Sinner ousa, acerta e tem muito a crescer

Jannik Sinner deu uma grande cartada na sua carreira e, apesar dos pequenos tropeços iniciais, parece que acertou em cheio. E não foi apenas o risco de se separar do antigo treinador e padrinho Riccardo Piatti, mas de ousar na contratação de dois treinadores para trabalharem de forma simultânea. Uma fórmula que já havia sido testada por grandes do circuito, como Novak Djokovic e Rafael Nadal, e se mostrou extremamente eficiente.

Sinner optou pela competência técnica de Simone Vagnozzi, a quem reputa como um grande conhecedor de biomecânica e portanto de golpes, e pelo conhecimento de longos carnavais do australiano Darren Cahill, este para preparar a parte tática dos jogos e conferir a segurança tão importante quando se está perto dos grandes troféus.

Claro que isso tudo exigiu paciência e sacrifícios. O saque de Sinner por exemplo necessitava ganhar peso e profundidade. Ainda oscila, com índices perigosamente abaixo dos 50%, mas o italiano tem escapado de muitas dificuldades com o primeiro serviço. Já seus golpes de base são espetaculares e a rigor não deve em nada para Djokovic, Carlos Alcaraz ou Holger Rune, que são hoje os que batem mais forte dos dois lados.

Mas isso não é o bastante e Cahill mostrou a Sinner que ele precisa ir atrás de seus tiros espetaculares para fechar o ponto na rede. Claramente, Jannik ainda duvida. É possível observar um recuo, um vacilo, uma dúvida. Evidente que a transição ainda não está natural como tem de ser. Assim como dar curtas permanece uma raridade. Djokovic e Alcaraz usam essa habilidade com maestria, justamente porque possuem golpes muito agressivos dos dois lados e transformam o drop-shot numa surpresa com grande dificuldade de defesa.

Então, eu ouso dizer que Sinner está a 70% de sua plena capacidade. E isso na verdade é extremamente animador. Porque ao mesmo tempo acumula experiências e ganha prestígio com vitórias e títulos importantes. Sua caminhada neste Masters de Toronto não foi espetacular, embora tenha tido grandes momentos, principalmente diante de Gael Monfils ou Tommy Paul. Porém, tira um peso de seus ombros – incrível a cobrança sobre um garoto de 21 anos – e o faz acreditar definitivamente que pode.

Vale ainda destacar o potencial de Tommy Paul, que é perigoso em qualquer piso porém precisa ficar mentalmente mais estável, e os atalhos que Alex de Minaur consegue encontrar para se manter na elite do esporte, compensando a força inferior com um trabalho de formiga. Há espaço para todos os estilos no circuito. Basta determinação.

Pegula embala?
Não há dúvida que o piso sintético é o habitat natural de Jessica Pegula, mas nem sempre ela tira seu melhor. Em Montréal, se imbuiu do espírito de resiliência tão essencial e obteve uma vitória muito especial sobre a número 1, principalmente porque Iga Swiatek abriu 4/2 no terceiro set e não é comum dobrar a polonesa nessas circunstâncias. A norte-americana insistiu, apostou na devolução agressiva e barrou Iga pela segunda vez em oito meses na quadra dura, acendendo um sinal de alerta.

Será que Pegula embala e entra como uma postulante real no US Open? Acho que o problema não é técnico, nem os 29 anos são empecilho. A questão está no emocional. Sempre que se fala em Pegula, a primeira menção é sobre a conta bancária do pai multimilionário e daí fica a impressão que Jessica está no circuito para passear e se divertir. Ledo engano. Chegar tão lá em cima do ranking exige um esforço hercúleo e Pegula se dispôs a isso ao invés de curtir a vida de herdeira afortunada. Merece na verdade elogio. O duro é separar as duas coisas e por vezes parece que ela própria vê dificuldade nisso.

Aliás, registre-se seu comportamento exemplar ao final da desastrosa decisão do título, em que Liudmila Samsonova mal conseguiu ganhar um game. Pegula lembrou na cerimônia que a russa fez cinco jogos em três dias, com rodadas duplas tanto na sexta como no domingo.

De olho em Cincinnati
Novak Djokovic está de volta ao verão americano e busca o tri em Cincinnati. Pode ter bons testes contra Alejandro Davidovich e De Minaur – ou quem sabe o renascido Gael Monfils? -, mas já fica a expectativa pelo reencontro com Sinner em prováveis quartas. O italiano teria de superar Taylor Fritz, se é que o dono da casa passa por Jiri Lehecka na estreia. Sem grande sucesso no Canadá, Daniil Medvedev e Holger Rune também estão no lado de baixo da chave. Um belíssimo avant-première para o US Open.

Alcaraz precisa chegar na final para não depender de Djokovic e chegar ao último Slam ainda como número 1, mas o destino colocou Paul na sua provável segunda partida e a sequência pode ter ainda Frances Tiafoe e quem sabe Andrey Rublev. O espanhol reconheceu a semana fraca em Toronto e achou um possível culpado: a bola Wilson. Aliás, Swiatek reclamou da mesma coisa.

Bia Haddad estreia já nesta segunda contra a vice de Roland Garros, Karolina Muchova, que a venceu duas vezes. Se avançar, pode ter Maria Sakkari nas oitavas e Pegula nas quartas. A brasileira só disputou Cincinnati duas vezes, a primeira em 2017, quando saiu do quali e ganhou uma rodada, e a outra no ano passado, batida na estreia por Jelena Ostapenko.

Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br
Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br

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