Sascha on fire

Alexander Zverev e Grigor Dimitrov disputaram os dois melhores sets que eu vi até agora neste US Open. Extremamente intensos, versáteis, games muito equilibrados e chance para os dois lados. O búlgaro deixou escapar os 2 a 0 e aí simplesmente desabou diante do alemão, que continuou batendo sem piedade o tempo todo.

É bem legal ver Sascha readquirindo o excelente tênis que praticava em 2022, quando sofreu a terrível contusão e as cirurgias. Além do saque bombástico – foram dezenas acima dos 200 km/h – e do agressivo backhand, um dos melhores do tênis que já vi, ele voltou a mostrar aquela disposição de ir mais à rede que havia agregado no começo da temporada passada e passou a ter um forehand claramente menos enrolado e portanto mais ofensivo.

Dimitrov começou a partida disposto a abusar dos slices cruzados para impedir que o backhand do alemão fosse tão efetivo e fez excepcionais contragolpes. Mexia-se muito bem e finalizou os dois primeiros sets com apenas 18 erros não forçados e 33 winners. Mas não capitalizou a vantagem de 4/2, nem os dois set-points no tiebreak (ainda que como devolvedor) e isso parece ter minado a cabeça e as pernas. Talvez tenha pesado o fato de ter perdido todas as cinco últimas contra o alemão, com sua única vitória lá em 2014.

O US Open tem sido o melhor Slam de Zverev, com final em 2020, semi em 2021 e agora oitavas de novo, como em 2019. Aliás, ele tem um curioso recorde combinado na história do tênis: foi o primeiro a virar uma semifinal de 2 sets atrás e depois a perder o título tendo vencido os dois sets iniciais.

Por tudo isso, o confronto diante de Jannik Sinner na segunda-feira promete demais. O italiano teve só um momento instável na partida contra Stan Wawrinka, que lhe custou um placar elástico no segundo set, mas no geral tem sido muito agradável perceber que ele está cada vez mais corajoso para ir à rede, algo que me parece ter tudo a ver com a chegada de Darren Cahill. Some-se ainda sua predileção evidente pelo piso sintético, onde soma agora 115 de suas 170 vitórias na carreira, assim como ganhou sete de seus oito títulos.

Para enriquecer ainda mais o clima, Zverev levou a melhor nos três mais recentes jogos contra Sinner, tendo perdido apenas o primeiro em Roland Garros de 2020. Há dois anos, tirou o italiano nas mesmas oitavas do US Open em sets diretos e repetiu a dose no saibro de Monte Carlo em partida duríssima em 2022. Sinner no entanto é outro. Apertem os cintos.

Resumão

  • Jogadores habilidosos, Carlos Alcaraz e Daniel Evans fizeram um jogo divertido, mas o primeiro saque do espanhol segue um problema. Acertou apenas 57%, ofereceu sete break-points e perdeu dois serviços. De qualquer forma, disparou 60 winners contra 28 e isso foi mais do que suficiente.
  • Seu adversário é uma surpresa: o jovem italiano Matteo Arnaldi, de 22 anos e 61º do mundo, que aproveitou todas as chances contra um desequilibrado Cameron Norrie.
  • Andrey Rublev levou um susto e precisou lutar para evitar um quinto set diante de Arthur Rinderknech, o terceiro francês seguido que enfrentou neste US Open. Reencontrará o canhoto Jack Draper, que faz inéditas oitavas de Slam. O russo ganhou os dois jogos contra ele.
  • Em mais uma rodada noturna, Daniil Medvedev outra vez se enrolou no terceiro set, mas conseguiu impedir jogo mais longo contra Sebastian Baez, chegando à quinta presença seguida na quarta rodada de Nova York. Agora, precisa ficar muito esperto contra Alex de Minaur, que perdeu quatro mas ganhou as duas mais recentes, incluindo quartas de Toronto.
  • Jessica Pegula repetiu a vitória de semanas atrás em Washington e tirou Elina Svitolina, mas foi sem dúvida o melhor jogo feminino do sábado. Isso garante mais um duelo todo americano nas oitavas, já que Madison Keys virou em cima de Liudimila Samsonova se mostrando recuperada da lesão no quadril.
  • Ons Jabeur teve uma considerável dose de sorte. Marie Bouzkova vinha melhor e tinha vantagem quando machucou a lombar. Ainda brigou muito e deixou claro que a tunisiana segue limitada pela gripe. Sua adversária será a jovem chinesa Qinwen Zheng. Perigo.
  • Exibição fulminante de Aryna Sabalenka, que repete duelo de Cincinnati contra Daria Kasatkina, em que venceu com folga.
  • Marketa Vondrousova massacrou Ekaterina Alexandrova e esbanja muita confiança, o que é mais um problema para a debutante Peyton Stearn administrar. A americana de 21 anos é campeã nacional universitária e carrega muita esperança.
  • Bia Haddad e Vika Azarenka nem precisaram entrar em quadra, Luísa Stefani e Jennifer Brady tiveram vitória duríssima sobre as cabeças 13. E João Fonseca estreia neste domingo na chave juvenil. A torcida continua.
  • Com Fritz, Tiafoe, Paul e Shelton, o tênis masculino americano tem quatro nomes nas oitavas do US Open pela primeira vez desde 2011.
Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br
Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br

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