por Mário Sérgio Cruz, de Brasília
As recentes suspensões e até mesmo banimentos de tenistas brasileiros por casos de doping ou envolvimento com apostas e manipulação de resultados estão sendo observados de perto pelas autoridades do esporte no país. É o que diz Rafael Westrupp, presidente da Confederação, que citou algumas iniciativas que estão sendo tomadas pela entidade para coibir esses casos e reeducar jovens jogadores e também os profissionais em atividade.
Nos últimos sete anos, o país teve dez ocorrências de jogadores suspensos por doping e dois atletas estão atualmente afastados do circuito por isso. Nas maioria dos casos, foi apresentada a justificativa de contaminação cruzada de suplemento alimentar por farmácias de manipulação. “Acredito que tenha sido um aprendizado geral com relação às farmácias”, disse Westrupp, em entrevista a TenisBrasil durante o confronto entre Brasil e Coreia do Sul pela Billie Jean King Cup em Brasília no último fim de semana.
“Os atletas se reúnem com nossa equipe jurídica, que vem apresentar todas essas questões, principalmente do programa anticorrupção. Tivemos um encontro com o Comitê Olímpico do Brasil, com toda a equipe de saúde para tratar a questão do doping. É uma preocupação e um trabalho que a gente faz junto à ABCD (Agência Brasileira de Controle de Dopagem). Todos os materiais que recebemos deles são encaminhados à comissão de atletas”, acrescentou o dirigente.
Já a respeito dos três banimentos do tênis brasileiro, dos jogadores João Souza e Diego Matos além do técnico Pertti Vesantera por manipulação de resultados, o presidente afirmou que “A Confederação lamenta, mas são pessoas que escolheram esse caminho e hoje estão pagando o preço” e defendeu o rigor das agências de controle do programa anticorrupção do tênis.
Também presidente da Confederação Sul-Americana de Tênis (Cosat), Westrupp também falou sobre as recentes mudanças de formato e modelo de disputas das copas Davis e Billie Jean King e a visão institucional do tênis brasileiro nas votações junto à Federação Internacional (ITF).
O dirigente também falou sobre a relação institucional da CBT com o Ministério do Esporte e o Governo Federal, citando o recente caso dos três atletas do tênis em cadeira de rodas, Ymanitu Silva, Leandro Penna e Daniel Rodrigues, que precisaram ser trazidos de Israel para o Brasil após os atentados do Hamas no país e a escalada dos conflitos no Oriente Médio. “Foi uma mobilização por três entidades muito importantes, o Ministério do Esporte, o Comitê Paralímpico Brasileiro e a Confederação. Então a gente deu as mãos para solucionar aquela situação”.
Confira a segunda parte da entrevista com Rafael Westrupp.
Como presidente da CBT e da Cosat, que avaliação você tem para as recentes mudanças de formato que a gente teve da Davis e da Billie Jean King Cup? Numa avaliação pessoal sua e também institucional, você considera que isso foi positivo ou impacta positivamente para o Brasil?
Venho participando das reuniões e assembleias gerais da ITF desde o tempo em que estava trabalhando como superintendente da CBT. E a gente entendeu que Federação apresentou uma realidade naquele momento que era necessário fazer uma mudança, principalmente na questão financeira e na remuneração dos atletas e também das jogadoras da Billie Jean King Cup. Então, com todo esse momento de equidade de gênero e de proporcionar as mesmas condições para homens e mulheres, a gente entendeu enquanto assembleia essa necessidade.
Quando você tem uma Copa do Mundo, e as maiores competições entre países do mundo são a Copa Davis e a Billie Jean, tem mais de 150 países disputando ao mesmo tempo. E na verdade, elas só mudaram estruturalmente para 18 países. Para os outros, continua igual, você joga em casa e fora, mas com volume financeiro maior, onde você remunera diretamente o atleta. Hoje o nosso time da Billie Jean King Cup é remunerado, elas jogam pelo país, mas são pagas com o prize-money e isso aumentou nos últimos anos após essas mudanças.
Na fase final da Davis tivemos problemas com relação à falta de público em confrontos sem os times da casa ou problemas também com os horários. Há possibilidade de rever essas mudanças, ou voltar para o formato anterior, talvez não com os cinco sets, mas com jogos dentro e fora?
Se no futuro, vai haver algum ajuste, eu não tenho essa informação. Não sei qual é a intenção da ITF com relação a isso, mas a gente entende que já existe uma adaptação a essa nova cultura. E com relação à programação, é uma questão que não é exclusiva da Davis. Vimos o Masters 1000 de Paris agora, com jogos até a madrugada, a gente sabe de outros torneios que enfrentaram esse tipo de situação. E tem vários fatores envolvidos como horários de televisão e divisão de sessões de ingressos. Às vezes você tem que colocar dois jogos na sessão noturna, às vezes o último da diurna atrasa ou chove. Mas acredito que é uma questão equacionada.
Eu queria saber se a CBT e também a Cosat tem algum programa de prevenção e educação com relação a casos de doping, envolvimento com apostas ou manipulação de resultados. A gente tem no momento dois tenistas brasileiros suspensos por doping [Igor Marcondes, por três anos, e Victor Bini, por 13 meses] e tivemos dez casos nos últimos anos. Também foram três banimentos, dois jogadores [João Souza e Diego Matos] e um técnico [Pertti Vesantera] por manipulação de resultados. Então quero saber se existe algum programa com os jovens e também para os tenistas em atividade para prevenir que esse tipo de coisa não se repita.
A Confederação faz um encontro anual de treinamento, todo final de ano desde 2017, onde não é só um trabalho em quadra ou trabalho físico dos atletas. São feitas palestras todas as noites, ao final dos treinamentos. E uma delas é sempre com nossa equipe jurídica, que vem apresentar todas essas questões, principalmente do programa anticorrupção e da manipulação de jogos. É um trabalho de conscientização e uma apresentação técnica e jurídica a respeito disso.
Nós tivemos em uma das reuniões, um encontro com o Comitê Olímpico do Brasil, com toda a equipe de saúde para tratar a questão do doping. É uma preocupação e um trabalho que a gente faz junto à ABCD (Agência Brasileira de Controle de Dopagem). Todos os materiais que recebemos deles são encaminhados à comissão de atletas.
E em relação aos fatos ocorridos, principalmente dos banimentos, a Confederação lamenta, mas são pessoas que escolheram esse caminho e hoje estão pagando o preço. O esporte tem que ter sempre essa fiscalização da TIU (Tennis Integrity Unit) e agora da ITIA (International Tennis Integrity Agency) e é fundamental agir com rigor, porque o esporte precisa ser limpo. Esse tipo de atividade tem que ser combatido cada vez mais. Então, apoiamos todas as iniciativas de órgãos de controle em relação a isso.
A maioria desses casos de doping foi justificada como contaminação cruzada de suplemento alimentar por farmácias de manipulação. Foi a principal linha de defesa dos atletas. E inclusive, como muitos casos aqui do Brasil tiveram essa justificativa, estamos vendo penas cada vez maiores. Se um jogador brasileiro é pego hoje, tem uma pena maior que alguém suspenso cinco atrás pelo mesmo motivo. A CBT tem alguma orientação sobre esse tema da suplementação e das farmácias?
Os atletas têm as suas equipes. E eu, pelo menos, acredito muito que foi apenas a contaminação nas situações citadas. Acredito que tenha sido um aprendizado geral com relação às farmácias. Mas, de novo, os atletas têm as equipes técnicas deles, os fisiologistas e fisioterapeutas, os médicos. E são eles que conduzem essa parte de saúde dos atletas. Então, a Confederação não tem nenhuma ingerência sobre escolha das farmácias A ou B.
A gente vive em um país muito polarizado politicamente, vimos isso nas últimas eleições e em eventos extremos como o 8 de janeiro. Com relação a eventuais postagens que os atletas fazem nas redes sociais, existe alguma orientação ou preocupação da CBT a respeito de comentários que possam afetar negativamente a imagem do tênis?
A Confederação não interfere em nada. São pessoas adultas e cada um assume a suas responsabilidades e seus atos. Acho que a gente vive numa democracia e tem que respeitar as opiniões de cada um. É importante dizer que a Confederação é muito democrática, hoje tem uma comissão de atletas que participa da assembleia geral, com participação nas votações. É uma instituição com processo eleitoral aberto. Então a gente respeita a democracia, e cada um tem seus atos e suas consequências.
E qual é a relação da Confederação hoje com o Ministério do Esporte? É uma pasta que voltou a ter status de ministério no governo atual e que teve uma recente troca de comando também. Como está sendo a relação com a equipe atual?
A gente tem uma relação extremamente republicana com o Ministério, e mesmo no governo anterior que era uma secretaria vinculada ao Ministério da Cidadania. Depois no governo atual foi recriado o Mninistério do Esporte. A Confederação não atua em qualquer convênio com os ministérios desde 2017, na nossa gestão. Mas existe uma relação institucional muito positiva.
Eu visitei a ex-ministra, Ana Moser, aqui em Brasília, apresentei um relatório de atividades de 2022. A troca de comando foi muito recente, a gente está envolvido com o Pan-Americano e o Parapan, mas já tive o primeiro contato com o atual ministro André Fufuca. Foi uma situação em que ele nos ajudou muito no caso dos três tenistas que estavam em Israel quando começou a guerra. Foi uma mobilização por três entidades muito importantes, o Ministério do Esporte, o Comitê Paralímpico Brasileiro e a Confederação. Então a gente deu as mãos para solucionar aquela situação extraordinária e específica. Então nossa relação é sempre muito boa, não apenas com o Ministério, mas com todas as entidades que regem o esporte e o paradesporto nacional. Não necessariamente tendo uma relação formal por meio de convênio.