Na torcida pelo top 10

Beatriz Haddad Maia fez uma campanha notável – e até certo ponto surpreendente – no WTA Elite. Depois de atuações instáveis em Pequim e Nanchang, era de se esperar dureza no forte grupo em que entrou em Zhuhai. E aí ela foi muito bem. Estreou com vitória sobre a número 11 Madison Keys, garantiu vaga na semi em cima da 20ª Caroline Garcia, bateu então a 17º Daria Kasatkina e fechou a campanha do título inédito na quadra dura, sem perder um único set, com uma dura batalha diante da dona da casa Qinwen Zheng, 18ª.

Única tenista participante do Elite que ainda não havia conquistado título nesta temporada, Bia aproveitou sua chance. Ganhou os 700 pontos, faturou também as duplas – que não valem pontos para o ranking – e embarcou ainda neste domingo para casa com o merecido prêmio bruto de US$ 660 mil, elevando o total desde janeiro para US$ 2,7 milhões e superando a casa dos US$ 5,2 mi na carreira. Chega pertinho dos US$ 5,3 mi de Thomaz Bellucci como quinta no geral, com lideranças de Guga Kuerten, Marcelo Melo e Bruno Soares.

E não para por aí. A canhota de 27 anos tem grande chance de ainda terminar no top 10. Ela sobe provisoriamente para o 11º posto, mas a WTA não divulgará lista oficial nesta segunda-feira e irá esperar o Finals de Cancún para encerrar o ranking da temporada 2023. Acontece que Barbora Krejcikova jogou nesta semana em Zhuhai, ganhou um jogo e também está como ‘alternate’ em Cancún. E com isso ela necessariamente abre mão dos pontos do Elite. Portanto, segundo a WTA, a tcheca terá de jogar duas partidas ou ganhar um jogo no Finals para se manter como 10ª. Caso contrário, o lugar será de Bia.

Com 23 torneios disputados desde janeiro, Bia totaliza 34 vitórias. Claro que poderiam ser mais. Amargou quedas logo na estreia em torneios importantes, como Australian Open, Dubai, Madri, Cincinnati e Pequim, além de Nottingham e Nanchang. Caso não tivesse sido surpreendida por Jasmine Paolini e Nao Hibino já em quadras chinesas, semanas atrás, e esse top 10 estaria assegurado.

Melhor olhar o lado bem positivo. Em nove dessas campanhas, Bia somou pelo menos 100 pontos, com destaque é claro para os 780 de Roland Garros e agora os 700 de seu terceiro título de simples. Outros bons números vieram com os 240 de Wimbledon e 215 de Roma, além de 185 de Abu Dhabi. Em Adelaide, Doha, Stuttgart e San Diego, somou 100. O segundo semestre foi um tanto frustrante, como se vê nessa conta. Vale acreditar que isso lhe dará ótima oportunidade de avanço ou recuperação no ranking em 2024.

A pergunta óbvia é: o que mudou tanto em Zhuhai? Chegar num dos Finals era a meta e isso talvez trouxe relaxamento. Também deve ter contribuído o fato de jogar sem favoritismo, já que as adversárias eram no mínimo de mesmo nível. Por fim, acertou o tempo da devolução na maior parte dos momentos importantes, usou melhor o primeiro saque e diminuiu drasticamente aquele padrão um tanto afoito de definir pontos com bolas muito difíceis. Aliás, ganhou todos os três tiebreaks disputados.

Independente do top 10, que me parece muito provável, Bia conseguiu uma essencial reação na reta final da temporada regular – ela ainda virá jogar a BJK Cup em Brasília contra a frágil Coreia – e isso será certamente motivador para sua preparação e planos, incluindo um calendário bem dosado. Como já foi dito aqui, há muitos pontos a trabalhar, como o primeiro saque e a parte defensiva. O bom é que sabemos que esforço e dedicação são seus atributos mais fortes.

Confusão em Cancún
A definição um tanto de última hora de organizar o Finals em Cancún virou dor de cabeça para a WTA e principalmente às melhores do mundo. O estádio onde serão disputadas as partidas de simples atrasou e as tenistas só puderem treinar por 45 minutos no sábado para tentar alguma adaptação. As quatro participantes da rodada inaugural jogam já neste domingo. Um descalabro total.

O pior é que os dois grupos colocaram muito equilíbrio e qualquer coisa pode acontecer a cada rodada. A chave de Aryna Sabalenka tem também Elena Rybakina, Jessica Pegula e Maria Sakkari, ou seja, tenistas que gostam de jogar de forma agressiva, ainda que a bielorrussa tenha destacado a dificuldade de sacar bem com o forte vento do local. O outro grupo terá as que sabem alternar melhor o ritmo, casos de Iga Swiatek, Coco Gauff, Ons Jabeur e Marketa Vondrousova.

Expectativa em Paris
Com três vagas ainda abertas para o Finals de Turim e o número 1 novamente em disputa, o Masters de Paris larga nesta segunda-feira. Novak Djokovic, Carlos Alcaraz, Daniil Medvedev, Jannik Sinner e Andrey Rublev podem jogar mais soltos, já que estão classificados, enquanto Stefanos Tsitsipas e Alexander Zverev estão bem perto de garantir lugar. Holger Rune luta muito de perto com Taylor Fritz e Hubert Hurkacz, mas sempre pode acontecer uma grande surpresa.

Djokovic precisa chegar na final para se assegurar na ponta até o Finals, porém a chave lhe reservou possíveis duelos contra Ben Shelton, o atual campeão Rune e o embalado Sinner, que está num setor duro com Andrey Rublev. O espanhol só irá recuperar a liderança se for no mínimo à final e parece ter um setor menos difícil, com Tsitsipas ou Zverev em possíveis quartas e Medvedev ou Hurkacz na semi.

Neste domingo, vimos a grande conquista de Sinner em Viena em jogo duríssimo diante de Medvedev, onde me chamou a atenção novamente a postura mais proativa do italiano. Já Aliassime defendeu o título na Basileia ao bater um avariado Hurkacz e pode enfim ter iniciado a reação que tanto se esperava.

Pigossi brilha em dobro
Laura Pigossi se tornou a primeira brasileira a ganhar medalha de ouro em simples e duplas numa mesma edição dos Jogos Pan-americanos, mas o sensacional mesmo foi ter enfrentado uma semi incrivelmente longa e difícil, o que lhe garantiu a vaga olímpica nos Jogos de Paris, desde que até junho se mantenha entre as 400 primeiras do ranking.

Ela e Luísa Stefani repetiram a parceria de bronze em Tóquio e mantiveram favoritismo, enquanto Gustavo Heide e Marcelo Demoliner também foram campeões. Stefani e Demo ficaram com prata na mista. Na disputa do bronze de simples, Thiago Monteiro venceu Heide pelo bronze, depois que ambos deixaram escapar a vaga na semi de sábado.

Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br
Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br

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