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A cobertura da imprensa no tênis nos Jogos Olímpicos de Paris

Cobrir um evento grande é um sonho para todo jornalista esportivo e não há nada maior do que os Jogos Olímpicos neste aspecto, ainda que a Copa do Mundo de futebol atraia uma atenção concentrada maior e no caso do tênis os Grand Slam sejam os quatro torneios mais importantes da modalidade. De qualquer forma, fazer uma cobertura olímpica é quase igual a de um Slam, ainda mais quando o torneio acontece em um dos quatro maiores palcos do tênis como neste ano em Paris.

Assim como tudo na vida, há vantagens e desvantagens para os jornalistas que vão a Roland Garros para acompanhar o tênis olímpico. A começar pela entrada, com um espaço separado do lado da fila do público normal e um portão de entrada separado apenas para credenciados (jornalistas e outros membros da organização do evento).

Uma vez dentro do complexo, outra vantagem é ter um acesso maior do que o público geral, com espaços reservados para a imprensa nas quadras principais. Contudo, isso não é garantia de entrada, já que em jogos muito concorridos os lugares podem estar lotados. Já nas quadras externas a situação é mais caótica, praticamente misturando todo mundo nas arquibancadas. Quando lota, você fica de fora, mesmo com credencial. Foi isso que aconteceu comigo na estreia do paranaense Thiago Wild, que tive que acompanhar da sala de imprensa.

A sala de imprensa é um caso à parte, na qual se reúnem jornalistas do mundo inteiro num som babilônico de vários idiomas diferentes. Os jornalistas compatriotas acabam se agrupando próximos uns dos outros. Os italianos normalmente estão sempre na minha região, assim como uns tchecos, mas estes últimos vêm e vão.

O caminho nas entrevistas pós jogo

Diferente dos Grand Slam, no torneio olímpico não há entrevistas coletivas depois das partidas, exceto após as disputas de medalhas. Os tenistas passam por uma zona mista para falar com os jornalistas, primeiro conversam com as emissoras detentoras dos direitos de transmissão (TVs e rádios), depois falam com as agências de notícias em inglês, seguem para a imprensa escrita em inglês e terminam falando em sua língua materna.

Claro que esse caminho pode ter atalhos dependendo de quem esteja lá. Muitos acabam passando sem precisar falar com ninguém, outros falam só com a imprensa de seu país, mas casos como o de Rafael Nadal, Carlos Alcaraz e Novak Djokovic, todas as paradas acabam acontecendo. Às vezes são só duas perguntas, mas depende muito da situação e do momento. Após sua despedida, Andy Murray conversou com a imprensa por uns 15 minutos. Inclusive consegui fazer uma pergunta a muito custo.

Embora seja garantido que os jogadores irão passar pela zona mista, o horário é sempre uma incógnita. Há casos em que eles saem da quadra e vão direto para lá, mas outras vezes a espera pode passar de uma hora, como aconteceu nesta quinta-feira com Carlos Alcaraz, Lorenzo Musetti e Alexander Zverev, que deixaram um monte de jornalistas esperando. Cheguei a ouvir um pouco do italiano e no meio parei para acompanhar a entrevista do espanhol, mas saí antes do alemão chegar.

Outro problema também é que às vezes, como falei acima, os tenistas chegam na mesma hora, então não tem como escutar ambos, é preciso escolher um. Um caso curioso aconteceu quando Djokovic chegou. Os jornalistas sérvios estavam todos ouvindo as declarações de Tsitsipas sobre a derrota, mas quando Djokovic passou eles o seguiram como um imã, praticamente esvaziando a zona mista do grego.

A sala de imprensa

Voltando a um dos lugares mais importantes para os jornalistas, a sala de imprensa de Roland Garros é bem grande, do porte de um Grand Slam, bem maior do que a de Tóquio, que inclusive foi montada em uma estrutura provisória. Lá os jornalistas têm uma grande bancadas com tomadas, cadeiras confortáveis e espaço para colocar o computador. Também há TVs espalhadas ao redor da sala passando os jogos.

Há sinal para todas as quadras, então você pode pedir para trocarem de canal e colocar em uma quadra que queira acompanhar (claro que convém conversar com os colegas antes para ver se ninguém está vendo o jogo que está passando no momento). E na cobertura olímpica, eventualmente até colocam em algum outro esporte .

Assim como para o público em geral, há bebedouro na sala de imprensa para que os jornalistas encham suas garrafas de água, assim como há sempre café e chá. Às vezes colocam uns bolinhos e frutas, mas costuma acabar rápido. Também há banheiros exclusivos para os jornalistas, com água potável nas torneiras, ou seja, também podemos abastecer as garrafas por lá.

Em Roland Garros há uma separação física bem distinta dos fotógrafos, que ficam em um espaço separado do resto da imprensa. Há também uma sala da organização, onde ficam membros da ITF e dos Jogos Olímpicos, ajudando os jornalistas com questões sobre a competição. Um lugar que costumo passar pelo menos uma vez por dia.

Outros pormenores em RG

Mais uma diferença do Grand Slam para o evento olímpico diz respeito à alimentação, já que durante a disputa de Roland Garros os jornalistas ganham um ticket para comer no refeitório e nos Jogos é preciso pagar para comer lá. Ainda assim compensa bastante, já que fica bem mais barato do que qualquer lanche que vá comer nos quiosques e lá se pode comer comida de verdade (a questão dos preços vou abordar mais a fundo outro dia).

Além disso, os jornalistas têm direito ao Wi-Fi dos Jogos Olímpicos, que pega muito bem na sala de imprensa e na zona mista, mas cujo sinal é bastante fraco no restante do complexo. Através dele podemos nos conectar e enviar textos, fotos, vídeos e afins.

Há também um grupo de WhatsApp com informações úteis e as últimas atualizações. Nele, diariamente são enviadas as notas das partidas, com informações e dados sobre os principais jogos do dia, além de mudanças de última hora, como troca de quadra ou desistências. Foi por lá que fiquei sabendo que Thiago Wild e Luisa Stefani haviam entrado na chave de duplas mistas.

O texto ficou enorme, então encerro por aqui. Mas qualquer dúvida, curiosidade ou afins é só usar os comentários que eu responderei com todo prazer.

4 Comentários
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Marcelo Reis
Marcelo Reis
1 mês atrás

Legal conhecer um pouco dos pormenores dos bastidores!

Eu tive o privilégio de ir às olimpíadas do Rio, mas como entusiasta/fã, não a trabalho. Imagino a dinâmica complexa que é fazer esse mundaréu de gente coabitar aquele espaço e ainda fazer as coisas funcionarem bem. Como amante dos esportes, foi uma experiência única em todos os sentidos.

Aurelio
Aurelio
1 mês atrás

Interessantíssimo, Felipe. Adorei sua cobertura das Olimpíadas.
Por vezes sinto saudades do jornalismo “da velha guarda”, mas lendo seus artigos vejo que não há tanto motivo para saudosismo. Brilhante, está de parabéns. :-)

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