Já era mesmo esperado que Carlos Alcaraz e Jannik Sinner protagonizassem uma rivalidade histórica. Afinal, este ano dominaram os quatro torneios do Grand Slam e se encontraram em diversas finais. Mas o que surpreende a muitos é o bom relacionamento entre ambos. Revelam uma admirável amizade, a ponto de o espanhol, mesmo tendo perdido o ATP Finals, estar sorridente na cerimônia de premiação. Os dois sabem que um é importante ao outro, pois forçam que se desenvolvam e se aperfeiçoem cada vez mais.
É claro que um não convida o outro para jantar, embora recentemente no US Open tenham se encontrado por duas vezes no mesmo restaurante em Nova York, o Osteria Delbianco, mas foi por pura casualidade. Curiosamente, incentivado por um torcedor gaúcho que estava na porta do meu hotel, resolvi conhecer o lugar. Muito bom e preços justos, mesmo para nós, mortais.

Rivalidades são comuns no tênis. Uma delas até ganhou nome “Fedal” e pode-se dizer que é parecida com a atual de Alcaraz e Sinner. Rafael Nadal e Roger Federer não eram muito íntimos no começo de suas carreiras, mas com o tempo estreitaram os laços. Lembro quando o espanhol casou-se e foi perguntado de o motivo de não ter na cerimônia o suíço. Deixou claro que ali estavam os amigos de longa data.
Algumas rivalidades e duelos foram mais tensos. Muito ainda se fala das provocações de John McEnroe para Bjorn Borg. Era um momento diferente no tênis. Havia muita cobrança com o forte surgimento do exército sueco que tirou um pouco o brilhantismo do norte-americano, mas fez o esporte ficar bem melhor e atraente.
Na época do Guga falava-se de seus duelos com o também sueco Magnus Normam. Mas o brasileiro realmente sofria nas mãos do russo Marat Safin. O técnico Larri Passos ficava incomodado com os encontros em que seu pupilo perdia. Dizia que ganhou do Guga, tirou a chance do brasileiro seguir na competição, mas iria para a farra comemorar e, certamente, perderia nas rodadas seguintes.
Mesmo diante de tanta rivalidade existia um espaço para a descontração. Uma das finais mais emocionantes e bonitas que vi em toda a minha vida foi a decisão do Masters de Hamburgo. O marcante jogo terminou com difícil vitória de Guga em cima do Safin por 3 sets a 2. Na época, as decisões dos atuais 1000 eram em melhor de cinco. E mesmo ao final de uma verdadeira maratona, o tenista russo conformou-se com o resultado e encontrou uma boa forma de descontrair. Entrou para a entrevista coletiva de forma inusitada: carregando uma bandeja com várias taças de cerveja para distribuir aos jornalistas e deixar claro que a rivalidade estava apenas na quadra.









A rivalidade está ligada aquilo que acontece fora das quadras, torcedores e admiradores necessitam construir um “espelho”, onde o reflexo do ídolo possa ter pontos de identificação.
As pessoas não se identificam com o estilo do tenista, eles buscam comportamentos que tenha conexão com seus valores pessoais.
Aquilo que eles gostariam de ser, dizer e defender.
Notamos por aqui, poucas pessoas assistem jogos de tênis, a maioria dos comentários é sobre a figura humana do tenista, suas conquistas passadas, a filosofia de vida defendida, são transformados em referência.
O ídolo diz muito sobre quem é o fã.
…e vice-versa.
Putz, este deve ter sido o sorteio mais azarado da história do Guga, pegar o Safin na primeira ou segunda rodada de RG 1998.