PLACAR

A queda de Alcaraz em números

Craig O’Shannessy é considerado um dos mais hábeis estrategistas do tênis e, não por acaso, trabalhou bom tempo para Novak Djokovic. Australiano de nascimento mas radicado no Texas, escreveu um livro já famoso e bem conceituado, o ‘Brain Game‘, ou seja com foque no jogo mental.

Ele não foi um tenista brilhante. Na verdade, O’Shannessy admite que, como quase um autodidata, tecnicamente tinha defeitos evidentes, a começar pela empunhadura. Mas ainda assim se virava no bom e velho saque-voleio dos anos 1970 e que essa habilidade lhe garantiu lugar no universitário americano.

Para compensar a pobreza técnica, estudou muito a parte tática do tênis e isso incluiu cada vez mais o uso de estatísticas. “A norma dos treinadores sempre foi focar seu próprio jogo, mas na verdade é essencial também observar o que o adversário faz”, sentencia.

Essa introdução é para fundamentar sua opinião sobre o que tem causado muitas das derrotas mais recentes de Carlos Alcaraz. Ele chegou à conclusão que a queda em jogos importantes está diretamente relacionada à fragilidade de sua devolução de saque, especialmente de forehand.

Em seu blog, que recomendo leitura, O’Shannessy mostra como Novak Djokovic, Jannik Sinner e até Grigor Dimitrov exploraram com esperteza essa deficiência. Na final de Cincinnati, em que Alcaraz chegou a ter match-point, o espanhol cometeu 37 erros de devolução de saque, 24 deles de forehand.

O estudo mostra que alguns dos piores momentos de Alcaraz nesse aspecto estiveram justamente em Toronto e Cincinnati e que a devolução de backhand se mostrou percentualmente bem mais eficiente. Essa dificuldade aliás tem levado o número 2 do mundo a se posicionar de formas diferentes, muitas vezes recuando bem mais do que o normal.

Diante dessa realidade numérica, sugiro ficarmos de olho em como Alcaraz irá se comportar no Masters de Paris, um piso coberto que é tradicionalmente bem lento. Como o espanhol optou por não jogar na Basileia na próxima semana, ele chegará a Bercy com desvantagem considerável de 500 pontos para Nole, já pensando é claro no ranking da temporada.

Becker tenta consertar Rune
Holger Rune apelou para a experiência e o carisma de Boris Becker na tentativa de reverter a fase tenebrosa e garantir a vaga no Finals de Turim pela primeira vez. O alemão, que treinou Novak Djokovic entre 2014 e 2016 fazendo um belo trabalho, vai estar ao lado do dinamarquês na Basileira e em Paris tentando os pontos que faltam. Ele está apenas 100 à frente de Taylor Fritz, que é o nono colocado de momento.

Becker afirmou ver semelhanças entre Rune e Djokovic, até mesmo na questão emocional. “Gosto de suas explosões”, afirmou o tricampeão de Wimbledon. “Djokovic por vezes também não era ele próprio em quadra”. O tempo para consertos é muito curto, claro, e urge lembrar que Rune sofre de uma lesão persistente nas costas e se recusa a se retirar para um tratamento adequado. E aí não haverá Becker que dê jeito.

Até o fim?
Como existe ainda uma luta milimétrica pelas vagas a Turim, houve uma correria inesperada para os 250 da semana imediatamente anterior ao Finals, que terminam no sábado, um dia antes da abertura de Turim.

Todo mundo que sonha com vaga está inscrito: Rune, Casper Ruud, Hubert Hurkacz, Tommy Paul, Alex de Minaur e Karen Khachanov entraram em Metz, enquanto Taylor Fritz, Frnaces Tiafoe e Ben Shelton optaram por Sofia, ATP que substituiu de última hora Tel Aviv.

Nadal e as dores
Cauteloso, Rafael Nadal contradisse o apressado diretor do Australian Open, Craig Tiley, e diz que disputar o Australian Open ainda é um sonho distante. O espanhol voltou aos treinos a cerca de um mês e admitiu, em entrevista dada em Madri, que as dores diminuíram mas existe desconforto, o que o impede de treinar com maior intensidade.

Entendo o desejo do espanhol em voltar aos Slam e, quem sabe, ainda brigar com Djokovic pelo recorde, porém me parece que encarar tão precocemente a quadra dura e melhor de cinco sets está longe de ser o ideal. Rafa poderia muito bem optar pelo saibro sul-americano, menos competitivo e mais adaptável a seu pós-operatório. Rio Open ficará de braços abertos.

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Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br
Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br

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