elas como referência porque consigo ver como trabalham para fazer igual, e quem sabe um dia chegar perto delas”.
“E a Laura é uma grande inspiração para mim e também alguém que eu posso considerar uma amiga, porque ela me ajuda sempre que eu preciso. Já fizemos vários treinos juntas e ela me dá vários toques, me manda mensagem”, acrescentou a jovem jogadora, que disputará os Grand Slam do circuito juvenil em 2024 e também tem compromisso assinado com o tênis universitário norte-americano.
Inspiração também para da Jade Lanai, do tênis em cadeira de rodas
Atleta do tênis em cadeira de rodas e campeã juvenil do US Open em sua modalidade, a brasiliense Jade Lanai, de 19 anos, também destacou o impacto positivo pelos bons resultados das mulheres no tênis. “Acho que a gente nunca teve tantas jogadoras ao mesmo tempo tão bem ranqueadas e tão fortes, tecnicamente e mentalmente. É incrível a gente ter tanta representatividade e referências para a gente. Todas elas, além de serem atletas incríveis, são pessoas muito legais e que têm uma troca muito boa com a gente. Acho que a gente tem que aproveitar essa fase que as meninas estão e dar cada vez mais visibilidade e apoio”.
Uma puxa a outra, mas cada uma tem seu tempo
E quais lições as recentes conquistas trazem para a nova geração de jogadoras? Entre os maiores aprendizados está a certeza de que existem diferentes caminhos para se chegar ao alto nível, e que cada uma deve respeitar seu próprio tempo.
“Elas são muito unidas. Às vezes no juvenil, uma quer ser melhor do que a outra. E a união delas serve como um exemplo muito grande”, avaliou Paola. “Cada uma tem seu processo, mas quando a gente vê essa grande quantidade de meninas se destacando, uma vai puxando a outra. As meninas aqui nos inspiram muito, dão mais vontade de treinar para chegar onde elas estão. E ter essa grande de juvenis se destacando, uma vai ajudando a outra e cada uma vai melhorando”.
Principal jogadora do Brasil na atualidade, Bia Haddad Maia também se mostra acessível para dar conselhos para as mais jovens: “Tenho um pouco mais de proximidade com as meninas que treinaram comigo [Olívia Carneiro e Ana Candiotto] e uma uma conexão muito forte com a Aninha. A gente sempre fala não só de tênis, mas também sobre coisas da vida. Acho que um atleta também se desenvolve e enxerga a vida melhor fora da bolha do tênis”.
Cada vez mais meninas jogando
Nota-se também, na opinião das jogadoras, que há uma maior procura pelo tênis entre as meninas. “Eu comecei com 10 anos e sempre treinei com meninos ou com meninas bem mais velhas, de 14, 16 ou até 18 anos. E agora tem bem mais meninas”, disse Paola. “Tinha muito torneio que não fechava a chave, categoria de 12 e 14 anos não tinha inscritas o suficiente. Eu vejo que hoje os torneios estão tendo chaves completas em todas as categorias.
“Acho que isso vem crescendo muito, as meninas vem fazendo ótimo trabalho, com ótimos resultados e isso tem motivado muitas crianças a jogarem. Este ano, eu pude jogar um torneio profissional em Curitiba e as pequenininhas foram me ver jogar. Dá muita inspiração e vontade de continuar”, complementou a curitibana, que atualmente divide o treinador, Maurício Bonatto, com o também Gustavo Almeida, campeão da Davis Junior pelo Brasil no ano passado.
Isabeli acrescentou: “No meu clube [Recrerio da Juventude, de Caxias do Sul] está cheio de menininhas pequenas, que adoram jogar tênis. E no começo do ano, eu e a Pietra jogamos a final dos 16 anos da Brasil Juniors Cup. E depois foi nítido ver a quantidade de meninas chegando. Cada uma tem seu processo, tem seu caminho. Talvez seja mais rápido para uma ou para a outra. Mas quando a gente vê uma ou outra indo bem, é sempre muito bom”.
Carol e Stefani destacam visibilidade e renovação do tênis feminino