Bons exemplos, grandes histórias

Foto: João Pires

Ainda que em níveis totalmente distintos, o tênis nos dá grandes histórias nesta semana. Recomendo refletir sobre elas. Afinal, este mundo anda precisando de bons exemplos.

Vale a pena investir

Gustavo Almeida está em sua primeira final de nível M35, logo depois de sair do circuito juvenil e tentar os primeiros passos no difícil mundo profissional. O paranaense de 19 anos é de origem humilde, nascido na Vila Concórdia, em Guarapuava. Influenciado pelo pai, que trabalhava no Clube Guaíra, se empolgou com o tênis e chegava a pular o muro para praticar no paredão. Até que o Projeto Tô no Tênis, trabalho social chefiado por Agnaldo Almeida Silva, o colocou na turma. Ele dividia o tempo entre pegar bolinhas e treinar.

Em 2019, já com títulos infantis, Gustavo se mudou para o Instituto Ícaro, em Curitiba, que funciona na academia DM e é uma homenagem ao filho falecido de Duda Marcolin por acidente de moto e hoje reúne duas centenas de jovens carentes. Oferece aulas de inglês, fisioterapia e preparador físico, mas também reforço em Português e Matemática.

Pouco a pouco, Gustavo passou a ganhar projeção no circuito juvenil, viajou o mundo, disputou Grand Slam e  decidiu se arriscar no tênis profissional, onde até agora fez uma final de M15 e ganhou um título de duplas em M25. Nunca abandonou os estudos, conseguiu chance de treinar na Argentina e recebeu há poucos meses bolsa de estudos para a Universidade da Geórgia.

Como o próprio nome diz, projeto social tem como meta usar um elemento importante, no caso o esporte e neste particular o tênis, para socializar garotos e meninas oriundos de comunidades mais necessitadas. Oferecem não apenas aulas de forehand e saque, mas cuidam da nutrição, do desempenho escolar, da interação com a família e mostram caminhos.

Produzir resultados e gerar tenistas não está no escopo, mas este é apenas mais um excelente exemplo de como o tênis brasileiro desperdiça talentos porque nunca teve a preocupação de realizar um trabalho de prospecção e apoio àqueles que mostram potencial. Gustavo teve sorte, se agarrou à oportunidade, subiu dezenas de degraus e quem sabe o quão longe ainda pode chegar.

A ‘vingança’ de Townsend

A norte-americana Taylor Townsend acaba de assumir o número 1 do ranking de duplas e se torna a primeira mãe a fazê-lo. O sonho conquistado com a presença na final de Washington é uma grande resposta a tanta gente que não acreditou nela. Canhota de grande vigor físico, tornou-se a primeira tenista de seu país a terminar a temporada como líder juvenil, algo que não acontecia há 30 anos.

Mas pouco antes, Taylor teve grande desilusão. Mesmo integrante do programa oficial da USTA desde os 14 anos e treinando na Flórida, ela viu a entidade se recusar a pagar suas despesas para disputar o US Open e, pior ainda, não ganhou convite para a chave principal. O então presidente Patrick McEnroe alegou que a entidade não poderia bancar uma jogadora com físico inadequado. O pai de Donald Young organizou uma ‘vaquinha’ e garantiu a presença de Taylor ao menos na chave juvenil.

Depois disso, Townsend abandonou a USTA e passou a treinar com Zina Garrison, finalista de Wimbledon, que fez a pupila adotar o estilo de Martina Navratilova, ou seja, apostar mais no jogo de rede. Apesar dos problemas para manter a forma, Townsend virou top 100 em 2015 e fez oitavas no US Open de 2019. Um ano depois, anunciou estar grávida e teve Adyn Aubrey em março de 2021. Poderia ser o fim de sua carreira, mas jamais desistiu.

Usou o ‘ranking protegido’ para voltar em 2022 e começou a se destacar nas duplas. Ainda assim, chegou a ser 46ª do mundo em simples e hoje ainda se mantém entre as 100 primeiras. Como duplista, seu talento ficou ainda mais evidente. Townsend, que já foi campeã ao lado de Luísa Stefani e Bia Haddad Maia, fez finais em todos os Grand Slam e faturou Austrália e Wimbledon, chegando ao máximo do sucesso ao lado da tcheca Katerina Siniakova. Por uma dessas ironias do destino, Townsend tomará o lugar nesta segunda-feira justamente de Siniakova e se tornará a 50ª mulher a liderar o ranking de duplas desde 1975.

O amor de Venus

Quando todo mundo dava como certa uma aposentadoria silenciosa, eis que Venus Williams não apenas voltou ao circuito como ganhou uma rodada de simples e outra de duplas no 500 de Washington. Aos 45 anos, é a mais velha a vencer um jogo de primeira linha desde Martina Navratilova, que tinha 47 anos em Wimbledon de 2004.

Venus estreou no circuito aos 14, em 1994, quando a maioria das participantes de Washington mal era nascida. Seu currículo de número 1 de simples e duplas, sete troféus de Slam individuais e 16 de duplas e mais cinco medalhas olímpicas não necessitava de novos capítulos.

Porém a mais velha das Williams ama o tênis. Sem competir desde março do ano passado por conta de contusões e o problema das doenças autoimunes, dedicou-se a diversas atividades distantes do tênis. Quando se sentiu saudável, achou motivação para treinar firme por meses – e ao lado de Serena – para encarar esse retorno. E não decepcionou. Sempre agressiva, eliminou a 35ª do mundo Peyton Stearns e promete que deu o primeiro passo. Já está garantida em Cincinnati. Que ótimo.

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Marco Aurelio
Marco Aurelio
10 horas atrás

Estimado Dalcim, ótima matéria. Oportunidades! Como faltam oportunidades para tantos talentos “escondidos” nesse Brazilzão…

Prezado Dalcim, por curiosidade, será que nosso João Reis conseguirá participar do qualy do US Open? Grato.

Marco Aurelio
Marco Aurelio
4 horas atrás
Responder para  Marco Aurelio

Mestre Dalcim, me refiro ao João Lucas Reis da Silva… obrigado!

Paulo A.
Paulo A.
10 horas atrás

Sem a menor sombra de dúvida, histórias muito inspiradoras. E que tornam o tênis um esporte ainda mais interessante porque nos mostra a dimensão humana deste. Aplausos aos três!!!

Kario
Kario
10 horas atrás

Excelente matéria, e parabéns pros tres progatonistas pela dedicação e amor a este esporte tão fascinante.

Luiz F.
Luiz F.
8 horas atrás

Histórias como essas só contribuem para o tênis ser um esporte ainda mais fascinante!

Reinaldo
Reinaldo
8 horas atrás

Que historia bacana do Gustavo Almeida. Parabéns para o projeto To no tenis e seus idealizadores, parabéns ao Pai que o incentivou. Obrigado, Dalcim por trazer essas histórias no blog!!!

Carlos Alexandre Andriola
Carlos Alexandre Andriola
8 horas atrás

Só quem conhece o Gustavo sabe a resiliência que ele tem. O menino é um exemplo de luta e dedicação. Merece muito e está só no começo.

Luiz Fernando
Luiz Fernando
5 horas atrás

Rybakina é mais jogadora do q Fernandez, tem mais potencia e perdeu um jogo ganho. Serviu para o jogo no set 2 e… desastre anunciado. 64 ENF, aí ninguém consegue se manter. Tomara q Emma vença na sequencia e vejamos um repeteco da final do USO 2021 se não me engano…
No maquino deve dar uma final entre Shelton e o Di Menor, talvez o francês nem entre em quadra depois do q vimos ontem…

Ronildo
Ronildo
5 horas atrás

Bons exemplos, grandes histórias. Contrasta com a história de Tsitsipas vs Ivanisevic. Djokovic treinou com o croata por 6 anos e venceu vários slans. Isso numa idade mais avançada que o Tsitsipas tem agora. Enquanto isso Tsitsipas mal aguentou um mês! Tsitsipas jamais poderia vencer o sérvio com uma mentalidade destas. Mesmo depois de ter 2 sets a 0 e inúmeras vezes 40/0 para fechar a partida. Ou mesmo que o sérvio deixasse o grego sempre abrir 5 games a zero nos próximos 3 sets o grego manhento jamais conseguiria fechar a partida.

SANDRA
SANDRA
3 horas atrás

Dalcim , o grego já participou do Rio Open ? Muito complicado o nome dele para escrever rsssss

Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br
Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br
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