Sabalenka x Kyrgios: é sério isso?

Confesso que fiquei abismada, para não usar outros termos, quando li sobre esse novo desafio previsto para 28 de dezembro, em Dubai.

Ponderei, refleti e não consegui digerir…

Já deixou de ser novidade esse tipo de desafio no tênis. Essa é a terceira edição da Guerra dos Sexos e merece uma reflexão.

A original aconteceu em 1973, quando Billie Jean King, uma das melhores tenistas da época, aceitou jogar contra o aposentado, porém ex-nº 1 do mundo e grande apostador, Bob Riggs, então com 55 anos de idade. O jogo foi vencido por ela e visto por mais de 150 milhões de espectadores em todo o mundo.

O fato foi muito importante na ocasião para reforçar a luta pela igualdade no esporte. Validou o profissionalismo no tênis e impulsionou a criação da WTA (Associação das tenistas profissionais).

Quando pensamos que o tênis havia recém se profissionalizado (1968) e a discriminação nos prêmios era gritante, onde mulheres chegavam a receber a nona parte de um prêmio, a vitória da norte-americana no Astrodome de Houston teve um valor imensurável.

A segunda edição, em 1992, que aconteceu em Nova York entre Martina Navratilova e o vencedor Jimmy Connors, não chegou a fazer muito sucesso.

Essa terceira edição, portanto, faz parte do contexto dessa nova era de eventos midiáticos e milionários, principalmente os realizados em países árabes.

A meu ver, além de encher os já abarrotados bolsos dos envolvidos, só um lado vai sofrer as consequências de qualquer resultado: o tênis feminino!

Supondo que Sabalenka vença, qual será o mérito de ganhar de um jogador que terá em frente uma quadra reduzida (9%) e regra adaptada (para ele, só um saque será permitido)? No caso contrário, perdendo, ela abre espaço para mais preconceito e discriminação contra as mulheres.

Os experts sabem que não há comparação de força, potência e agilidade entre os sexos. A fisiologia explica, a ciência conhece … mas a massa crítica não perdoará … nem o jogador envolvido tem poupado escárnio e provocação nos seus comentários. Já declarou que não precisará se esforçar tanto para a vitória.

Quanto à Sabalenka e a sua fala altruística, defendendo a posição de representante do tênis feminino, mostrando o seu valor, vale ressaltar que competir com homens é totalmente desnecessário para a causa. Esse momento já passou, conforme mostra a história.

Felizmente as tenistas não precisam mais desse tipo de bizarrice!

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Julio Marinho
Julio Marinho
2 horas atrás

Não poderia concordar mais. Sou um grande defensor do tênis feminino e do tênis de duplas. Só não curto mesmo o duplas mistas, exatamente por ter essa mistura entre fisiologias tão diferentes. Esse jogo, só por existir, já é uma derrota enorme para as mulheres. Mas é isso, Sabalenka pensou na grana e foi muito pouco prudente nos impactos. Kyrgios habita bem nesse mundo de click bait e comentários jocosos e provocativos. Para ele, só vai ser bom.

SANDRO
SANDRO
2 horas atrás

Como é chato alguém querer sempre se meter no livre arbítrio e na liberdade de escolha das jogadoras, como se elas fossem “incapazes” de tomar suas decisões ou como se elas tivessem “discernimento limitado” e suas decisões precisassem ser tuteladas por um tribunal de “frustrados” que não respeitam as escolhas delas…
Da mesma forma que desrespeitaram o “livre arbítrio” e a “liberdade de escolha” da Rybakina ao ponto de prejudicarem, e muito, a carreira dela, a ponto de ela ter uma queda nítida no ranking e não estar confortável nos torneios, agora é a vez de Sabalenka ser a vítima desta “patrulha chata e incômoda”…
Sabalenka e toda a equipe sabem que esse confronto com o Kyrgios é um jogo festivo, uma exibição, um amistoso, que “na prática” só vale o cachê pomposo que tanto Sabalenka quanto Kyrgios receberão…
Assim como o Big 3 e vários outros tenistas fizeram exibições ao longo de sua carreira para arrecadar um bolada $$$, Sabalenka tem todo direito de fazer o mesmo para arrecadar sua bolada $$$, e ninguém tem que meter o bedelho na “na liberdade de escolha”, do “livre arbítrio dela”… O resultado da partida pouco importa, se Sabalenka ou Kyrgios vai ganhar pouco importa, da mesma forma que os resultados dos jogos-exibição de Nadal, Federer e Djokovic e de vários outros tenistas pouco importam, o que vale nestas partidas é quanto os tenistas vão arrecadar $$$…
E o momento de Sabalenka fazer isso é agora que está em evidência e é uma boa oportunidade de engordar a conta corrente de maneira fácil e rápida, ela não deve dar ouvidos aos invejosos, frustrados e intrometidos ditadores que ficam querendo determinar o que é certo ou errado na carreira dela…

JClaudio
JClaudio
2 horas atrás

Tem um bom filme chamado A Batalha do Sexo, com Emma Stone e Steve Carell, contando os detalhes do jogo.
Meses antes, Bobby Riggs enfrentou Margaret Court, venceu com muita facilidade (6×1 e 6×2), em menos de uma hora, o jogo ficou conhecido como o “Massacre do Dia das Mães”.
Bobby Riggs era um falastrão (igual Kyrgios).
O jogo teve um público de 30 mil pessoas, foi exibido em mais de 30 países.
Foi algo bem anos 70, o fim da geração hippie, a transformação da contracultura em algo comercial, uma década transformadora para sociedade americana.
Hoje o tênis se consolidou como um “produto”, até seus embates entre sexos parecem algo distante, hoje as mulheres (do tênis) “tomaram” seu espaço, com muita luta, a “guerra” foi vencida (pelo menos no tênis).

Evandro
Evandro
2 horas atrás

Tem um lado bom, Patrícia: eventual derrota fará esse “representante” masculino sumir de vez! Sabalenka teria tido tal raciocínio em benefício universal?

Última edição 2 horas atrás by Evandro
Realista
Realista
1 hora atrás

Algumas ponderações…

– Em uma partida intitulada “Batalha dos Sexos” de 1998, o jogador alemãoKarsten Braasch , então número 203 do ranking, derrotou Serena Williams e Venus Williams. Ele venceu Serena por 6-1 e Venus por 6-2 em partidas de um set disputadas durante o Aberto da Austrália, depois de ambas terem afirmado que poderiam derrotar qualquer homem abaixo da 200ª posição no ranking.Braasch jogava as partidas depois de uma rodada de golfe e era conhecido por um regime de treinamento pouco convencional que incluía fumar e beber cerveja
– Não houve discriminação nos prêmios. É apenas uma questão comercial. O tenis masculino atrai mais dinheiro, contratos, patrocínio e público. Da mesma forma que Giselle Bundchen ganha muito, mas muito mais que modelos masculinos.

Ex-tenista profissional e medalhista de prata nos Jogos Pan-Americanos na Cidade do México-1975, foi por 11 anos consecutivos a número 1 do Brasil e chegou ao top 50 em simples. Atualmente, possui 16 títulos mundiais no circuito Masters da ITF e ocupa os cargos de diretora executiva do Instituto Patrícia Medrado e líder do Comitê Esporte do Grupo Mulheres do Brasil.
Ex-tenista profissional e medalhista de prata nos Jogos Pan-Americanos na Cidade do México-1975, foi por 11 anos consecutivos a número 1 do Brasil e chegou ao top 50 em simples. Atualmente, possui 16 títulos mundiais no circuito Masters da ITF e ocupa os cargos de diretora executiva do Instituto Patrícia Medrado e líder do Comitê Esporte do Grupo Mulheres do Brasil.

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