A grama é nossa

Foto: AELTC

Como se a quadra de grama fosse algo comum no Brasil, nossos dois representantes neste Wimbledon mostraram desenvoltura e categoria para avançar à segunda rodada sem perder set. Num dia em que a temperatura atingiu os 32 graus – e na grama isso é muito quente -, a economia de esforço foi muito apropriada.

Bia Haddad encarou uma tenista que bate muito forte na bola, a 31ª do ranking Rebecca Sramkova, e se viu atrás do placar nos dois sets, primeiro com 2/4 e no outro por 0/2. Mas a canhota sempre achou uma solução e os destaques da sua atuação, a meu ver, foram a consistência do backhand e as devoluções forçadas. E olha que não é fácil recuperar quebras na grama. Aliás, Bia também saiu atrás no tiebreak, com 1-3 e 2-4, mantendo-se bem de cabeça o tempo todo, o que é animador.

O primeiro set de Fonseca e o britânico Jacob Fearnley foi tenso dos dois lados, mas confiança foi uma palavra chave. Se o carioca cometeu duas duplas faltas no nono game e soube reagir, o adversário fez as mesmas duas duplas faltas no game seguinte e perdeu o set. Essa abertura positiva soltou o garoto brasileiro, que sacou a 230 km/h, deu inúmeras pancadas de forehand mas também mostrou paciência em trocar bolas e usar slices quando necessário. O terceiro set foi apertado, precisou salvar set-point e depois reagir num tiebreak que parecia perdido quando Fearnley sacou com 5-2. Novamente, João mostrou muito mais atitude.

A húngara Dalma Galfi, 110ª do mundo, é a próxima adversária e a top 20 brasileira entra novamente como favorita. Galfi foi a melhor juvenil de 2015, mas não vingou tanto como profissional. Suas bolas mais retas podem no entanto dar trabalho. Se confirmar, Bia deve então cruzar com Amanda Anisimova, que começou Wimbledon com ‘bicicleta’ em cima de Yulia Putintseva, 33ª do mundo.

Já o desafio de Fonseca é um curioso Jenson Brooksby, que já foi 33º do mundo antes de ser suspenso por 18 meses ao faltar a exame antidoping. Sofreu ainda cirurgia nos dois punhos e revelou há pouco tempo ser autista. Nada disso o impede de jogar um tênis limpo. Saca bem, cobre a quadra com agilidade e tem golpes de base firmes. Acabou de ser finalista de Eastbourne e ganhou nesta segunda-feira com folga do campeão de Mallorca, o cabeça 31 Tallon Griekspoor.

Vale ainda destacar: Wimbledon é o Slam onde Bia soma mais vitórias, agora com oito. além de ter superado a primeira rodada nas três últimas participações. Já Fonseca quebra marca de 51 anos que pertencia a Thomaz Koch, tornando-se o mais jovem brasileiro a ganhar uma partida no torneio. E deu passo importante para entrar no top 50.

Resumão

– Fabio Fognini fez uma despedida mais do que digna de Wimbledon e deu tremendo sufoco no bicampeão Carlos Alcaraz, exibindo todo seu vasto arsenal de golpes. Foi demoradamente aplaudido ao final dos cinco sets e a certa altura deixou o espanhol tão incrédulo que disparou: “Ele pode jogar até os 50 anos assim”. Espanhol pega agora Oliver Tarvet, 733º do ranking, que vem do universitário americano.
– Rune, Medvedev, Cerúndolo, Popyrin, Tsitsipas, Griekspoor e Berrettini. A lista de cabeças precocemente eliminados foi longa nesta segunda-feira. Menção obrigatória para Jarry, que perdeu os dois primeiros sets e virou em cima de Rune. Medvedev vai deixar o top 10 de novo e Tsitsipas abandonou com dores no ombro, desabafando: “Estou travando uma guerra para me sentir saudável”.
– Perricard abusou do saque, bateu recorde de Wimbledon a 246 km/h e tinha tudo para eliminar Fritz, o que seria o resultado do dia, mas incrivelmente falhou. Abriu 5-1 no tiebreak do quarto set e, mesmo sacando duas vezes, permitiu o quinto set, que só acontecerá na terça. E quem ganhar pegará Diallo, outro super-sacador.
– Zverev só jogou dois sets, mesmo na Central coberta, por conta do longo dia e de seus próprios demorados sets. Ao menos, escapou de ver Rinderknech abrir 2 a 0 e agora os dois jogarão uma autêntica ‘melhor de três’ na continuidade.
– Sabalenka teve segundo set inesperadamente duro e sua chave está muito perigosa. Encara agora Bouzkova e depois Raducanu ou Vondrousova. E ainda teria Svitolina e Mertens em eventuais quartas.
– Paolini levou susto contra Sevastova, mas reagiu bem após perder o primeiro set. Keys suou ainda mais, com três sets equilibradíssimos diante de Ruse.
– Kartal surpreendeu Ostapenko e deixou os britânicos animados, já que, além de Raducanu, os donos da casa ainda têm Boulter na segunda rodada.
– A estreia de Zheng foi adiada e já causa expectativa, porque a adversária a sua espera é Osaka.

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Ronildo
Ronildo
13 horas atrás

Fonseca fez a melhor estreia do tênis masculino brasileiro de todos os tempos em Wimbledon.

Gilvan
Gilvan
12 horas atrás

Fognini fez o chamado canto do cisne. Sempre foi um jogador perigoso, dos mais talentosos da sua geração. Habilidade e instinto puro.
Muito triste a eliminação da Jabeur. É aquilo que eu sempre falo e muitos ignoram: como a escolha dos horários das partidas interfere nas chaves. Mesmo a Jabeur vindo de 2 finais recentes em Wimbledon, botaram ela para jogar no maçarico, em uma quadra menor.
Enquanto isso, certos tenistas não jogam há anos nas rodadas diurnas, sempre pegando condições favoráveis para o seu melhor tênis. Assim que hegemonias são criadas e talentos são suprimidos.

Mauricio
Mauricio
11 horas atrás
Responder para  Gilvan

Manda áudio !!

Luiz Fabriciano
Luiz Fabriciano
29 minutos atrás
Responder para  Mauricio

E no áudio, ele deveria completar dizendo que, primeiro tem que haver a conquista e somente depois o gozo.
Tanto no tênis como em qualquer seguimento, a ralação precede a comodidade.
É justo!

Rodrigo S. Cruz
Rodrigo S. Cruz
12 horas atrás

Eu assisti incrédulo toda a partida entre Alcaraz e Fognini.

Foi um grande jogo e torci muito pelo italiano. Toda temporada dele até aqui havia sido pífia perdendo, de primeira, para inúmeros tenistas inexpressivos.

Todavia, hoje ele teve lampejos do grande tenista que é e que deixará saudades.

Se no 5° set não houvesse cometido uma sucessão incrível de escolhas ruins de golpes, ele teria aprontado a maior zebra das últimas edições de Wimbledon…

Achei muito mais displicência sua do que algum mérito ou solução tática de Alcaraz que a essa altura já se achava visivelmente zonzo em quadra.

Numa dessas escolhas e com um voleio facílimo de matar, Fognini deu um toque fraquinho na mão e bem do lado em que estava Alcaraz, e perdeu o saque.

Hoje, valeu bem aquela máxima: jogar como nunca, e perder como sempre.

De qualquer forma esse cara vai fazer muita falta no circuito.

Última edição 12 horas atrás by Rodrigo S. Cruz
José Alexandre
José Alexandre
12 horas atrás
Responder para  Rodrigo S. Cruz

Com certeza seria uma das maiores zebras, não das últimas edições de Wimbledom, mas da história.

Rodrigues
Rodrigues
10 horas atrás
Responder para  José Alexandre

Da história é exagero. Fognini é um excelente tenista.

Gilvan
Gilvan
11 horas atrás
Responder para  Rodrigo S. Cruz

Quem gosta de tênis, gosta do Fognini. Talento puro.

Sergio
Sergio
9 horas atrás
Responder para  Gilvan

Arrogância pura também.

Rodrigo S. Cruz
Rodrigo S. Cruz
8 horas atrás
Responder para  Gilvan

Verdade.

Supera, na minha opinião, até o Djokovic em matéria de talento bruto.

Pena que a cabeça dele jamais acompanhou o tênis que teve e tem. O que fica claro quando olhamos para os seus resultados.

Sergio
Sergio
9 horas atrás
Responder para  Rodrigo S. Cruz

Não dá para torcer para o Fognini. Cara muito arrogante. Perde só para o Kyrgios e o Rune.

Rodrigo S. Cruz
Rodrigo S. Cruz
4 horas atrás
Responder para  Sergio

Tanto dá que eu torço (rs)

Rafael
Rafael
12 horas atrás

Falei que o jogo do Fritz ia ser interessante, aquele grandalhão ali é barra pesada, que saque foi aquele que ele acertou, minha nossa..
Sensacional esse primeiro dia de Wimbledon, só jogão! Muito bom!

Fernando
Fernando
11 horas atrás

Há pouco tempo, sofri bastantes críticas aqui ao comentar uma chave favorável para Fonseca até as quartas, desde que mantenha a cabeça no lugar. Falaram muito de um tal Holger Rune, que sequer passou da primeira rodada. O esporte é didático e ensina muito. Agora, esse nervosismo do João preocupa. Tem de confiar no potencial incrível que tem, ainda mais em um piso onde seus golpes podem fazer muito estrago.

Samuel
Samuel
8 horas atrás
Responder para  Fernando

Se você sofreu críticas pessoais ou grosseiras, tem minha solidariedade, inclusive porque as discussões no esporte não raro desbordam a vaidade e chegam ao nível da lavadeira ou até o do hooligan. Quanto ao nervosismo do João, fico imaginando o branco que 100% de nós teria ao estar vestido inteiro de roupa branca, aos 18 anos, na quadra 1 de Wimbledon, em um dos primeiros jogos do Grand Slam britânico e contra um tenista da casa…

Última edição 8 horas atrás by Samuel
Paulo A.
Paulo A.
2 horas atrás
Responder para  Fernando

É muita pressão e expectativa em cima dele. Penso que deveria ter apoio psicológico mas ele já declarou que não gosta disso, já experimentou e não aprovou.

Rodrigues
Rodrigues
11 horas atrás

Fognini é um grande tenista. Habilidoso, troca muito bem a direção da bola, excelente direita e esquerda, porém, não tem um grande saque(muito pela baixa estatura) e o mental bipolar.
Eu digo até que o italiano tem mais talento que Novak Djokovic.

Sobre Alcaraz, me parece que ele alonga seus jogos de propósito, tipo para “treinar”. Sempre complica as coisas nas primeiras rodadas de slam, mas depois, na hora da onça beber água…..

Paulo Almeida
Paulo Almeida
10 horas atrás
Responder para  Rodrigues

Tem mais talento e…

8×0 no h2h para o GOAT, que sequer perdeu set.

De acordo com Gilles Simon, Djokovic é o jogador mais talentoso e técnico da história.

Rodrigues
Rodrigues
9 horas atrás
Responder para  Paulo Almeida

Chega de fanfarronices! hahaha Nunca li ou ouvi qualquer tenista dizer que o mais talentoso e técnico não seja Roger Federer.
Talvez Novak não esteja nem em uma lista top 50…. Tenista pura correria e passagem de bola para o outro lado da quadra. Esse é o talento dele!

Rodrigo S. Cruz
Rodrigo S. Cruz
8 horas atrás
Responder para  Rodrigues

Concordo, Rodrigues.

Também acho o Fognini mais talentoso e umas dez vezes mais interessante de assistir do que o Novak.

No lado mental e nos resultados sim, o sérvio está a anos-luz dele.

Mas o tênis (e qualquer esporte) carece sempre de tenistas habilidosos como o italiano.

É triste vermos gradualmente o ocaso desses tenistas que deram espetáculo e encheram os olhos de quem gosta de tênis bem jogado.

O Federer aposentado, o Kyrgios aí sempre lesionado, e por fim agora o Fognini dando também o seu adeus…

Lucas
Lucas
10 horas atrás

Com o tênis atual tão físico, na base da pancada, será muito difícil surgir um tenista tão habilidoso como o Fognini

Sergio
Sergio
9 horas atrás
Responder para  Lucas

E tão encreiqueiro também. rs.

Evandro
Evandro
9 horas atrás

Aqui em Brasília, a grama é onipresente. Poderiam começar por aqui uma iniciativa de construir várias quadras desse piso fabuloso. Ainda mais agora, que temos dois gênios que sabem muito bem competir sobre o tapete verde. Igual coçar, é só começar.

Samuel
Samuel
8 horas atrás
Responder para  Evandro

Sempre que posso, critico a Bia – não neste espaço. Mas é porque realmente torço por resultados ainda melhores por parte dela. É uma maravilha ter uma tenista que tem permanecido por anos entre as melhores e tido excelentes resultados na grama.

Samuel
Samuel
9 horas atrás

Foi outra oportunidade para Fonseca exibir melhora ininterrupta com o serviço, desde Roland Garros, no que tange a índice de acertos, colocação e velocidade. Além do mais, o brasileiro estava surpreendentemente calmo para fazer winners com a potência suficiente e no momento adequado. O jogo de rede, então, mesmo com uma ou outra subida atrapalhada, é algo que o brasileiro continua realizando intuititva e magistralmente: percebe onde tem que se posicionar e qual o melhor voleio a executar, e na sequência golpeia a bola com convicção e eficiência.

Apesar disso, ficou claro que a disputa de estreia foi decidida à base dos infinitos erros não forçados do britânico. Foi, de longe, o pior jogo a que assisti de Fearnley. Já era tarde na partida quando, na metade do terceiro set, o tenista da casa começou a jogar um pouco com seus pontos fortes: o saque rápido e bem colocado, além dos winners de direita.

Só fiquei preocupado porque percebi que nosso compatriota não explorou as fraquezas do adversário, sequer a título de curiosidade. Por isso me questiono se tem sido muito inteligente a análise do jogo dos adversários. Conforme tiver que enfrentar mais e mais os vinte ou trinta primeiros da ATP, é bem provável que será exigida uma estratégia cada vez mais refinada. Diante disso, honestamente desconfio muito de qual seria o resultado se a partida avançasse para outro(s) set(s).

O que importa é que o brasileiro administrou o presentão recebido durante dois sets e meio, e que, com a vitória, a confiança provavelmente tenha aumentado muito. Não deve ser absolutamente fácil estrear a presença no torneio mais importante nos últimos 150 anos, no primeiro dia de disputa de sua chave principal e justamente na quadra um – que, dentre as quadras número um dos torneios do Grand Slam, é a que mais tem ares e tamanho de quadra central.

Com Hune fora do quadrante, não seria, talvez, impensável o brasileiro atingir as oitavas diante de um provável Lehecka ou as quartas contra Alcaraz. Torço para que tenha alguma tática específica contra cada adversário e que dê 130% de si. Assim talvez atinja uns 90% do que pode.

Paulo F.
Paulo F.
43 minutos atrás

Uma pena que o Fognini não fez o crime ontem.
Teria sido lindo ver a inundação de lágrimas do Vale do Legado.

Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br
Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br

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