No está muerto quien pelea

A célebre frase, atribuída ao argentino Che Guevara, talvez fosse a mais importante instrução que Juan Carlos Ferrero deveria ter dado a Carlos Alcaraz na épica final de Cincinnati deste domingo. Ainda por cima se, do outro lado da quadra, estiver um monstro sagrado do esporte chamado Novak Djokovic. O espanhol não aproveitou a chance vinda no começo do segundo set, quando o sérvio estava abatido e sem forças, e aí…

O primeiro grande ator deste domingo foi o calor. A partida começou às 16h30 locais com sensação térmica de 37 graus e terminou 3h50 depois com sensação de 33. Um absurdo. Por certa sorte, a região de Mason não tem grandes porções de água próximas e assim a umidade se manteve abaixo dos 50%. Nem consigo imaginar o que teria acontecido aos dois tenistas se estivessem em Nova York.

Foram muitas alternâncias na partida. Djokovic começou melhor, fez um game de devolução impecável, mas imediatamente falhou com seu próprio serviço e recolocou Alcaraz no set. O jogo mantinha qualidade técnica, com trocas firmes e muita correria, e isso acabou sendo desastroso para o sérvio. A parte física foi caindo e obviamente não há cabeça que se segure nessas condições. Nole pediu atendimento por aparente queda de pressão arterial após perder o saque no terceiro game do segundo set e, louvável, se mantinha em quadra.

Aí veio o erro crucial do espanhol, que não soube administrar a vantagem e a situação. Jogou apressado, quando o correto parecia trabalhar ainda mais os pontos, e de repente Djokovic havia renascido, optando de forma tão inteligente como eficiente pelas subidas à rede. A partir da quebra que marcou o empate, já com sombra sobre a quadra, o sérvio viu um novo horizonte. Empurrou para o tiebreak, evitou match-point e levantou a torcida ao ganhar o segundo set.

Curiosamente, era a vez de Alcaraz se mostrar mais cansado, ainda que continuasse a lutar por todos os pontos, principalmente porque sua campanha nas duas últimas semanas vinha repleta de jogos longos e tensos. Djokovic sacava melhor nos pontos valiosos, Alcaraz suava para evitar break-points, e por fim cedeu à pressão. Salvou-se quase por milagre quando sacou com 3/5, com direito a passada milimétrica, e depois viu Nole vacilar com o serviço e perder mais dois match-points, um deles com dupla falta. Tudo recheado de lances exigentes e bolas precisas, como se estivessem começando o jogo.

Apesar do peso das pernas, Alcaraz escapou de quatro break-points – o total só neste set foram 13 que permitiu ao sérvio – para virar para 6/5 e Djokovic levou rapidamente a novo tiebreak. Apesar de abrir 3-0, o sérvio ainda cedeu empate e por fim uma devolução profunda levou ao erro final de Carlitos. Muito justo rasgar a camiseta e soltar o urro da vitória, uma das mais eletrizantes de sua inigualável carreira.

Evidente que vencer Cincinnati não vinga completamente a perda de Wimbledon, mas nada como ganhar o 39º Masters, o 95º troféu e ainda se tornar o terceiro profissional com mais vitórias (1.069) num domingo mágico em que sobrepujou o incansável número 1 do ranking que é 16 anos mais jovem.

Não há maior favorito para o US Open.

Gauff completa grande semana
Não poderia haver melhor notícia para o tênis feminino norte-americano do que a vitória de Coco Gauff no WTA 1000 de Cincinnati, principalmente se pensarmos nas semelhanças entre o torneio e o US Open. Aliás, ela garantiu dobradinha das meninas americanas, já que Jessica Pegula faturou em Montréal na semana passada.

Ainda aos 19 anos mas uma autêntica veterana no circuito, Gauff tinha mesmo que ficar com o título. Primeiro, porque foi mais consistente e aproveitou as oportunidades que Karolina Muchova concedeu. Mas acima de tudo porque na véspera havia superado pela primeira vez a líder do ranking Iga Swiatek, numa partida que exigiu de tudo, incluindo físico e cabeça.

Muchova também teve uma semana magnífica, que começou com a vitória de virada em cima de Bia Haddad Maia. Sua capacidade de variação técnica barrou Aryna Sabalenka no sábado, o que lhe valeu com justiça o inédito top 10.

Esse conjunto de resultados só deixa o US Open bem aberto, ainda que duas das oito principais cabeças não estejam confiantes, casos de Maria Sakkari e Caroline Garcia, e haja preocupação sobre as condições atléticas de Elena Rybakina.

No entanto, as cabeças que virão um pouco mais atrás merecem atenção, como Muchova, Marketa Vondrousova, Petra Kvitova e Ludmila Samsonova. E obviamente que ninguém ficará feliz de cruzar Vika Azarenka, Jelena Ostapenko, Donna Vekic ou Bia Haddad em rodadas prematuras.

Bia, aliás, optou por não jogar em Cleveland, o que significa poupar o físico em detrimento de melhor ritmo de competição. De qualquer, imagino que ela vai precisar de uma boa chave para abrir caminho e recuperar confiança em Flushing Meadows.

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Manu
Manu
1 ano atrás

Dalcim, para vc quem é o maior e o melhor treinador de tênis do século 21?

Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br
Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br

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