PLACAR

Perestroika e Glasnost explicam o domínio do Leste no AO

Enquanto do lado masculino os principais favoritos ao título do Australian Open ainda estão em ação e prometem duelos emocionantes nesta segunda semana em Melbourne Park, o feminino revela várias surpresas, com nomes ainda não muito conhecidos. Mas em um aspecto os classificados para as quartas de final, nas duas modalidades, revelam uma soberania dos países do Leste Europeu, ou integrantes das nações da ex-cortina de ferro. Entre os homens, cinco dos oito são dessa região e, entre as mulheres, seis de oito.

A presença de jogadores do chamado Bloco do Leste nem sempre foi tão marcante, como vem acontecendo nos últimos anos, e mais fortemente nesta segunda semana do AO. O pioneiro tenista russo a frequentar o circuito foi Alex Metrevelli, ainda nos anos 70. Aos poucos apareceram outros, como Andrey Chesnokov, que até jogou no Brasil, em Itaparica, e chamou atenção por ser treinado por uma mulher.

Os mais contundentes vieram da antiga República Tcheca, com Ivan Lendl de um lado e Martina Navratilova do outro. Mas foi apenas no final dos anos 80 e início dos 90, com a Perestroika e Glasnost, determinada pelo ex-líder soviético Mikhail Gorbachev, que os torneios, em especial os Grand Slams, revelaram uma mudança radical. Lembro que quando recebi a chave feminina em Paris e resolvi contar o número de jogadoras do Leste fiquei surpreso ao verificar que Roland Garros passou a ter cerca de 1/3 de jogadoras vindas dos países da ex-cortina de ferro. Neste tempo, brilhou a estrela de Monica Seles, por exemplo, seguida por muitas outras talentosas jogadoras.

A maior liberdade para atletas poderem sair com facilidades dos países dessa região do planeta só ajudou o tênis, que ganhou maior competitividade e muitos talentos. Neste ano no AO, Novak Djokovic vem da Sérvia (não propriamente cortina, mas sim antiga Iugoslávia e eslavo do sul); Andrey Rublev e Daniil Medvedev mantêm a forte tradição russa, Hubert Hurkacz é polonês, eslavo ocidental; além de Alexander Zverev, que embora seja alemão vem de origem russa.

No feminino o acento é ainda mais forte. Barbora Krejcikova – já bastante conhecida e consagrada – vem acompanhada de outra tcheca, a surpreendente Linda Noskova. Belarus tem a número 2 do mundo e forte favorita Aryna Sabalenka, junto às ucranianas Dayana Yastrenska e Marta Kostyuk, sem contar com a russa Anna Kalinskava. Outro detalhe é a presença de uma chinesa nas quartas, Qinwen Zhang. É que a partir do momento que Pequim ganhou a sede dos Jogos Olímpicos, o governo chinês iniciou um forte programa de formação de jogadoras, com excelentes resultados. Hoje, entre as cem primeiras do ranking da WTA, uma dezena são da China.

Enfim um esporte tão apaixonante e legal como o tênis ganhou novas cores, novas culturas e grandes talentos que deixam ainda mais emocionante a modalidade.

7 Comentários
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Guilherme Vasconcellos
Guilherme Vasconcellos
6 meses atrás

Interessante artigo. Só vale uma ressalva: a Sabalenka é bielorrussa, e não ucraniana, como informa o texto.

Paulo A.
Paulo A.
6 meses atrás

Aryna Sabalenka é bielorussa e não ucraniana.

GABRIEL
GABRIEL
6 meses atrás

para um esporte individual, elitista, caro e itinerante como o tenis faz ate algum sentido… mas se for observar num leque mais amplo do esporte olimpico em geral, o desempenho esportivo dos paises do Leste Europeu declinou absurdamente depois do colapso da URSS e jamais sera o que ja foi nos anos 1960, 70 e 80, quando os paises do bloco socialista humilhavam os do bloco Ocidental e ate paises supostamente “pobres” como Alemanha Oriental, Cuba, Bulgária e Romenia deixavam os EUA e seus filhotinhos comendo poeira no quadro de medalhas de praticamente a totalidade das modalidades…. Resumindo: o sucesso dos atletas do Leste Europeu HOJE tem muito mais a ver com a colheita de investimentos feitos pelos Estados dito “socialistas” 30 ou 40 anos atras do que com o cenario de caos economico, neoliberalismo, desordem social e concentração de renda que caracteriza a região desde 1991.

Gustavo M.
Gustavo M.
6 meses atrás
Responder para  GABRIEL

Não tenho nada a acrescentar. O autor do texto claramente não tem conhecimento pra falar sobre política, mas se meteu a inventar uma relação que não existe. Obrigado por esclarecer essas importantes questões.

José Eduardo
José Eduardo
5 meses atrás
Responder para  GABRIEL

“Humilhavam” o ocidente mediante uso sistemático de doping em massa aos atletas como política de Estado, ao passo q no Ocidente, casos de doping como os de Marion Jones e Lance Armstrong vinham exclusivamente de atitudes individuais. Após o fim da cortina de ferro o número de ex-atletas com câncer e/ou dificuldade em ter filhos foi enorme, especialmente na URSS e Alemanha Oriental. Veja o caso Heidi Krieger, q forçosamente virou Andreas Krieger…ė bem ilustrativo.

SANDRO
SANDRO
6 meses atrás

No entanto, tenistas ucranianas como Kostyuk e Yastremska se unem para dizer que a invasão da Ucrânia não acabou e está prestes a completar 2 anos em Fevereiro e ainda denunciar que a ditadura assassina russa continua firme e forte bombardeando e massacrando os ucranianos covardemente… Além disso, opositores na Rússia são presos políticos enviados para prisões próximas ao Círculo Polar Ártico na gélida Sibéria para sofrer só um pouquinho com trabalhos forçados isolados do resto do mundo…

Rafael Guimaraens
Rafael Guimaraens
5 meses atrás

Esaqueceu Kafelnikov, Davidenko e Marat Safin.

Jornalista especializado em tênis, com larga participação em diversos órgãos de divulgação, como TV Globo, SporTV, Grupo Bandeirantes de Comunicações e o jornal Estado de S. Paulo. Revela sua experiência com histórias de bastidores dos principais torneios mundiais. Já cobriu mais de 70 Grand Slams: 30 em Roland Garros; 21, no US Open; 18 em Wimbledon; e 5 no Australian Open.
Jornalista especializado em tênis, com larga participação em diversos órgãos de divulgação, como TV Globo, SporTV, Grupo Bandeirantes de Comunicações e o jornal Estado de S. Paulo. Revela sua experiência com histórias de bastidores dos principais torneios mundiais. Já cobriu mais de 70 Grand Slams: 30 em Roland Garros; 21, no US Open; 18 em Wimbledon; e 5 no Australian Open.

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