Um escocês que lavou a alma dos britânicos e ganhou seus corações

Foto: Bob Martin/AELTC

Suely Kawana
Da redação

Depois de uma carreira de 19 anos que incluiu três troféus de Grand Slam e duas medalhas de ouro olímpicas, Andy Murray se aposentou nesta quinta-feira do tênis em Paris, em sua quinta participação em Olimpíadas. Aos 37 anos, ele vinha lutando desde 2017 contra problemas nas costas e dores no quadril, que acabaram por ter um peso grande em sua decisão, apesar da vontade de continuar fazendo o que ama.

Murray construiu uma carreira de respeito, conquistando 46 títulos de ATP, sendo 14 de Masters 1000, o ATP Finals de 2016 e o número 1 do mundo a seguir, além das conquistas em Slam. Na Copa Davis, em 2015, liderou a Grã-Bretanha na conquista de seu primeiro triunfo em 79 anos. Coube ao escocês recuperar a honra britânica em Wimbledon e, com isso, conquistou de vez o amor da nação e foi condecorado com a medalha da Ordem do Império Britânico pelo Príncipe William, em 17 de outubro de 2013.

Após o bi em Wimbledon, foi condecorado pelo Príncipe Charles, então herdeiro do trono, no Palácio de Buckingham em 16 de maio de 2019, juntando-se a Sir Norman Brookes (1939) como o único tenista a ser nomeado cavaleiro e ganhando o título de “Sir” pelos serviços prestados.

O maior tenista britânico nasceu em Glasgow, em 15 de maio de 1987, mas cresceu em Dunblane, tendo seu início no tênis sido orientado pela mãe Judy Murray, e por Leon Smith, dos 11 aos 17 anos, tendo treinado também em Barcelona na Academia Sanchez-Casal. Na fase juvenil, venceu o US Open em 2004, chegou a ser número 2 no ranking da categoria e se profissionalizou em 2005. O primeiro título de ATP veio em 2006, em San Jose, na Califórnia, batendo o australiano Lleyton Hewitt na decisão. Em 2007, ingressou no top 10 da ATP aos 19 anos.

A primeira final de Grand Slam veio em 2008, nos Estados Unidos, onde perdeu o título para Roger Federer. Desde então, despontou de vez no cenário internacional e chegou ao 2º lugar no ranking mundial em 2009.

O último dos 46 títulos veio em 2019, em Antuérpia, na Bélgica. As lesões prejudicaram Murray durante grande parte dos últimos sete anos e forçaram-no a se afastar brevemente, em 2019. Antes das lesões, o jogo de Murray fazia com que os fãs falassem sobre um Big 4 no tênis masculino, incluindo-o ao lado de Roger Federer, Rafael Nadal e Novak Djokovic. Dos quatro, era o mais expressivo, o que mais mostrava suas emoções através de berros, gestos e algumas raquetes destruídas.

Murray ganhou seu primeiro Slam no US Open de 2012 e fez outras oito finais de Slam, em que perdeu para Djokovic (cinco vezes) ou Federer (três vezes). Seus cinco vice-campeonatos no Australian Open são um recorde. Em 2014, surpreendeu o circuito ao contratar a francesa Amélie Mauresmo como treinadora.

O segundo Slam veio em 2013 em Wimbledon, lavando a alma dos compatriotas que desde 1936 não viam um britânico triunfar em simples em casa. O bicampeonato aconteceu em 2016, mesmo ano em que também chegou às finais na Austrália e de Roland Garros, comprovando a grande fase e coroado com o bicampeonato olímpico no Rio. Com isso, ascendeu ao topo do ranking mundial pela primeira vez em novembro, permanecendo lá até agosto do ano seguinte.

Mas 2017 também marca o começo dos problemas físicos, que afetaram o desempenho. Ele não conseguiu defender o título em Wimbledon, caindo nas quartas de final para Sam Querrey em cinco sets. Na sequência, perdeu os torneios do Canadá e Cincinnati devido às dores no quadril, cedendo a liderança do ranking para Nadal e terminando o ano na 16ª posição.

Em janeiro de 2018, veio a cirurgia no quadril e só pode voltar a jogar no fim de agosto daquele ano, por cerca de um mês. Depois de novo afastamento, retornou a Melbourne em janeiro de 2019, não passando da estreia. Devido às dores constantes, ele havia dito antes do Grand Slam australiano que aquela seria sua última temporada, chegando a chorar ao contar os problemas que vinha enfrentando há tempos.

No fim de janeiro de 2019, se submeteu a nova cirurgia, fazendo uma artroplastia de recapeamento do quadril, uma alternativa à prótese total. A operação consistia em colocar peças de metal sobre partes do osso do quadril. “Espero que isso signifique o fim da minha dor no quadril. Agora, eu tenho um quadril de metal”, escreveu Murray no seu Instagram. A recuperação foi longa e ele só voltou ao circuito para a temporada de grama, caindo na estreia em Queen’s e na segunda rodada em Eastbourne, desistindo com o coração partido de Wimbledon. O resultado foi a queda para o 839º lugar no ranking.

Mesmo depois das cirurgias no quadril, Murray conseguia algumas boas semanas esporadicamente no circuito. E nos últimos anos, obteve vitórias contra jogadores como Alexander Zverev, Carlos Alcaraz, Matteo Berrettini e Stefanos Tsitsipas. Ele até retornou ao top 40 do ranking em julho do ano passado, mas não conseguiu novos títulos no circuito ou voltou às oitavas em Grand Slam. Recentemente, no ATP 500 de Queen’s, em Londres, disputou o milésimo jogo da carreira pelo circuito da ATP e derrotou o australiano Alexei Popyrin. Na rodada seguinte, precisou se retirar da partida contra Jordan Thompson, sentindo uma lesão nas costas.

Impossibilitado de jogar em simples em sua última participação em Wimbledon, por causa de uma recente cirurgia nas costas, o bicampeão se juntou ao irmão Jamie para o torneio de duplas. Mas apesar de toda a torcida, foram eliminados pelos australianos Rinky Hijikata e John Peers por 7/6 (8-6) e 6/4. Logo após, Murray se despediu dos fãs em emocionante homenagem na Quadra Central. Ele tinha a intenção de disputar ainda a dupla mista, ao lado de Emma Raducanu, mas a compatriota, depois de aceitar o convite, acabou por desistir, devido a lesão no punho.

Campanha olímpica

 

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Murray conquistou o primeiro ouro olímpico em Londres-2012, depois de derrotar Roger Federer em dois sets, vingando-se da derrota dolorosa, uma semana antes, para o suíço na final de Wimbledon. Ele também conquistou a medalha de prata em duplas mistas em Londres, ao lado de Laura Robson.

Quatro anos mais tarde, em 2016, no Rio de Janeiro, carregou a bandeira da Grã-Bretanha na cerimônia de abertura dos Jogos e defendeu o título olímpico, derrotando Juan Martín del Potro na decisão.

Premiação em dinheiro e feminista declarado

Murray se aposenta com cerca de US$ 200 milhões provenientes de prêmios em dinheiro, aparições e patrocínios desde que se tornou profissional em 2005. Ele ocupa o quarto lugar de todos os tempos em ganhos entre os tenistas masculinos, com US$ 64,7 milhões em prêmios oficiais, atrás de Djokovic (US$ 182,5 milhões), Nadal (US$ 134,9 mi) e Federer (US$ 130,6 mi).

O britânico também foi um forte apoiador do tênis feminino, chegando a afirmar que se considerava um feminista e defensor da igualdade de premiações entre homens e mulheres no circuito, atitude que era muito elogiada pelas jogadoras, como as irmãs Venus e Serena Williams, e a fundadora da WTA Billie Jean King. Serena, que já foi parceira de Murray nas duplas mistas em Wimbledon, gravou uma mensagem em vídeo falando sobre o tema: “Guardo um lugar especial no meu coração para você porque sempre falou em prol das mulheres e defendeu tudo o que merecemos. As coisas que você disse sobre mim e Venus e como as mulheres serviram de inspiração para você, sempre serão lembradas por mim. Vou sempre lembrar do apoio que você deu às mulheres”.

 

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Felicidade na vida particular

Murray se casou no auge da carreira, em 11 de abril de 2015 com Kim Sears, que conheceu em 2005, filha do técnico Nigel Sears. O casal morava anteriormente em Oxshott, Surrey, mas em 2022 mudou-se para a vizinha Leatherhead. A casa recém-construída acomoda a jovem família e seus cães. A filha mais velha é Sophia, de 8 anos, seguida por Edie, de 7 Teddy, de 5  e a caçula Lola, de apenas 3.

Há poucas semanas, durante sua despedida de Wimbledon, afirmou que um dos objetivos para essa nova fase da vida é cuidar do corpo para colocar em dia as brincadeiras com as crianças.

“Foi incrível alcançar coisas tão grandes no esporte”, afirma Murray

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