O desafio agora é na grama: quem pode ameaçar Sinner e Alcaraz?

Por um período na historia do tênis, essa época do ano era conhecida pelo aparecimento de alguns jogadores de características próprias. Os então chamados “saque e voleio”. O pisoteio nas quadras da temporada de grama já denunciava o estilo. O piso ficava marcado na forma de um triângulo, com a linha de base praticamente gasta indo em direção ao centro da rede. (Desculpem o nariz de cera, mas acho legal lembrar). Era o estrelato de tenistas tipo Alexander Bublik, como Goran Ivanisevic, Patrick Rafter, Boris Becker, Tim Henman, Mark Philippoussis, entre outros. O momento era tão típico e as diferenças do circuito eram tão nítidas que um astro como Ivan Lendl jamais levantou o troféu de campeão no All England Club. Em contra partida Pete Sampras nunca reinou em Roland Garros, embora tenha um título no saibro de Roma no seu currículo.

Nessa época, os jogos  na grama quase não tinham trocas de bolas. Lembro que certa vez perguntaram a Goran Ivanisevic se ele não acharia mais interessante controlar um pouco o saque para mostrar o seu bom tênis. O ex-campeão de Wimbledon, entre irônico e arrogante, disse “se quiserem me contratar para exibição posso sim jogar de outra forma, mas aqui vou forçar o primeiro e também o segundo serviço”.

Resultado de comportamentos assim deixaram o jogo na grama pouco atrativo, na opinião de muitos. Alguns jornais ingleses publicavam nas estatísticas a informação de quanto tempo a bola ficava em jogo, muito pouco em comparação ao tempo da partida. Era um detalhe tão importante como o número de aces, de erros não forçados, etc.

A grama deixava o jogo muito rápido, aliado a um impermeabilizante aplicado nas bolinhas (para não encharcar o feltro, diante da umidade, comum aos dias de chuva) os pontos eram disputados em alta velocidade.

Diante desse cenário, os conservadores organizadores do All England Club decidiram trocar o jardineiro. O cargo em Wimbledon é tratado como uma sumidade, um  PHD. E com o uso de uma grama da família Ryegrass, a perennial, pode-se enfim favorecer as trocas de bolas e diminuir um pouco a eficiência dos saques. Hoje, o desgaste do piso fica praticamente todo na linha de base.

O jogo na grama passou então a ter uma maior igualdade de condições. Não basta ter um bom saque para vencer, embora, é claro, ainda ajude muito. Assim, pode-se avaliar quem realmente merece a vitória, além de tudo ficar bem mais atraente.

Nessas condições, o bicampeão no saibro de Roland Garros, Carlos Alcaraz também reinou em Wimbledon, com os títulos de 2023 e 2024. É possível que ainda se possa ver um duelo em Londres tão bonito como foi em Paris, com Jannik Sinner tendo brilhado em quadras sintéticas como as do Australian Open em 2024 e 2025 e no Us Open do ano passado.

Aliás esses dois jogadores seguem dominando os principais torneios do circuito desde o início de 2024. Curioso é que a geração imediatamente anterior praticamente não conseguiu troféus de Slams, muito provavelmente pela ainda forte presença do Big 3. Os únicos a furarem foram Dominic Thiem e Daniil Medvedev. Outros como Alexander Zverev e Casper Ruud chegaram a três finais, Stefano Tsitsipas a duas, Matteo Berrettini, Nick Kyrgios e Taylor Fritz a uma. Será que em Wimbledon alguém poderá quebrar a atual hegemonia de Sinner e Alcaraz?

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Palíndromo
Palíndromo
1 mês atrás

Bom destacar que nenhum dos jogadores da geração anterior conseguiu conquistar a glória máxima do tênis, que é o título em Wimbledon. O que só reforça como foi uma verdadeira geração perdida, repleta de jogadores “bonzinhos”, no máximo.

Haroldo Guimarães
Haroldo Guimarães
1 mês atrás
Responder para  Palíndromo

Não sei a qual geração vc se refere, mas Djokovick e Federer tem 7 títulos cada, anos antes Sampras tem 7 e um pouco antes Borg tem 5, isso de 1970 pra cá. Muitos com 3 ou 4 títulos e WB. Ou seja, não entendi o comentário.

Sergio
Sergio
1 mês atrás
Responder para  Haroldo Guimarães

Também não entendi.

Fabio
Fabio
1 mês atrás
Responder para  Haroldo Guimarães

Cara, vc leu a reportagem?
O Chiquinho falou da geração imediatamente anterior ao Sinner e Alcaraz, mas não se referiu ao Big 3 (Federer, Nadal e Djokovic) e sim à geração de Zverev, Thiem, Ruud, Kyrgios, Medvedev e alguns outros e dentre eles, apenas Medvedev e Thiem ganharam grand slam. Uma melhor interpretação de texto ajudaria.

Julio Marinho
Julio Marinho
1 mês atrás

Djokovic certamente é uma ameaça na grama. Finalista nas duas últimas edições, além de 7 títulos. Vejo ele na frente de Sinner especificamente na grama, onde a bola flat de esquerda dele, mas habilidades no slice e jogo de rede funcionam bem mais que no saibro.

Palíndromo
Palíndromo
1 mês atrás
Responder para  Julio Marinho

Da última vez em que Djokovic investiu no jogo de rede em Wimbledon ele foi esmagado pelo Alcaraz. Também praticamente eliminou o uso de slices do seu no jogo, então não seria uma opção viável.
O Djoko ficará plantado no fundo a maior parte do torneio, especialmente nas rodadas finais, quando a grama vira um terrão. É o que ele sabe fazer (e muito bem).

Julio Marinho
Julio Marinho
1 mês atrás
Responder para  Palíndromo

Mas contra o Alcaraz acho mais difícil porque ele se vira bem com slices e bolas baixas. Acho ele favorito mais que o Sinner, não por muito nos dias de hoje. Mas enfim, lá ele é um candidato forte.

Maxwel
Maxwel
27 dias atrás
Responder para  Palíndromo

Esmagado? Você viu o jogo? 3×2 para o Alçaram. Tá um pouco longe de ser esmagado né?

Palíndromo
Palíndromo
1 mês atrás
Responder para  Julio Marinho

Para se ter uma ideia, na derrota para Alcaraz na final de Wimbledon em 2024 Djokovic teve um aproveitamento de 27/53 subidas à rede. Muito, muito baixo.

Rafael
Rafael
1 mês atrás
Responder para  Palíndromo

Lembre-se que ele havia feito artroscopia no joelho 30 dias antes. Por isso ele teve uma final abaixo do normal.
O sérvio vai levar este ano. Pode anotar aí.

Berg
Berg
1 mês atrás
Responder para  Rafael

Você é daqueles que acredita em Papai Noel. Djokovic já foi amigo. A surra em RG já disse isso. Acredito que assim como Federer se tocou quando apanhou em Wimbledon, Nadal se tocou quando apanhou eu RG, Djokovic vai se tocar quando levar um 3 x 0 no Australian Open do ano que vem.

FELIPE
FELIPE
18 dias atrás
Responder para  Rafael

Anotado! :p

Luiz Henrique Sossai
Luiz Henrique Sossai
1 mês atrás
Responder para  Julio Marinho

Só acrescentando, o Djokovic disputou todas as finais de Wimbledon desde 2018.

Rafael
Rafael
1 mês atrás
Responder para  Luiz Henrique Sossai

Mais favorito, impossível!

Sergio
Sergio
1 mês atrás
Responder para  Julio Marinho

Djokovic para mim não tem a mínima chance esse próximo Wimbledon. Com Alcaraz e Sinner voando do jeito que estão, sem chances para o sérvio. Penso que talvez o britânico Drapper possa incomodar os dois líderes do ranking. Talvez o Mensik possa ir longe também. Nosso Fonseca pode aprontar de novo nas primeiras rodadas e ir mais além.

evaldo.moreira
evaldo.moreira
1 mês atrás
Responder para  Sergio

Fonseca ??? Ai foi longe demais…..

Jose_Kiel
Jose_Kiel
19 dias atrás
Responder para  Sergio

Kkk, o Fonseca monojogo(só dá pancada)?? Faz-me-rir né

Carlos Matta
Carlos Matta
17 dias atrás
Responder para  Sergio

Djokovic com zero chance em qualquer piso contra Sinner ou Alcaraz

Ronildo
Ronildo
1 mês atrás

Chiquinho, você lembra em qual ano fizeram a mudança da grama em Wimbledon?

Ronildo
Ronildo
1 mês atrás
Responder para  Chiquinho Leite Moreira

Obrigado Chiquinho!

Luciano
Luciano
1 mês atrás

Acho que o Djokovic chega no mínimo na semifinal de Wimbledon, com facilidade. Aí depois, tem dois jogos. Esse cara vai dar o sangue lá!

Rogério
Rogério
1 mês atrás

Djokovic é claro! Salvo alguma surpresa o título fica entre ele, Carlitos e Sinner. Não vejo nenhum outro jogador para dominar a grama. Talvez o Drapper por ser inglês, mas ainda assim coloco abaixo dos três.

M. Bernal
M. Bernal
1 mês atrás
Responder para  Rogério

Esse aí é zebra..

André Aguiar
André Aguiar
1 mês atrás

Chiquinho, esse ano você fará uso da sua privilegiada cadeira cativa na fila M da Centre Court?

M. Bernal
M. Bernal
1 mês atrás

Favoritos atuais são Sinner e Alcaraz, pelo que tem apresentado este ano. E só.

Outros postulantes podem ser considerados zebras.

No entanto, se a zebra aparecer e derrubar Sinner ou Alcaraz, podemos então sim ter outros postulantes as semis e as quartas presentes numa eventual final.

Importante mencionar que a zebra pode aparecer tanto para trazer um jogador não postulante a uma eventual final, como para derrubá-lo por antecipação.

Mas neste momento, não dá para sonhar (nem para ter pesadelos). Apenas aguardar… e torcer para que a guerra atual não se alastre e coloque um ponto de interrogação na cabeça dos organizadores.

Fingers crossed… para que a mentalidade de alguns sofram uma mudança, já que parecem que aqueles que se lembram sobre como é uma grande guerra estão em seus últimos dias sobre esra terram

Gerson
Gerson
1 mês atrás

Djokovic

Sliceman
Sliceman
1 mês atrás

Ninguém

Ronildo
Ronildo
1 mês atrás

Chiquinho, você tem mais informações sobre esta pressão para se mudar o piso em Wimbledon por causa da velocidade do jogo? Você lembra se foi mesmo cogitado mudar o piso para cimento como fizeram AO e US Open?

Filipe Starke
Filipe Starke
21 dias atrás

Cobolli tem boas chances, é o terceiro favorito.

Carlos Roberto Gomes
Carlos Roberto Gomes
16 dias atrás

Um Espetáculo no Templo do Tênis

Que privilégio é assistir a um duelo como este: Sinner e Alcaraz, dois jovens gigantes do tênis, protagonizando uma verdadeira obra-prima em Wimbledon!

Foram pontos maravilhosos, movimentos rápidos como o vento, força que impressiona e uma precisão quase cirúrgica em cada ponto. Dois atletas que não apenas jogam tênis, mas dançam sobre a grama sagrada, elevando o esporte a um nível sublime.

Alcaraz, com sua garra, criatividade e talento inegável, mostrou por que já é um campeão e continuará encantando o mundo.

Mas hoje, os aplausos mais altos vão para Jannik Sinner, que brilhou com serenidade e potência, dominando com maturidade e conquistando, com merecimento, o título de Wimbledon!

Um jogo que ficará marcado na memória.
Um campeão que entra para a história.
E um esporte que, graças a eles, se renova com beleza e emoção.

Bravo, Sinner! Bravo, Alcaraz!
O tênis agradece.

Jornalista especializado em tênis, com larga participação em diversos órgãos de divulgação, como TV Globo, SporTV, Grupo Bandeirantes de Comunicações e o jornal Estado de S. Paulo. Revela sua experiência com histórias de bastidores dos principais torneios mundiais. Já cobriu mais de 70 Grand Slams: 30 em Roland Garros; 21, no US Open; 18 em Wimbledon; e 5 no Australian Open.
Jornalista especializado em tênis, com larga participação em diversos órgãos de divulgação, como TV Globo, SporTV, Grupo Bandeirantes de Comunicações e o jornal Estado de S. Paulo. Revela sua experiência com histórias de bastidores dos principais torneios mundiais. Já cobriu mais de 70 Grand Slams: 30 em Roland Garros; 21, no US Open; 18 em Wimbledon; e 5 no Australian Open.
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