Certa vez -já há um bom tempo, reconheço- um dos maiores tenistas brasileiros da história teve um ano espetacular. Ganhou de jogadores do ‘top ten’, campeões de Grand Slam e recebeu elogios vindos de todos os lados. Dava gosto ver seus jogos. Mas, de repente, já no início da temporada seguinte, passou a acumular uma série de derrotas. Incrível o que aconteceu. E a explicação, na época, veio da famosa “Rádio Vestiário”. É isso mesmo, pode parecer estranho, mas aparentemente todos os outros tenistas que vinham de resultados ruins, trocaram ideia e um aconselhou ao outro a enfrentar o então temível brasileiro. Ou seja, aprenderam a neutralizar seus golpes. Foi preciso criar um antídoto e ter muita paciência para voltar a ter uma série mais regular e seguir assim até o fim de sua brilhante carreira.
É bem possível que isso esteja acontecendo com João Fonseca. Com o agravante que todos estão falando dele (preocupados) e não apenas aqueles que perderam confrontos. Essa situação faz parte do mundo do tênis, um esporte individual em que as amizades e elogios ficam fora da quadra e ninguém quer perder.
Na recente derrota para Jack Draper, em Indian Wells, esse cenário ficou bem claro. O tenista britânico fugiu de suas principais características para anular o brasileiro. Dono de um belo saque, deixou em muitos momentos de atuar com a habitual agressividade e até jogou como ‘baloeiro’ a espera dos erros de Fonseca.
Mesmo tendo sido vítima de uma armadilha, João arrancou aplausos e suspiros. Com seu jogo espetacular ganhou pontos com golpes fulminantes. Mas os 31 erros não forçados custaram caro. Ainda mais a se imaginar que um set inteiro tem 24 pontos. Ficou a lição que o jovem brasileiro reconheceu logo após a partida. Disse que faltou paciência, mas o instinto e sua essência de agressividade jamais devem desaparecer, apenas saber dosar um pouco mais.
Chegar a esse ponto de equilíbrio é difícil, demanda tempo e paciência. Um exemplo desse instinto matador aconteceu certa vez com Maria Sharapova. A situação ocorreu num período em que no circuito da WTA os treinadores podiam entrar em quadra para instruções. O técnico na época era Sven Groeneveld. A tenista russa estava perdendo e desperdiçando inúmeras oportunidades. Construía bem os pontos, mas na hora de finalizar jogava fora. O esperto treinador deu um conselho simples :”Maria deixe de buscar as linhas, jogue com maior margem de segurança”. E não é que deu certo? Passou a ganhar pontos e mais pontos. Só que, de repente, seu estilo falou mais alto. Insistiu em jogar no limite e acabou perdendo o jogo.
Muito do que aprendi no tênis foi convivendo, vendo e ouvindo o trabalho dos treinadores. Posso garantir que em diversas torneios – em especial os menores e mais tranquilos – vi mais treinos do que jogos. Com Larri Passos, por exemplo, passei a ver o tênis com outros olhos e observando o que leva a bons resultados. E um desses tópicos vem de tenistas que possuem enorme potência em seus golpes. Em especial os mais jovens, como lembrou certa vez o técnico de Guga Kuerten, “gostam de uma guerra de braço”. Aquele gostoso desafio de quem bate mais forte. Só que nem sempre isso ganha jogo. Foi com muito trabalho e conscientização que o tri-campeão de Roland Garros encontrou o equilíbrio.
Não estou aqui para dizer o que o João Fonseca deve fazer ou não. Apenas revelo a minha experiência no Tour Internacional. O jovem brasileiro tem uma boa equipe e deve estar atenta aos acontecimentos. Além disso, o mundo não pode estar errado quanto ao potencial dele. Basta observar o noticiário para perceber que todos estão convencidos de que João terá um futuro brilhante. Alguns elogios são fortes, como o de Novak Djokovic que o comparou com Carlos Alcaraz. Mas é preciso também lembrar a advertência de Alexander Zverev dizendo que sim, ele será um grande jogador, mas não de um dia para o outro.
É interessante e significativo o comportamento mundial em relação ao João Fonseca. Até mesmo depois de vencer sua partida, o britânico Jack Draper foi perguntado sobre o brasileiro e não deixou dúvidas de que terá um futuro e tanto. A própria organização de Indian Wells, colocou o jovem tenista em sua estreia na principal quadra do complexo. Um lugar tão grande que até causou um susto, mas vale a experiência para quem deve estar em palcos semelhantes daqui para frente por muitos anos.
Essa para mim é novidade.
Radio peão no tênis?
Então os tenistas fizeram uma reunião para discutir como neutralizar os golpes mortais do João Fonseca?
Se eu souber quais são estes tenistas, nunca mais vou torcer para eles!!!
Não creio que seja algo tão formal e dirigido quanto uma reunião de jogadores para discutir o plano tático contra um inimigo comum, mas é natural que, informalmente, os tenistas conversem uns com os outros e acabem trocando dicas e experiências. No caso do Fonseca, não surpreenderia se o Draper tivesse procurado o também britânico Fearnley, adversário de Fonseca na rodada anterior em IW, para tirar informações úteis para seu plano de jogo. Normalíssimo.
Como outro exemplo da tal “rádio vestiário” lembro que, no ano passado, Rublev perdeu em sequência para três tenistas checos, Mensik, Machac e Lehecka. Na ocasião, Machac admitiu que foi buscar dicas para enfrentar o tenista russo com seu colega Mensik.
Excelente texto.
Desafio do rapaz é diminuir a plasticidade sem perder a agressividade e ter uma estratégia de jogo mais sóbria. Talvez nesse momento, seria melhor a ida pro Challenger na Rep Dominicana ao invés de Phoenix com um nível superior ao atp 500 do Rio.
O da Rep. Dominicana está forte tb!
Tênis é complexo. Em princípio, parece óbvio que o João deve dosar o ímpeto e jogar com mais margem de segurança. Fazer isso não é difícil. Dificil é fazer isso e ganhar os jogos contra adversários mais qualificados. E por que? Porque para executar esse plano de jogo contra tenistas como o Draper há que se ter excelente condição física e movimentação, a fim de aguentar e ganhar pontos longos, os quais incluem muitos golpes executados na corrida. Parece-me que hoje o brasileiro ainda não têm suficientes forças nas pernas e movimentação frontal e lateral para sair-se bem jogando de forma mais conservadora, pelo menos contra tenistas do topo do ranking. Daí valer-se de seu potente forehand para abreviar os pontos indo para as linhas e de um bom primeiro saque, do qual o seu jogo hoje também depende muito. Num dia em que a direita não está tão calibrada e o índice de acerto do primeiro saque é baixo, ele ainda é capaz de derrotar tenistas com menos recursos e que lhe dão muitos pontos de graça, como o Fearnley, por exemplo. Mas contra um Draper, em que a grande maioria dos pontos tem que ser conquistada, a vitória torna-se improvável.
Complementando o comentário, suponho que a “Rádio Vestiário” (ou uma boa ferramenta de IA, para semos modernos) tenha informado que para jogar contra o João, fugir dos seus morteiros de forehand e explorar a sua (ainda) deficiente movimentação há que variar o jogo, quebrar o ritmo com slices e curtinhas e deslocá-lo, fazendo com que o jovem prodígio tenha que bater as bolas na corrida. Fácil falar, mas felizmente a RV e a IA não entram em quadra. Tem que ter recurso técnico para isso.
Me parece que o óbvio não está sendo discutido: é muita propaganda e pouco tênis para esse rapaz. Cada partida que ele vence perde três.
Que espécie de fenômeno é esse? O moço é fraco. Vamos reconhecer
Perfeito comentário, concordo plenamente
O próprio João foi radio peão, treinando com o Ben Shelton, que tinha pela frente dois adversários que haviam perdido pro João recentemente. Navone ou Tien. Acabou sendo o Navone.
Aham…. tá…. * menos…. menos