Londres (Inglaterra) – Oliver Tarvet era uma grande história antes de Wimbledon sequer começar. Um tenista universitário, britânico, ranqueado em 733º lugar, sem experiência em torneios profissionais melhores que do nível ITF e havia conseguido furar o qualifier para chegar à chave principal. E ficou ainda melhor porque, após vencer o suíço Leandro Riedi em sets diretos, o estudante terá um desafio um pouquinho mais difícil na segunda rodada: o espanhol Carlos Alcaraz.
Tarvet nasceu em St. Albans, uma cidadezinha inglesa 40 quilômetros ao noroeste do centro de Londres, em 2003, e teve uma carreira modesta como juvenil. Apenas 17 vitórias (nenhuma na grama) e oito derrotas entre 2020 e 2021 e nunca passou da 189ª colocação no ranking. A sua única participação em um Grand Slam da categoria foi em Wimbledon, em 2021, derrotado logo na primeira rodada pelo ucraniano Vlacheslav Bielinskyi.
Depois disso, poderia ter se concentrado no circuito de torneios ITF, o menor nível do tênis profissional, para tentar chegar aos challengers e, alguma hora, aos ATP, mas preferiu seguir outro caminho. Ingressou na NCAA (Associação Atlética Universitária Nacional), responsável por organizar o esporte universitário dos Estados Unidos, representando a Universidade de San Diego, na Califórnia. Foi bem em sua primeira temporada (18 vitórias e oito derrotas em simples) e se colocou entre os dez melhores tenistas universitários na segunda.
Continuou melhorando, sendo eleito o melhor jogador da conferência oeste tanto em 2024 quanto em 2025, e conciliou a ascensão no tênis universitário americano com alguns torneios da ITF – quase sempre em San Diego, em Monastir, na Tunísia, ou ao redor do Reino Unido. Conquistou cinco títulos e o adversário mais bem ranqueado que derrotou nesse período antes do qualilifier de Wimbledon estava em 372º lugar no ranking da ATP, o americano Omni Kumar.
O desempenho rendeu um wildcard para tentar se classificar para a chave principal do Grand Slam do Reino Unido e ele impressionou com vitórias amplas contra o francês Térence Atmane, 124º do mundo e 14º cabeça de chave do torneio preliminar, o canadense Alexis Galarneau (207º) e o belga Alexander Blockx (141º). O suíço Riedi, 23 anos, também havia furado o qualifier e chegou a ser 117º colocado do ranking em agosto de 2024.
Perdeu por triplo 6/4 e, embora tenha chegado a reclamar que o adversário estava demorando demais entre os pontos quando teve seu serviço quebrado no segundo set, o encheu de elogios após a partida.
“Ele jogou como um top 50. Ele se mexeu de uma maneira inacreditável na grama. Ele estava deslizando em todo lugar e as passadas que ele produziu foram impressionantes. Eu senti que eu estava jogando no saibro, com o tanto que ele deslizava. Tivemos tantos ralis e geralmente na grama é o saque e mais um golpe. Ele não errou nada. E me forçou a errar mais. Foi uma muralha, uma muralha britânica”, afirmou, segundo o jornal The Guardian.
O veículo inglês descreveu um clima de expectativa em uma Quadra 4 lotada para ver a novidade local, com a presença dos pais de Tarvet, Garry e Jenny, além de antigos treinadores e amigos de infância. “Foi bastante engraçado porque eu ouvia uma vez que me soava familiar. Eu dava uma olhada de relance e era um treinador que eu tive quando tinha 10 ou 11 anos ou um amigo das antigas. Foi incrível”, afirmou, em uma entrevista coletiva após a partida.
Uma parte desse conto de fadas que tem atraído bastante atenção é que, apesar de ter direto a uma polpuda premiação de US$ 173 mil por chegar à segunda rodada, as regras da NCAA impedem que seus jogadores lucrem mais do que US$ 10 mil, e ele ainda pretende retornar à universidade para completar os estudos, então está preparado para adotar um pouquinho de criatividade na prestação de contas.
“Até dezembro, eu tenho que mostrar que o lucro ou premiação menos as despesas equivalem a menos de US$ 10 mil. Tênis é um esporte caro, então espero que consiga fazer isso. Talvez eu só pague um pouco mais para os meus treinadores, não sei, voar de classe executiva. Claro que não, vou continuar humilde. Vamos ver. Não estou aqui (em Wimbledon) pelo dinheiro. Estou aqui pelo público e pela experiência e tentar deixar minha marca. Acho que fiz um ótimo trabalho até agora. Todo o trabalho duro dos últimos anos claramente valeu apenas”, afirmou.
Se ele quiser realmente deixar a sua marca, nada como surpreender o número 2 do mundo e atual bicampeão de Wimbledon na próxima quarta-feira: “Eu sinto que nada mudou. Eu vim aqui e não tinha nenhuma expectativa. Ele tem feito muita coisa no mundo do tênis. É difícil não respeitá-lo. Eu tentarei subir na quadra e tratar a partida como qualquer outra. No fim do dia, eu tento jogar a bola, não o jogador. Eu silenciosamente acredito que consigo vencer qualquer um. Alcaraz não é uma exceção”.