Os bastidores femininos de Roland Garros

Amélie Mauresmo (Foto: Christophe Guibbaud/FFT)

Finalizado o segundo Grand Slam de 2024, poucas surpresas surgiram com as vitórias do espanhol Carlos Alcaraz e principalmente da polonesa Iga Swiatek, conquistando um tetracampeonato que parecia óbvio, embora ela tenha passado por um grande sufoco na segunda rodada contra a japonesa Naomi Osaka, se livrando inclusive de um match-point.

Para fechar a temporada de saibro, resta comentar alguns detalhes sobre este Roland Garros e o que o torna refinado, atraente e feminista. Por sinal, o torneio desde 2007 passou a igualar as premiações entre homens e mulheres: perdedores da primeira rodada recebem os mesmos R$ 410 mil e os campeões, aproximadamente R$ 13,5 milhões.

Primeiro e sobretudo, é preciso destacar o charme de Paris, que encanta a todos. Mas, acima de tudo, é notória e enfática a forma como as mulheres ganham destaque nesse evento. A começar pelo complexo de Roland Garros, que tem duas das suas quadras homenageando tenistas francesas do início do século 20.

Uma delas, inclusive, ganhou um teto retrátil estreado esse ano, reverenciando Suzanne Lenglen, atleta que faturou na sua curta vida (morreu aos 39 anos) oito títulos de simples em Grand Slam, revolucionou o esporte pelo seu jogo agressivo e pela ousadia de usar roupas de seda e saias na altura da panturrilha, deixando à mostra braços e pernas – fato raro na década de 1920.

Mais recentemente, em 2019, com design único e moderno, a quadra Simone Mathieu relembra essa jogadora que, além de ganhar Roland Garros em 1938 e 1939, liderou uma unidade militar feminina francesa na Segunda Guerra Mundial, desfilando ao lado do presidente francês, Charles de Gaulle, na libertação do país em 1944.

Muito simpática e apropriada também é a presença constante da Marion Bartoli, francesa campeã de Wimbledon em 2013 e com 47 participações em Grand Slam, comandando as entrevistas em quadra pela rede de televisão Eurosport.

E, finalmente, o mais representativo para o nosso momento foi a escolha da ex-número 1 do mundo e vencedora de dois Grand Slam, a também francesa Amélie Mauresmo, para o cargo de diretora do torneio, tornando-se a primeira mulher a comandar um evento desse gabarito no circuito. A nomeação dela em 2021 foi pertinente com a própria lei do país que prevê a presença de mulheres em ao menos um quarto das posições de liderança nas estâncias executivas em todas as federações esportivas da França (o que efetivamente não acontece).

Mauresmo, respeitada pela sua forte personalidade, vem revolucionando um ambiente liderado por homens desde quando em 2014 aceitou o convite do britânico Andy Murray para ser sua técnica. Juntos, venceram sete torneios num período de dois anos. Encerrou espontaneamente a parceria apenas por ter engravidado.

No posto de diretora do Slam do saibro, ela tem enfrentado muitos desafios e críticas, como é sempre comum para uma mulher que ocupa um cargo de destaque num ambiente “habitado” por homens, mas segue firme no propósito de transformar Roland Garros num torneio cada vez mais agradável para os participantes e o público. Tem a nossa torcida!

21 Comentários
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Heitor
Heitor
4 meses atrás

Vc acha que as mulheres poderiam jogar 5 sets nos slams?

Heitor
Heitor
4 meses atrás
Responder para  Patrícia Medrado

Obrigado por responder

Flávio
Flávio
4 meses atrás
Responder para  Patrícia Medrado

Patrícia será mesmo que vc que elas jogariam 5 sets sabendo que o tênis feminino atual esta limitadíssimo?

Helena Abreu
Helena Abreu
4 meses atrás

Realmente mulheres demonstram sua capacidade e competência. Porém quando se começa a querer igualar o que não é igual surgem complicações. Homens e mulheres jogam tênis profissional, e cada um desenvolvendo seu potencial de acordo com sua capacidade e não se pode igualar pq ambos não são iguais, são diferentes. Então em vez de buscar se igualar aos homens, as mulheres devem dar o seu máximo para chegar a posições de destaque e se sentirem felizes com isso. Buscando melhorar cada vez mais, deixando de lado esse parâmetro de se sentirem menos do que os homens.
Agora em relação a premiação de Gend Slam, as mulheres ganham muito mais. Jogam melhor de 3 sets e os homens melhor de 5 sets. A Iga venceu em 1 hora no máximo enquanto que o Alcatraz teve que batalhar por 4h e 20. Nessa hora perguntamos que falsa igualdade é essa.

Vicentina
Vicentina
4 meses atrás
Responder para  Helena Abreu

Também acho Helena, pois daqui a pouco eles vão reclamar da premiação de Slam porque é igual, pois jogam mais tempo e ainda sabem que o tênis masculino é melhor e mais competitivo, tanto é que o jogo da Iga durou apenas 1 h e a final masculinas foi uma batalha, E teve vários jogos deles que pareciam guerra de titãs, em compensação no tênis feminino o único jogo complicado foi Osaka x Iga , eu sou mulher e tenho que admitir que o tênis feminino atual o nível esta baixo, infelizmente.

Marcelo Reis
Marcelo Reis
4 meses atrás

Ainda bem que as mulheres vêm galgando seu lugar na busca pela isonomia e equidade! E ainda tem gente que defende premiações distintas para homens e mulheres. Esse pessoal têm déficit cognitivo, não é possível. Parabéns pela reportagem!

Flávio
Flávio
4 meses atrás
Responder para  Marcelo Reis

Mas o nível delas esta muito baixo Marcelo e o RG provou isso, óbvio que não dar para comparar o tênis masculino com o feminino porque é injusto mesmo, pois todos sabem que o tênis masculino é muito melhor e mais técnico, mas acho que o tênis feminino precisa acordar,pois se não evoluir tecnicamente vai ficar desmotivante e a Barti faz muita falta porque ela jogava com técnica e o público gostava dela.

Maurício Luís *
Maurício Luís *
4 meses atrás
Responder para  Flávio

” … pois todos sabem que o tênis masculino é muito melhor e mais técnico.” Todos QUEM?? Você tem procuração pra falar por todos? Porque eu discordo que o tênis masculino seja “muito melhor e + técnico”.
Uma coisa é a opinião sua, outra coisa é falar por “todos”. Uma coisa é uma coisa, e outra coisa, aí já é outra coisa!

Marcelo Reis
Marcelo Reis
4 meses atrás

Correção: tem*

Valmir da Silva Batista
Valmir da Silva Batista
4 meses atrás

SALVE AS MULHERES NA TERRA de Simone de Beauvoir! Salve as mulheres no mundo inteiro!

Neri Malheiros
Neri Malheiros
4 meses atrás

Patrícia, o fato de Amélie Mauresmo ter assumido ser gay aos 19 anos, inclusive com a aparição pública de sua namorada, em um circuito esportivo machista como todos os demais e onde ainda são raros os tenistas homens e mulheres que têm essa coragem, me parece ser algo que deva ser sempre destacado em sua trajetória. No mais, parabéns pelo texto que recupera informações importantes sobre algumas peculiaridades que fazem de Roland Garros um dos torneios mais charmosos e emblemáticos.

Flávio
Flávio
4 meses atrás
Responder para  Neri Malheiros

RG é charmoso mesmo ,mas o maior de todos é Wimbledom, famosa grama sagrada.

helio
helio
4 meses atrás

Essa questão do jogo de 5 sets é discutível porque inclusive excluiram os 5 sets das finais dos ATP
1000 por alguma razão. Será que para a mídia é vantajoso os 5 sets?
Cogitar 5 sets para o tenis feminino não faz sentido

Daniel Macedo
Daniel Macedo
4 meses atrás

Cara Patrícia, parabéns pela coluna, mais uma vez de grande qualidade. No entanto gostaria de chamar atenção para as críticas feitas pela Ons Jabeur, uma delas é que as mulheres são preteridas dos lugares de maior destaque na programação, em especial nos jogos noturnos. Evidente que a Amelie Mauresmo, está inserida numa estrutura que é historicamente patriarcal e machista, portanto ainda que represente uma conquista feminina tê-la dirigindo o torneio, a estrutura do torneio ainda segue com muitas questões para serem resolvidas do ponto de vista da equidade de gênero.
Me parece que a WTA ao invés de se vender pra monarquia saudita, uma das mais misóginas e assassinas do mundo, deveria se envolver mais na defesa por direitos iguais pras mulheres.

Flávio
Flávio
4 meses atrás
Responder para  Daniel Macedo

O tênis feminino atual esta limitado meu caro, infelizmente é a realidade e você viu aí como a audiência é muito maior no tênis masculino que cresceu 50% comparado ao do ano passado em RG.

André Aguiar
André Aguiar
3 meses atrás
Responder para  Daniel Macedo

Prezado Daniel Macedo, a crítica da Jabeur, ao menos a que eu li, foi feita durante o torneio de Madri e não fez referência aos jogos noturnos propriamente. Ela queixou-se da pouca exibição na TV de jogos de tênis feminino na Europa, independentemente do horário. Com relação à sessão noturna na quadra principal de RG, achei realista a explicação da Mauresmo. Disse ela que o público francês dessa sessão, provavelmente devido a compromissos profissionais, não chega ao estádio em grande número antes das 20h (creio valer também para a audiência da TV), daí a impossibilidade de se encaixar dois jogos no horário nobre da noite. E sendo apenas um jogo, a partir das 20:15h, o público pagante, assim como os patrocinadores, fazem questão de um jogo mais longo, isto é, em melhor de 5 sets. O público porque paga um ingresso caro e os patrocinadores porque querem que suas marcas sejam exibidas por um tempo maior. Em última análise, a questão é unicamente comercial. Os organizadores de um grande evento de entretenimento, tal como um torneio do GS, ficam submetidos aos interesses de quem o financia, a saber, os patrocinadores, incluindo a TV e o público que paga pelo ingresso, nessa ordem. Se os jogos da chave feminina fossem em melhor de 5 sets, ou se houvesse uma ou mais francesas no top 10, acredito que haveria alternância entre jogos das chaves masculina e feminina no jogo noturno na Chatrier. E para encerrar esse comentário que já vai muito longo, notei que esse ano ocorreu um fato curioso. Em função das chuvas, o início da sessão noturna quase sempre atrasou, a ponto do jogo Djokovic x Musetti ter terminado às 3 da manhã. Daí que, diferentemente do ano passado, ninguém, mulher ou homem, reclamou publicamente de discriminação por não jogar à noite, muito pelo contrário. O Alcaraz chegou a manifestar a sua preferência por jogar durante o dia. Imagino que outros e outras tops tenham manifestado o mesmo desejo para a organização.

Ex-tenista profissional e medalhista de prata nos Jogos Pan-Americanos na Cidade do México-1975, foi por 11 anos consecutivos a número 1 do Brasil e chegou ao top 50 em simples. Atualmente, possui 16 títulos mundiais no circuito Masters da ITF e ocupa os cargos de diretora executiva do Instituto Patrícia Medrado e líder do Comitê Esporte do Grupo Mulheres do Brasil.
Ex-tenista profissional e medalhista de prata nos Jogos Pan-Americanos na Cidade do México-1975, foi por 11 anos consecutivos a número 1 do Brasil e chegou ao top 50 em simples. Atualmente, possui 16 títulos mundiais no circuito Masters da ITF e ocupa os cargos de diretora executiva do Instituto Patrícia Medrado e líder do Comitê Esporte do Grupo Mulheres do Brasil.

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