Sobre Iga, Emma, escolhas e rumos

Foto: Corinne Dubreuil/FFT

Iga Swiatek e Emma Raducanu têm uma diferença de idade de apenas um ano e conquistaram seus primeiros títulos de Grand Slam na mesma época, a polonesa no saibro de Roland Garros em 2020 e a britânica no US Open do ano seguinte. Elas se enfrentaram na manhã deste sábado (ou sexta à noite pelo horário do Brasil) pela terceira rodada do Australian Open e Swiatek venceu com muita facilidade, 6/1 e 6/0 em apenas 1h10 de partida. E a diferença apresentada em quadra e nos rumos de cada carreira parece ainda maior do que a distância entre o segundo e o 61º lugar do ranking que ocupam atualmente.

Swiatek era apenas a 54ª do ranking e tinha 19 anos quando venceu o primeiro de seus quatro títulos em Paris e começou a construir uma carreira consistente no alto nível do tênis mundial. Mesmo sem conquistar o segundo Slam já em 2021, a polonesa se estabeleceu no top 10. Atingiu um pico na quarta posição do ranking e terminou o ano em nono, disputando o Finals em Guadalajara. Durante a pré-temporada para 2022, anunciou uma troca de treinador. Saiu Piotr Sierzputowski e chegou Tomasz Wiktorowski. O objetivo era claro: Fazer de Iga uma jogadora mais agressiva e com maior solidez do fundo de quadra, capaz de enfrentar e vencer num circuito dominado por jogadoras mais altas, fortes fisicamente e com muita potência nos golpes.

Os resultados foram praticamente imediatos. Em menos de dois meses, saltou da nona para a segunda posição do ranking. E quando a então número 1 Ashleigh Barty anunciou o fim da carreira profissional, a ainda jovem polonesa soube assumir todas as responsabilidades que a liderança exige e marcou 37 vitórias seguidas, com títulos em Doha, Indian Wells, Miami, Stuttgart, Roma e o segundo Roland Garros. Domínio incontestável do circuito. A psicóloga Daria Abramowicz sempre teve papel fundamental na equipe e até mesmo o pai, Tomasz Swiatek, viajava com a filha em alguns torneios, mas sempre com presença disceta. Em alto nível também nos dois últimos anos, acumula 22 títulos na WTA, com direito a cinco Grand Slam, o Finals e 125 semanas como número 1.

+ História, chaves, prêmios, recordes: clique aqui e saiba tudo do Australian Open

Para este início de 2025, são três grandes desafios para a polonesa: Ela começou um novo trabalho com o técnico Wim Fissette, que já treinou várias campeãs de Grand Slam como Kim Clijsters, Victoria Azarenka, Angelique Kerber e Naomi Osaka. Além disso, também busca a retomada da liderança do ranking, atualmente nas mãos de Aryna Sabalenka. Existe a chance de um confronto direto entre elas pelo número 1, caso alcancem a final. E também a repercussão negativa do caso de doping do ano passado, classificado pela tenista como “o pior momento de sua vida” e que colocou em dúvidas sobre seu futuro. Ela chegou a ficar suspensa por mês, mas teve sucesso na apelação e relata ter redobrado os cuidados e recebido o apoio das colegas de circuito.

Lesões e trocas de treinador comprometeram a evolução da britânica

Os caminhos de Raducanu foram tumultuados. A começar pela saída do técnico Andrew Richardson, que a levou ao título do US Open. A conquista não caiu do céu e nem foi sorte. As imagens estão aí. Foram dez vitórias seguidas desde o quali. A explicação oficial para a troca de comando era de que a britânica precisaria de um treinador com mais experiência no circuito. O alemão Torben Beltz, ex-técnico de Angelique Kerber, foi o escolhido, mas não durou muito. O russo Dmitry Tursunov, que já treinou Aryna Sabalenka e Anett Kontaveit, também passou pelo time em 2022 e ficou poucas semanas. Saiu dizendo que haviam ‘red flags’ nas relações da equipe. Treinadores da Associação Britânica, LTA, também fizeram colaborações pontuais com a tenista, que chegou a ser número 10 do mundo, mas não voltaria a conquistar títulos.

Além das trocas constantes de treinador e da dificuldade de estabelecer uma rotina de trabalho, Raducanu sofreu com uma série de lesões. A situação mais grave foi em 2023, quando operou os dois punhos e também o tornozelo, ficando todo o segundo semestre sem jogar. Ano passado, conseguiu alguns bons resultados, especialmente nos confrontos da Billie Jean King Cup e também na temporada de grama, vencendo grandes nomes como Caroline Garcia, Jessica Pegula e Maria Sakkari. Mas a britânica terminou o ano passado com uma lesão no pé esquerdo em Seul e começou 2025 abandonando o torneio de Auckland por lesão nas costas. Por melhor que ela consiga jogar em algumas apresentações, e não se desaprende a jogar tênis, é muito difícil pensar em evolução e competitividade para uma tenista que não consegue ter bons resultados em semanas consecutivas. Para este ano, chegou mais um membro à equipe, o preparador físico Yutaka Nakamura, que já trabalhou com nomes como Naomi Osaka e Maria Sharapova.

Faturamento e compromissos extra-quadra
Sportico

Mesmo sem conseguir vencer tantos jogos, Raducanu é um fenômeno no mercado publicitário, tanto no Reino Unido quanto na China, terra natal de sua mãe. Poliglota e com ótima formação educacional, comunica-se muito bem em mandarim e chegou a assumir um pouco do vácuo deixado pelo fim da carreira profissional de Na Li. Mas já foi suplantada dessa posição pela atual campeã olímpica Qinwen Zheng, uma das atletas de maior faturamento no planeta em 2024. A britânica já foi muitas vezes criticada pela quantidade de acordos comerciais, sob a alegação de que isso atrapalha sua carreira de tenista. E por outro lado, Swiatek já falou por diversas vezes sobre o desafio de equilibrar o calendário que atenda seus objetivos em quadra, as obrigações com os patrocinadores e, principalmente, o descanso para cuidar da saúde física e mental. O entorno de Iga parece ter encontrado soluções melhores que o de Emma.

E até mesmo quando se fala em dinheiro, Iga também começa abrir vantagem. Um levantamento da Sportico, portal especializado em negócios do esporte, mostrou que a polonesa terminou 2024 como a terceira atleta mais bem paga do mundo, com aproximadamente US$ 21,4 milhões. Raducanu ficou em sétimo lugar da lista, com aproximadamente US$ 15 milhões. Mas os ganhos fora da quadra, com acordos publicitários, são parecidos, US$ 13 milhões da polonesa e US$ 14 milhões da britânica. A diferença está no que Iga consegue conquistar dentro da quadra, nas premiações dos torneios.

Começou o juvenil e Victória mostra evolução

A participação brasileira no Australian Open juvenil começou com uma ótima apresetação de Victória Barros, que conseguiu sua primeira vitória em um Grand Slam aos 15 anos, ao marcar as parciais de 6/3 e 6/4 contra a israelense de 17 anos Mika Buchnik, cabeça 15 do torneio e 20ª do ranking. Sua próxima rival é a sérvia Petra Konjikusic.

Além do ótimo resultado, é a oportunidade de acompanhar a evolução no jogo de Victória, ainda mais porque são poucos os torneios dela com transmissão. Se for comparar com Wimbledon e US Open juvenil, por exemplo, já possível ver que ela está bem mais estruturada pra controlar as trocas de fundo. No passado, quando a víamos jogar os torneios aqui no Brasil ou o Mundial de 14 anos, já era possível notar sua muita habilidade e capacidade de variações (o que chamou atenção até do técnico Patrick Mouratoglou e de Ivan Ljubicic, por exemplo). Ela mantém essas características, mas sabendo como usar e combinando com jogo mais sólido. Com a eliminação da britânica Mika Stojsavljevic, cabeça 2 do torneio e campeã do US Open, a brasileira passa a ter um caminho na chave interessante para avançar.

Guto Miguel e Nauhany Silva foram eliminados na rodada de estreia. Naná foi superada pela norte-americana Thea Frodin, de 16 anos e 25ª do ranking, com parciais de 6/3 e 7/6 (7-1). Já o responsável por eliminar Guto na primeira rodada foi o suíço Henry Bernet, oitavo cabeça de chave em Melbourne, que fez 6/3 e 6/1. Além dos três brasileiros que estrearam neste sábado nas chaves individuais juvenis, ainda falta jogar Pedro Dietrich, que enfrentará na primeira rodada o convidado da casa Ymerali Ibraimi.

Subscribe
Notificar
guest
6 Comentários
Oldest
Newest Most Voted
Inline Feedbacks
Ver todos os comentários
SANDRO
SANDRO
6 horas atrás

Bobeou, a IGA atropelou… Com seus já conhecidos pneus…

Flávio
Flávio
5 horas atrás
Responder para  SANDRO

Com o presente que a Iga ganhou com este sorteio aí é moleza, ou seja, a chave da Iga até as quartas esta igual um WTA 250. kkkkkkkkkkkkkk

Ronildo
Ronildo
5 horas atrás

Legal estes paralelos entre as carreiras de Swiatek e Raducanu.

João Sawao ando
João Sawao ando
4 horas atrás

A emma quer saber dos seus contratos publicitários. Já é milionária e tênis ficou em segundo plano .se conseguir se manter entre as 100 do mundo esta nos gs

Lázaro
Lázaro
2 horas atrás

Mário, vi o segundo set da Naná. Ela bate muito forte com a direita para sua idade, mas impressionou-me o percentual de erros no primeiro serviço. Não vi as estatísticas, mas não deve ter acertado 30% e aí sofria com a devolução agressiva da adversária. Foi algo deste jogo, nervosismo, ou ela tem essa deficiência?

Jornalista de TenisBrasil e frequentador dee Challengers e Futures. Já trabalhou para CBT, Revista Tênis e redações do Terra Magazine e Gazeta Esportiva. Neste blog, fala sobre o circuito juvenil e promessas do tênis nacional e internacional.
Jornalista de TenisBrasil e frequentador dee Challengers e Futures. Já trabalhou para CBT, Revista Tênis e redações do Terra Magazine e Gazeta Esportiva. Neste blog, fala sobre o circuito juvenil e promessas do tênis nacional e internacional.
plugins premium WordPress

Comunicar erro

Comunique a redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nessa página.

Obs.: Link e título da página são enviados automaticamente ao TenisBrasil.