Os prós e contras do tênis na Arábia

Foto: Jimmy48/WTA

O WTA Finals em Riad reuniu as 8 melhores de um ano emocionante e de muitas reviravoltas no circuito feminino de tênis. Vitória da americana Coco Gauff numa semana realmente inspirada. A partida contra a chinesa Qinwen Zheng trocou de mãos várias vezes e precisou ser decidido no tiebreak onde esse sim foi vencido com um pouco mais de folga.

Quanto aos bastidores do torneio, a sua realização dividiu os adeptos ao redor do globo. O debate principal recaiu sobre o fato do evento ser promovido num país que não respeita os direitos humanos, as mulheres e onde também homossexualidade é considerada um crime.

Grandes campeãs do passado, Martina Navratilova e Chris Evert se opuseram fortemente a essa escolha por meio de uma carta dirigida à própria associação das tenistas profissionais, a WTA, alegando esses pontos e sugerindo a busca por um país mais acolhedor como sede do evento.

O fato é que o torneio aconteceu, algumas tenistas se posicionaram e é hora também de se avaliar o que pode ter sido favorável ou não a essa promoção que já está confirmada até 2026.

Embora caminhando com passos de tartaruga nas questões da discriminação de gênero e os avanços alcançados sejam considerados como superficiais, como por exemplo a permissão de conduzir automóveis e frequentar estádios de futebol, concedida a mulheres desde 2018, além da criação de uma liga feminina de futebol, graças ao programa “Visão 2030” do país, é fato que já foi registrado um crescimento de 150% na participação de mulheres em esportes nos últimos cinco anos.

É importante portanto avaliar por todos os ângulos esse acordo milionário, mesmo sabendo dos diversos interesses envolvidos nas recentes ações do governo. É inquestionável que promover um evento dessa grandeza valoriza a modalidade. A campeã levou o maior prêmio da história do tênis feminino com seus US$ 4,8 milhões.

O espetáculo também deve ter servido de incentivo e inspiração para as novas e atuais gerações. Ainda que haja muito o que fazer, a semana colocou mulheres em evidência num território onde os holofotes precisam estar permanentemente acesos para a discussão sobre os seus direitos e liberdade.

11 Comentários
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Mário Mendonça
Mário Mendonça
1 mês atrás

Os tenistas estão ganhando uma fortuna, (bônus + prêmio), para irem lá e jogar, então, calem-se, afinal, essa é uma ditadura amiga!

Sergio
Sergio
28 dias atrás
Responder para  Mário Mendonça

Muito bem colocado Mário.

Marcos
Marcos
1 mês atrás

Boas colocações. As mudancas na AS nao ocorrerão da noite pro dia, infelizmente. Eventos que tragam a oportunidade de discutir as questoes sexistas, discriminatórias, e colocar as mulheres em condicoes de igualdade podem ajudar, apesar de gerarem discussões controversas.

João Sawao ando
João Sawao ando
1 mês atrás

Tem mais contras do que pros. Teria que haver um bloqueio das oitos principais tenistas a esse torneio ou seja todas elas não irem…que fossem da nona a décima sexta.ou assim por diante….

Itana
Itana
1 mês atrás
Responder para  João Sawao ando

Bem pontuado!
Boicote bem sucedido foi feito aqui no Brasil pelas melhores tenistas na década de 70 que boicotaram um campeonato, acredito que o Brasileiro, onde o prêmio para as mulheres era muito inferior ao masculino, como se as pessoas do sexo feminino pagassem passagens , hotel e alimentação mais baratas!

JClaudio
JClaudio
1 mês atrás

O fator “dinheiro” é algo muito persuasivo.
Existe uma simbologia do torneio feminino ser disputado na Arabia Saudita, escancara a bolha que se transformou o esporte em geral.
Em 1973, Arthur Ashe, um tenista negro conseguiu a liberação para jogar na África do Sul, na época do aparthaid, o governo aceitou para diminuir as sanções internacionais contra o regime.
Ashe foi, mas exigiu que os assentos do Ellis Park não tivesse divisão, negros e brancos assistiriam o jogo juntos.
Assim que se muda o mundo, buscando contrapartidas sociais, da forma que aconteceu o torneio, um sentimento de vergonha surgiu.

Patrícia DC Bracco
Patrícia DC Bracco
1 mês atrás

Achei excelente você trazer esse assunto.

A princípio estava resistente em apoiar qualquer evento nos Emirados e região, tanto que eles estão trazendo liga nova de golfe e pagando valores altíssimos aos jogadores que saíram do PGA etc. ou seja, por dinheiro muito atletas do golfe migraram.

Quando soube desse torneio de tênis, a princípio achei que era só dos homens, mas quando as mulheres também foram pensei melhor sobre ser nesse ambiente machista, sexista e de muito dinheiro alto envolvido.

Mas hoje vejo que deu visibilidade às mulheres, chamando a atenção de marcas, mídias, e de muitas mulheres q passam a ver suas atletas , se inspiram e ajudam a promover o tênis feminino lá e no mundo. O prêmio é alto, mas esse detalhe não me incomoda porque é o lado ‘comercial’ do profissionalismo que elas estão inseridas.

Conversei com um casal de amigos q moram há 10 anos em Dubai e ela me disse que quando chegou , não podia entrar em shoppings com camiseta regata (sem mangas). Recebia cartão amarelo e tinha que por algo por cima (cobrir os ombros) e. se não colocasse era retirada do shopping. E hoje já não existe esse impedimento, mudanças que vem ocorrendo positivamente.
Claro que muitos avanços precisam acontecer ainda lá e em outros pontos do mundo (até no Japão que não permite casamento gay em muitas cidades). Enfim, sementes plantadas e que torço pra irem dando seus frutos com mais velocidade .

Foi um dos seus melhores posts, por sinal.

Joao Apolinário Nascimento
Joao Apolinário Nascimento
26 dias atrás
Responder para  Patrícia DC Bracco

Mas o racismo nos locais que você citou (Oriente Médio é Japao), é estrutural.

Mas felizmente apareceram 4.8 milhões de doletss que passaram uma borracha em tudo e tornou tudo mais aceitável. Talvez se Hitler tivesse feito o mesmo, Auchwitz também teria sido mais palatável????

Itana
Itana
1 mês atrás

Muito interessantes, verídicas e enriquecidos as colocações feitas.
Gostaria de ter lido algo sobre a divulgação e presença dos espectadores nesse evento realizado num país cheio de limitações para mulheres….
Realmente o dinheiro falou muito, muito mais alto!

Neri Malheiros
Neri Malheiros
1 mês atrás

Penso que além do aspecto comercial ao atraírem uma das melhores fatias do tênis feminino para Riad, os árabes querem acima de tudo dar uma demonstração de enorme poder econômico com mais esse investimento, sem qualquer preocupação com os pequenos arranhões que a presença de mulheres de outras culturas possam causar na milenar estrutura patriarcal e no machismo exacerbado que lá impera.

Não dá nem mesmo para imaginar uma jogada de marketing do tipo femvertising, bastante comum nos dias de hoje nos meios publicitários e tão bem usada por algumas empresas de outras partes do mundo. Num território extremamente obscurantista, inclusão e diversidade são palavras só pronunciadas ainda de forma velada por pessoas muito corajosas que se opõem ao atual estado de coisas.

Infelizmente, os xeques sabem que com tecnologias e redes tão invasivas, o acesso a outras culturas é inevitável e algumas concessões insignificantes terão que ser feitas. Então, sabiamente, agem no melhor estilo ‘vão-se os anéis para que fiquem os dedos ‘.

Sergio
Sergio
28 dias atrás

Porcaria de dinheiro que compra tudo.
Discordo completamente da realização do torneio em países que não respeitam os direitos humanos. Não há contrapartida para esse tipo de situação. Somente muito dinheiro mesmo. Lamentável que tenha ocorrido lá um evento tão importante como o Finals feminino. Esses países, na verdade querem é “comprar” um direito que, por outro lado, eles negam aos outros. Ridículo concordar com isso.

Ex-tenista profissional e medalhista de prata nos Jogos Pan-Americanos na Cidade do México-1975, foi por 11 anos consecutivos a número 1 do Brasil e chegou ao top 50 em simples. Atualmente, possui 16 títulos mundiais no circuito Masters da ITF e ocupa os cargos de diretora executiva do Instituto Patrícia Medrado e líder do Comitê Esporte do Grupo Mulheres do Brasil.
Ex-tenista profissional e medalhista de prata nos Jogos Pan-Americanos na Cidade do México-1975, foi por 11 anos consecutivos a número 1 do Brasil e chegou ao top 50 em simples. Atualmente, possui 16 títulos mundiais no circuito Masters da ITF e ocupa os cargos de diretora executiva do Instituto Patrícia Medrado e líder do Comitê Esporte do Grupo Mulheres do Brasil.

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