Kuzuhara destaca conselhos de Bellucci em temporada de aprendizado

Bruno Kuzuhara (Foto: João Pires)

Felipe Priante, da Costa do Sauípe
Especial para TenisBrasil

Nascido em São Paulo, Bruno Kuzuhara se mudou ainda bebê para os Estados Unidos com a família. Lá se criou, estudou e aprendeu a jogar tênis. Juvenil de destaque, ele foi campeão do Australian Open em 2022 e também chegou à liderança do ranking da ITF, mas na transição para o profissional as coisas não deslancharam de cara. Ocupando atualmente a modesta 538ª colocação no ranking, o atleta de 21 anos não se dá por vencido e segue acreditando no seu potencial.

Após a eliminação na última rodada do quali no challenger da Costa do Sauípe, em entrevista exclusiva para TenisBrasil, ele falou um pouco sobre o seu momento no circuito e destacou a importância da parceria que iniciou neste ano com Thomaz Bellucci. “A gente começou no final de abril e estamos num processo bem legal. Ele foi o segundo melhor brasileiro (no ranking) e a experiência que tem é imbatível, ele enxerga com o que estou sofrendo hoje e as coisas que eu preciso melhorar”.

Contemporâneo no juvenil de tenistas já consolidados como o francês Arthur Fils e o tcheco Jakub Mensik, este último sua vítima na final do Australian Open em que foi campeão, Kuzuhara ainda não alcançou os resultados deles no profissional, mas acredita que possa chegar lá no futuro. “Isso me motiva e sempre me motivou, para conseguir um dia chegar lá naquele bolo de novo”, disse o norte-americano.

Veja a entrevista completa com Kuzuhara:

Você foi campeão juvenil do Australian Open, mas veio esse período de transição do juvenil para o profissional, que é sempre um pouco delicado e ainda não conseguiu deslanchar como outros jogadores da sua geração. O que acha que aconteceu?

Acho que tem certos detalhes que eu venho trabalhando com meus treinadores, tem uma ou duas coisas que se eu conseguir melhorar e consertar. A partir disso, sinto que posso conseguir deslanchar para cima. Tem algumas coisas que preciso treinar em quadra e trabalhar para assim atingir os meus objetivos de ranking.

Você foi um juvenil de muito sucesso, jogava os principais torneios, mas aí quando começa o profissional precisa dar um passo atrás jogando futures e challengers. Como tem sido esse período para você?

Parece meio que tudo zerou. No meu último ano de juvenil, só joguei os G1, como a Gerdau e também o Banana Bowl, e também os Grand Slam. Lá é a elite do tênis, mas aí nos ‘futures’ parece que comecei tudo de novo. Lógico que é um processo difícil essa transição do juvenil para o profissional. Eu senti que exige muito mais o lado físico e também o aspecto mental, de conseguir manter a intensidade por muito mais tempo. Acho que isso é a maior diferença do juvenil para o profissional, porque o nível de tênis, principalmente em ‘futures’, é bem parecido com o dos melhores juvenis do mundo.

No juvenil, você enfrentou de igual para igual e até ganhou de gente como Arthur Fills, Juncheng Shang, Jakub Mensik e até o Daniel Vallejo, que agora foi campeão do challenger de Curitiba. Você se cobra ao ver que eles estão mais consolidados ou usa isso de estímulo?

Para mim é mais essa mentalidade de: ‘ah, um dia eu estava lá, eu ganhava deles, jogava pau a pau com esses caras aí’. Significa que eu tenho potencial para chegar nesse nível que eles estão hoje, acho que isso me motiva e sempre me motivou para conseguir um dia chegar lá naquele bolo de novo.

Este ano você começou uma parceria com Thomaz Bellucci. Como tem sido essa experiência?

As semanas que ele consegue encaixar a gente treina junto e até viaja para torneios. A gente começou no final de abril, começo de maio e estamos num processo bem legal. Ele foi o segundo melhor brasileiro (no ranking) e a experiência que tem é imbatível, ele enxerga com o que estou sofrendo hoje e as coisas que eu preciso melhorar.. A experiência que ele teve como jogador me ajuda muito.

Todos nós conhecemos bem o Thomaz como jogador, mas como ele é como treinador?

Ele parece ser um cara bem tímido, mas para mim é só chegar e conversar que ele troca uma ideia. Acho que ele tem uma sabedoria muito boa do tênis, muito grande. Acho que a gente enxerga de um jeito mais ou menos parecido como deveria ser o meu jogo e o que eu preciso melhorar. No treino, ele gosta de cobrar bastante essas coisas que precisam ser trabalhadas.

Você nasceu no Brasil, mas foi para os Estados Unidos muito jovem e se criou lá. No jogo você inclusive reclama em inglês. Como é sua relação entre esses dois países?

Penso em inglês, sonho em inglês, faço tudo em inglês, mas quando tenho uma conversa em português, obviamente, minha cabeça pensa em português. Eu ainda estou morando nos Estados Unidos, ainda fico lá a maioria do tempo treinando, só essas semanas que eu estava por aqui fazendo essa gira que treinei algumas semanas com o Thomaz. Treinamos algumas semanas em São Paulo, mas a maioria do tempo, 80% ou 90% do tempo eu estou nos Estados Unidos.

Quando você está lá, como faz? Usa as instalações da USTA?

O centro de treinamento da USTA lá em Orlando fica um pouquinho longe de onde eu moro, fica umas 3 horas de carro, mas quando eu preciso ou quando tem alguns jogadores lá treinando, sempre tento ir lá treinar. É um baita lugar pra treinar, tem uma estrutura muito boa, o que não falta lá é quadra, também tem academia. Se eu preciso de alguma força, sempre tem aquela opção para treinar lá, onde tem vários jogadores e também treinadores e os preparadores físicos para ajudar. Quando estou nos EUA fico perto de casa numa cidade chamada Coconut Creek, perto de Boca Raton e lá tem vários jogadores. Tem o Tommy Paul e o (Frances) Tiafoe. É só combinar com os jogadores que sempre tem alguém para os treinos

Quando você treina com caras consolidados como eles, o que dá para aprender dessas situações?

São duas personalidades bem diferentes. Os dois são muito esforçados, trabalham muito duro, mas o Tiafoe já é um cara bem brincalhão, gosta de fazer umas brincadeiras, então o treino com ele é muito mais divertido. Ele gosta de fazer bastante jogo de quadradinho, às vezes ele também gosta de jogar muito mais ponto. Com o Tommy Paul eu nunca cheguei a treinar junto, mas o que eu escutei dizer é que ele gosta bastante de fazer volume de treino. Outro cara que cheguei a treinar lá foi como (Reilly) Opelka. O treino com ele é saque e devolução, mas às vezes é bom treinar com um cara assim porque consigo me preparar bastante essa questão de manter o foco, porque se você perder um saque contra ele, o set já acabou.

Em 2023 você teve um ano legal, venceu três ITF, mas em 2024 deu uma parada e agora neste ano voltou a vencer um título. O que aconteceu em 2024?

Então, nesse ano de 2024 não consegui ganhar nenhum título, mas cheguei no meu maior ranking de 394. Naquele ano eu joguei bastante challenger e foi uma coisa que, para mim, foi bem duro, porque só até o meio do ano consegui encaixar uns bons resultados. Então, estava jogando primeira rodada e perdendo, mas perdendo nos detalhes contra caras que hoje estão no top 100, em partidas que escaparam por um ou dois pontos, um ou dois games. Senti que eu não estava conseguindo ganhar aqueles jogos pelos detalhes, mas não estava jogando mal. Só que meu ranking caiu e me obrigou a jogar os ‘futures’ de novo e nesse ano eu consegui ganhar um título no, em Sunrise que é perto de casa.

E como é ganhar um torneio em casa?

Eu adoro jogar em casa, sempre joguei bem em casa, desde os 12, 14 anos, do juvenil e da ITF. O Orange Ball sempre foi perto de casa, eu sempre conseguia ficar em casa para jogar. Nos 12 anos eu fiz final, nos 14 eu fiz semi e nos 18 fiz final. Sempre que eu posso ficar em casa, eu jogo bem. Acho que ficar em casa, ficar com meus pais, com minha mãe fazendo o jantar, sempre a comida que eu gosto, acabo sempre jogando bem.

Quando você vem para o Brasil, o que tenta matar de saudades? O que gosta de fazer ou comer que não tem nos EUA?

Com certeza a comida, é uma das coisas. Lá em São Paulo com certeza é um pastel de feira. Acho que não deveria estar comendo tanto, mas uma vez por semana eu vou na feira perto de casa e como pastel.

E aqui no Brasil você fica onde?

Eu tenho família que mora em São Paulo, aí fico com eles por lá.

Nesses momentos você consegue encontrar o Thomaz para treinar?

Sim, fica bom porque ele também mora em São Paulo. Essas duas semanas que fique sem jogar torneio a gente conseguiu treinar.

Estamos na reta final da temporada e queria saber: como estão seus objetivos e planos para a próxima temporada? Você ainda vai jogar bastante até o fim do ano?

Então, o plano esse ano é tentar terminar essa gira no Brasil, que está tendo bastante torneio. Depois daqui devo jogar uns 25 mil lá do Sul, em Lajeado e Santa Cruz. Ainda não sei onde vou terminar o ano, mas acho que o ano não foi tão bom como eu queria. Gostaria de alcançar resultados melhores, mas foi um ano de bastante aprendizado, principalmente nessa parceria com o Thomaz. Tem bastante coisa que vimos que preciso trabalhar e ele também abriu minha cabeça para enxergar certas coisas que não pensava em trabalhar ou em melhorar. Esse ano foi bom por causa disso.

E olhando para frente, o que a gente pode esperar?

Eu acho que um objetivo bom seria me consolidar para jogar nos challenges. Jogando os challengers, você consegue estar perto para poder beliscar um quali de Grand Slam.

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