Apesar dos três sets a zero, o retorno de Novak Djokovic às quadras em sua estreia no US Open teve contorno assustador. Ali pela metade da segunda série, muito cedo portanto para um jogo de Grand Slam, o tetracampeão já se mostrava esgotado ao fim das trocas mais longas de bola e parecia caminhar para uma situação delicada.
Mas Learner Tien não soube tirar proveito. Ao contrário, foi o sérvio quem lhe deu uma aula de perseverança e apuro tático. Sem fugir dos ralis, apesar da evidente dificuldade, Nole aproveitava qualquer chance para tentar uma bola de definição, o que incluiu deixadinhas e saque-voleios impecáveis. O garoto, metade de seus 38 anos, insistiu em esperar o erro, em atitude pouco proativa, que certamente o novo orientador Michael Chang vai precisar fazê-lo enxergar.
O tiebreak de Tien foi desastroso e a experiência de Djokovic, determinante. Perder o segundo set e alongar a partida projetava evidentemente um quadro desastroso. O sérvio chamou atendimento médico, mas tratou apenas uma bolha no pé, um bom motivo também para limitações. O canhoto norte-americano então saiu com quebra e fez outra vez tudo errado, agora apressado demais. A expressão de Chang dizia tudo ao ver o pupilo errar dois smashes consecutivos.
Sem competir desde a semifinal de Wimbledon, Djokovic deixou a quadra com duas impressões claras: seus golpes continuam pesados, precisos e diferenciados, com a conhecida maestria na capacidade de improvisação, mas isso não será suficiente para levá-lo muito longe num Slam tão exigente, onde a umidade cobra seu preço, caso o físico esteja limitado. Por sorte, Zachary Svajda não parece ter currículo para impedir que o sérvio siga com a espetacular estatística de jamais ter perdido antes da terceira rodada em seus 18 US Open anteriores.
A incrível confusão na queda de Medvedev
Um desavisado fotógrafo, que invadiu a quadra na hora que Benjamin Bonzi iria dar o segundo saque para tentar ganhar o jogo de Daniil Medvedev, gerou uma das maiores confusões já vistas num Grand Slam. O sempre controverso árbitro Greg Allensworth fez o certo e mandou voltar o primeiro serviço, o que gerou uma revolta desproporcional do russo, que deve ser severamente punido pela ATP. Primeiro por ter dito que o árbitro queria encerrar logo o jogo e ir embora. “Ele não ganha por hora, ganha por jogo”, gritou aos microfones, incentivando em seguida que grande parte do público interferisse com vaias, causando uma barulheira poucas vezes vistas num estádio de tênis.
Bonzi, que não tinha nada a ver com isso, precisou esperar sete minutos para sacar, perdeu o match-point, o game e o set, sentiu o joelho e por muito pouco não levou a virada. Claro que o francês poderia ter amenizado a bagunça simplesmente recusando refazer o primeiro saque. Seria o mais sensato, mas é difícil pedir razoabilidade a um tenista diante de momento tão delicado – e isso vale tanto para ele como para Medvedev: um louco pela vitória importante, outro louco para sair da má fase.
Medvedev, que destruiu raquete ao final do jogo, está num buraco cada vez mais profundo. O homem que mais venceu e fez finais sobre a quadra dura desde 2018 novamente não passou da estreia pelo terceiro Grand Slam seguido, e olha que na Austrália só ganhou uma partida. Está totalmente perdido.
Brigas pelo número 1
Haverá diferentes disputas pela liderança dos rankings, o que apimenta este US Open. No masculino, Carlos Alcaraz precisa fazer a mesma campanha que Jannik Sinner até a semi. Claro que, se os dois forem à final, aí o título decidirá o posto.
A situação de Aryna Sabalenka é um pouco mais tranquila, já que precisa atingir as quartas para se manter na frente. Caso perca antes, Iga Swiatek e Coco Gauff terão chance de tomar o número 1 caso sejam campeãs. A atual campeã estreou neste domingo, fez primeiro set irregular mas depois se firmou e tirou Rebeka Masarova.
Em duplas, Taylor Townsend sofre ameaça de inúmeras tenistas, exceto é claro sua parceria Katerina Siniakova. As mais próximas são Jasmine Paolini e Sara Errani. Na ATP, Lloyd Glasspool só corre risco se Mate Pavic/Marcelo Arévalo levarem o título.
Bia Haddad, que estreia na terça-feira, também está no sufoco. Caso não defenda os 420 pontos, deixará o top 30 e descerá pelo menos para 32ª. João Fonseca, em ação por volta das 14h desta segunda-feira contra Miomir Kecmanovic, pode mirar o top 40 se somar vitórias. Os dois fortes tchecos que estão no seu caminho venceram bem: Tomas Machac massacrou Luca Nardi e Jakub Mensik passou por Nico Jarry, anotou 16 aces e 21 erros e agora pega o quali Ugo Blanchet.
Saiba mais
– Os EUA largaram com 23 jogadores na chave masculina, o maior número desde os 25 de 1995, seis deles como cabeças de chave e dois entre os oito principais favoritos. Taylor Fritz e Shelton estrearam neste domingo sem grandes problemas.
– Outro cabeça se despediu cedo: Tallon Griekspoor perdeu do bom e velho Adrian Mannarino. A boa notícia foi Alejandro Davidovich, que enfim voltou a fazer exibição muito decente.
– Emma Raducanu voltou a vencer em Flushing Meadows depois do título histórico de 2021. O grande jogo do dia coube a Alexandra Eala e sua vitória emocionante sobre a cabeça 14 Clara Tauson com 13-11 no supertiebreak.
– Houve 10 finalistas distintas nos 5 torneios preparatórios para o US Open. Rybakina fez três semis – Washington, Montréal e Cincinnati – e perde todas.
– Rybakina aliás lidera a tabela de aces na temporada. com 359, seguida por Tauson (301), Noskova (295), Alexandrova (246) e Osaka (226). Tauson tem a melhor marca para um jogo: 26.
– Djoko chega a 80 Slam disputados na carreira e está agora a apenas um dos recordistas Roger Federer e Feliciano López
– Nada menos do que 14 detentoras de título de Slam estão na chave de simples. As únicas ausências entre as em atividade são Andreescu e Stephens. Seis dessas 14 ganharam o US Open. Entre os homens, apenas cinco campeões de Slam aparecem na chave: Djokovic, Alcaraz, Sinner, Medvedev e Cilic.
– Uma boa notícia. A previsão é que não façam mais do que 27 graus em toda esta primeira semana de US Open. E mesmo na outra semana, a máxima esperada é de 28. Um alento e tanto depois do que vimos em Cincinnati.