O fim de uma era…

Proposital ou não, a milionária exibição saudita brindou os fãs com um último capítulo do mais extenso duelo do tênis profissional masculino de todos os tempos. Novak Djokovic e Rafael Nadal voltaram a se cruzar poucas semanas depois da melancólica partida olímpica em Paris e, com a aposentadoria anunciada do espanhol, o jogo deste sábado em Riad ganhou ares festivos e ao mesmo tempo tristes.

Numa prova cabal da falta de capacidade competitiva, Nadal deu pouco trabalho ao sérvio, mesmo que Nole não mostrasse total empenho. Restou ao menos um final de partida mais eletrizante. Com Djokovic sacando para o jogo com 5/4 e match-point a favor, Rafa foi capaz de cobrir bem a quadra e disparar paralelas magníficas, o que enfim tirou largo sorriso dos seus lábios. Ainda lutou ponto a ponto no tiebreak e isso gerou alívio.

Foram afinal 60 capítulos de uma rivalidade iniciada em 2006 e que teve seu auge a partir do US Open de 2010, seguindo por todas as três ou quatro temporadas seguintes, em que disputaram jogos de enorme peso para cada currículo. Djokovic chegou a ganhar sete partidas consecutivas entre 2011 e 2012 até Rafa retomar a confiança e ganhar seis dos sete seguintes. Em nova final do US Open, em 2013, marcou sua última vitória sobre o sérvio fora do saibro. Já era um sinal dos tempos.

Djokovic se mostrou muito superior desde então, faturando todos os sete cruzamentos entre 2015 e 2016. Fizeram ainda dois jogos de alta qualidade técnica em Roland Garros de 2021 e 2022, um para cada lado, e essa talvez seja a memória que devamos guardar dessa espetacular batalha, marcada pela força dos golpes da base, a velocidade das pernas e o poder mental incomum de ambos.

Nadal ainda deverá atuar de alguma forma na fase final da Copa Davis em Málaga, mas um confronto oficial com Djokovic se torna impossível porque a Sérvia não se classificou. No discurso emocionante dos veteranos heróis, o sérvio destacou a longa trajetória e chegou a pedir que Rafa fique mais um pouco no circuito. O espanhol retribuiu e, com justiça, afirmou que Nole o forçou a superar seus limites. E concluiu: “Não estou cansado da rotina do tênis, mas meu corpo não responde mais como preciso. Hoje estou completamente convencido disso”.

… E o começo de outra

Se não veremos mais Djokovic-Nadal, ao menos há a certeza de que Jannik Sinner e Carlos Alcaraz têm tudo para garantir um duelo que seja tão disputado e aguardado como o outro. Novamente, a exibição saudita assegurou o reencontro dos mais jovens talentos de hoje e, ao colocar em disputa a premiação surreal de US$ 6 milhões ao vencedor do chamado Six Kings Slam, deu um molho atraente para a final.

Sinner nem precisava de motivação extra para jogar com afinco. Afinal, havia perdido os três jogos oficiais da temporada para o espanhol e isso não é fácil de digerir, mesmo sendo o número 1 disparado do ranking. Carlitos também não queria dar esse gostinho ao italiano e então vimos uma partida séria e bem jogada, ainda que distante do nível técnico astronômico que haviam brindado o tênis dias atrás em Pequim.

Na soma total de seus confrontos oficiais, os dois já se cruzaram 11 vezes, sendo 10 em primeiro nível, e Alcaraz lidera por 7 a 4, distância considerável uma vez que é quase dois anos mais jovem. É bem verdade que, com idades semelhantes à dos líderes do ranking de hoje, Nadal e Djokovic já haviam feito 18 confrontos diretos e então Rafa marcava supremacia de 14 triunfos.

O que parece certo é que haverá ainda um longo caminho para estes dois fenomenais e simpáticos garotos. Reis mortos, reis postos.

E mais

– Bia Haddad fez uma excelente partida e acabou com a sina diante de Katie Boulter, mas em seguida não conseguiu segurar o jogo extremamente agressivo de Paula Badosa, num placar que foi de certa forma injusto com o que a brasileira mostrou em Wuhan. De qualquer forma, Bia segue para Tóquio, seu último torneio da temporada com pontos para o ranking, ainda no top 10.
– Como terá de descartar os 700 pontos do Elite após Tóquio, onde poderá no máximo marcar 500, Bia não tem condições de terminar entre as 10, mas há uma ótima chance de ficar no 15º lugar, o que já será um tremendo lucro diante da montanha russa que viveu em 2024.
– Naná Silva, 14 anos, e Pedro Dietrich, de 16, venceram a eliminatória sul-americana e com isso jogarão a chave principal do torneio juvenil do Australian Open, uma tremenda experiência. Naná havia ganhado a seletiva de Roland Garros e assim já disputará seu segundo Slam.
– A Confederação Brasileira obteve autorização para antecipar a eleição da próxima diretoria, em Assembleia Extraordinária realizada neste sábado e que aprovou a medida por 24 votos a 4. Com isso, o sucessor de Rafael Werstrupp, que fica no cargo até março de 2025, será determinado em colegiado de 41 votantes, em Assembleia que deve acontecer não antes de 1º de novembro e não depois de 31 de dezembro. Ainda não há candidatos declarados ao cargo.
– A ITF anunciou duas inovações ao final de seu encontro mundial em Hong Kong. A partir de 2025, um único aplicativo, chamado de “Copa do Mundo do Tênis”, mostrará dados e streaming tanto da Copa Davis como da Billie Jean King Cup. A entidade também lançará um canal de transmissão ao vivo que promete mostrar 22 mil partidas de nível ITF ao longo da próxima temporada.

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Belarmino jr
Belarmino jr
2 horas atrás

Rafa fez com Federer o melhor jogo da história(wb08) a maior rivalidade da história(palavra dos próprios) e não a toa são os dois maiores de todos os tempos

Paulo Sérgio
Paulo Sérgio
2 horas atrás

Maior rivalidade da história com 46 majors, 76 masters 1000 e 7 atp finals. Nada que se compare do ponto de vista competitivo e técnico.

Sérgio Ribeiro
Sérgio Ribeiro
1 hora atrás
Responder para  Paulo Sérgio

Somente Paulinho pra SOMAR conquistas individuais dos dois Tenistas . Se for assim a rivalidade Fedal possui a supremacia em WIMBLEDON, USOPEN e RG kkkkk. Abs!

Fernando
Fernando
2 horas atrás

Rafa e Djoko protagonizaram uma rivalidade que dificilmente se repetirá. Dois tenistas fenomenais, ambos com uma força mental incomum, como diz o texto. Não fossem as inúmeras lesões, penso que o espanhol teria boa vantagem sobre o sérvio.

Alessandro Siqueira
Alessandro Siqueira
1 hora atrás
Responder para  Fernando

Dosar a energia é parte da carreira. Nadal sempre lutou por cada bola como se fosse a última. Isso levou a números absurdos, inclusive de lesões. Para o bem e para o mal, seu empenho fez dele quem ele é. Não tem como colocar um SE nessa equação.

Sérgio Ribeiro
Sérgio Ribeiro
1 hora atrás
Responder para  Fernando

Difícil mas não impossível. Carlos Alcaraz possui apenas 21 anos e Jannik Sinner 23 . Abs !

Samuel, o Samuca
Samuel, o Samuca
1 hora atrás
Responder para  Fernando

Lesões. Existem diversas, por exemplo:
Monica Seles – atentado na Alemanha;
Thomas Muster – atropelamento nos EUA;
Alexander Zverev – infelicidade em Roland Garros;
Rafael Nadal – estilo de jogo.
Os fãs dos três primeiros podem lamentar a má sorte de seus idolos, já no caso do Nadal não existiu má sorte pois foi o atleta o único responsável pelas contusões.

Refaelov
Refaelov
2 horas atrás

Concordo plenamente com relação à Bia: belíssimo final de temporada dela e, de fato, pra quem em dado momento da temporada dava toda a pinta que acabaria 2024 fora do top 30, acabar o ano entre as 16 melhores tá de excelente tamanho!

Q mantenha a toada no começo do ano q vem, onde terá poucos pontos a defender..

Última edição 1 hora atrás by Refaelov
João Sawao ando
João Sawao ando
1 hora atrás

Competitivo como é o Nadal, ele não vai querer jogar por jogar e começar a perder para jogadores de nível inferior ao dele por isso ele está pendurando a raquete.poderia continuar a jogar mas o ego dele não permite isso. Foi uma grande carreira com 14 vitórias em Roland garros. Um mito …e uma pena que o físico não suporte mais os jogos de três sets. Imagina de 5 sets.que seja feliz Rafael Nadal. Fez muito pelo tênis mundial

Jonas
Jonas
1 hora atrás

O Nadal tinha fome de títulos e recordes. Pela declaração dele fica evidente que não cansou de treinar ou da rotina de tenista, viagens etc… simplesmente seu corpo não respondia mais. Normal, aconteceu com Federer e aos poucos vem acontecendo com o Djoko, daqui a muitos anos será a vez de Alcaraz e Sinner. Mas o Nadal era um bicho diferente, talvez tenha tido o maior mental da história do esporte, um monstro, ele conseguiu por anos compensar a limitação técnica frente a Djoko e Federer e isso é absurdo.

22 Slams, 14 Roland Garros e 2 Ouros Olímpicos, uma lenda.

Sobre rivalidade é bastante claro que houve um equilíbrio absurdo entre Novak e Nadal: 60 jogos, 31 a 29 para o sérvio e batalhas absurdas que farão muita falta. Difícil vermos algo parecido com isso daqui pra frente.

Federer e Nadal era um confronto de estilos, até 2014 existia uma paternidade que chegou a estar 23 a 10 para o espanhol, um massacre. Federer amenizou a partir de 2017, mas não chega nem perto do equilíbrio entre o sérvio e o espanhol.

Maurício Luís *
Maurício Luís *
1 hora atrás

Dalcim achou a palavra certa pra definir este prêmio: surreal.
Esses sheiks das arábias não sabem o que fazem com o $$$$.
Lembrei de uma história que escutei.
Um desses sheiks mandou o filho estudar na melhor universidade dos Estados Unidos. Depois de 1 mês, o pai entra em contato:
– Filho, como estão os estudos? Tá gostando?
– Sim, pai! Pessoal aqui é muito bom, todos amigos. Mas tô meio sem jeito… porque enquanto eu venho com aquela Ferrari zero bala que o senhor me deu, meus amigos vem de metrô.
– Meu filho, a nossa família não pode passar vergonha. Tô lhe mandando 30 milhões de dólares. Compre um metrô pra você também!

NADAL X NOLE – Considerando os N problemas físicos que o espanhol enfrentou, foi um milagre da medicina esportiva a duração da carreira dele. Sai com 2 coroas: rei do saibro e rei da superação.

Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br
Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br

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