“Jogar o circuito da ATP é outra vida”, afirma Zormann

Felipe Priante

Apesar do crescimento exponencial das premiações no circuito de tênis nos últimos tempos, com os principais torneios pagando cada vez mais aos jogadores, a maior parte dos tenistas sofre para conseguir sobreviver da modalidade, o que levou Novak Djokovic a criticar as condições, lamentando que apenas 400 conseguem ganhar a vida com o tênis. Inspirado na fala do número 1 do mundo, TenisBrasil preparou uma série especial com alguns brasileiros que não estão nesta faixa descrita pelo sérvio e que lutam para seguir competindo mesmo com as adversidades financeiras.

Encerrando a série, o paulista Marcelo Zormann reforça o abismo entre os principais jogadores do circuito e aqueles que tentam sobreviver jogando challengers e futures. A decisão de focar nas duplas inclusive se deu em função da distância financeira entre challengers e futures. “Uma coisa que me fez focar mais nas duplas foi essa questão financeira. Estava muito próximo dos challengers, onde é um pouco mais fácil de se viver porque você não tem gasto com hotel e isso já ajuda bastante”.

Assim como o parceiro de duplas Fernando Romboli e o amigo Orlando Luz, o paulista de 27 anos é outro que apela para os interclubes europeus para não ficar no prejuízo. “Neste ano acho que fiz quatro ou cinco ‘bate-volta’ entre Itália e Alemanha no final de semana. Perdia no torneio, então pegava um ônibus para a Alemanha, jogava o interclubes no domingo e depois já voltava para a Itália, onde tinha um novo torneio. Tanto que o motorista, que era o mesmo, na minha terceira viagem já até sabia quem eu era, que era tenista”, conta Zormann.

“Quando estou no Brasil eu também faço algo assim. Tem uma semana que não vou conseguir jogar (no circuito) porque vou disputar os Jogos Abertos de Santa Catarina, que é algo que me ajuda bastante a manter os meus gastos com o treino na ADK lá em Itajaí. É dessa maneira, se desdobrando com esforço para conseguir se manter. Outra coisa que me ajudou muito foi o Bolsa Atleta, que neste ano eu consegui e está me ajudando a investir um pouco mais em mim e na minha carreira”, acrescenta o paulista, que luta para entrar no top 100 de duplas pela primeira vez.

Zormann acredita que a pressão feita pelos tenistas, principalmente com a PTPA de Djokovic, tem sido relevante. “Ajudou bastante a melhorar as condições dos challengers e com isso as premiações. A ATP está dando mais atenção a isso e acredito que a tendência seja melhorar. Os challengers têm um nível bem alto de tênis já e muitas vezes tem caras top 70, 50 e até 30 jogando challenger. E não é que esses caras chegam lá e ganham, por isso temos que valorizar”, opina o duplista.

Buscar patrocínio para bancar os custos é uma tarefa árdua que praticamente não rende frutos. “Sinceramente, desde que voltei a jogar eu nem tenho tentado pela questão de ouvir muito ‘não’. Tento me virar como posso, trabalho o mais duro que consigo e deixo que os resultados falarem por mim para ver se surge alguém interessado. A única coisa que eu ganho atualmente é da Inni, de quem recebo roupas e algum dinheiro. O resto é de resultados e interclubes mesmo”.

O sonho de vingar como tenista profissional segue vivo mesmo com tantas adversidades. “Acho que, além de me dar a chance de mudar minha vida e da família, no fundo, aprecio poder viajar e conhecer os lugares e culturas. Este ano passei uma semana em um ATP na Alemanha, também passei uma semana com o Rafa (Matos) lá em Wimbledon e é outra realidade. É essa vontade de entrar no circuito ATP, que é outra vida. Quem vive ali não tem o que reclamar”, finaliza Zormann.

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JONY MARCIO SANTOS
JONY MARCIO SANTOS
11 meses atrás

Bom demais saber que o Zormann aparentemente superou aqueles problemas emocionais que tanto prejudicaram não só a carreira, mas também a própria vida dele. Evoluiu bastante como duplista neste ano (a dupla com Romboli parece ter encaixado mesmo), ainda é jovem e com certeza vai subir bastante no ranking nos próximos anos. O circuito de duplas permite que vc tenha uma longevidade maior no esporte. O indiano Bopanna chegou esse ano com 43 anos na final do US Open. Tem mais de 6 milhões de dólares só em premiação no circuito (aproximadamente 30 milhões de reais). Um valor bem considerável. Sabemos que atingir esse nível é uma tarefa das mais complicadas, mas o objetivo de chegar e se manter nos ATP Tour, onde as premiações são bem mais compensadoras, é bem factível na minha opinião. Na torcida pra que o Zormann, o Romboli, o Luz e todos os outros que se dedicarem a essa modalidade, tanto no masculino quanto no feminino, tenham o sucesso que almejam e que tanto merecem na carreira.

Paulo A.
Paulo A.
11 meses atrás
Responder para  JONY MARCIO SANTOS

Sim, faço minhas as suas palavras. Boa sorte aos guerreiros do tênis brasileiro.

Andre Borges
Andre Borges
11 meses atrás

Mas gente, lógico que eu entendo os tenistas criticarem a disparidade de faturamento e acho pessoalmente que isso precisa mudar, mas vejo que todo esporte é assim. Uma esmagadora minoria fica rica e 99,9% são trabalhadores, operários tentando ganhar seu sustento diário. Futebol, basquete, todos são assim. Aliás atores/atrizes, músicos, trabalhadores do cinema passam exatamente pela mesma coisa. Engenheiros, advogados, dentistas, psicólogos, enfermeiros…. 0,1% fica rico o resto todos estão batalhando seu sustento diário rebolando pra sobreviver. A vida e a sociedade é assim pra todos, não?

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