São Paulo (SP) – Paulo Camargo, tenista profissional que chegou ao ranking mundial quando já tinha mais de 30 anos e depois de superar dificuldades pessoais, será tema de um filme. Uma parceria das produtoras Ultra Violeta e A Fábrica, o filme é baseado em “1% Até onde você iria?”, livro no qual Camargo conta sua história, que mais parece um roteiro de ficção.
“Não é um filme de tênis. É um drama, com momentos de comédia, sobre a minha trajetória. O que eu conquistei não foi um marco no esporte. Porém, nas condições em que eu conquistei, consigo mostrar ao público que uma pessoa comum pode tornar um sonho possível mesmo sem condições, sem dinheiro, sem apoio, sem nada. Então, a minha história se conecta aos anseios da maioria dos brasileiros”, diz Paulo Camargo, de 53 anos.
Nascido em Itapetininga, no interior de São Paulo, ele é o mais jovem de quatro irmãos em uma família sem nenhuma tradição no esporte, formada por professores, advogados e promotores com títulos de mestre e doutor. Contrariando as expectativas da família, Camargo tinha desde os cinco anos de idade o sonho e a certeza de que se tornaria atleta profissional. Tentou várias modalidades, entre elas o atletismo, o futebol e o próprio tênis, e nada deu certo. “Eu tinha meus pais falando que eu era um fracasso, querendo me internar. Os amigos se afastaram de mim”, relembra.
Paulo Camargo foi ao fundo do poço depois de sofrer um acidente grave de moto aos 18 anos. Começou a beber em excesso, ganhou peso e chegou a uma situação financeira insustentável. Aos 30 anos, veio o ponto de virada.
Camargo decidiu que não desistiria do sonho de ser um tenista profissional. “Eu estava 40 quilos acima do peso e não tocava numa raquete há mais de 10 anos quando decidi me reerguer. Não tinha dinheiro e ninguém acreditava em mim.”
A estratégia de Paulo Camargo foi se infiltrar no circuito mundial de tênis, mesmo sendo um amador naquele momento. “Minha motivação era absurda. Liguei o hiperfoco e segui minha jornada feito uma flecha que busca acertar o centro do seu alvo.”
Muitas vezes sem dinheiro nem para comer, o tenista chegou a se alimentar apenas de bananas que ficavam à disposição dos atletas nas salas dos jogadores. A maré começou a virar quando ele percebeu que o único caminho era jogar os maiores torneios que havia no país. Ele mesmo corria atrás dos patrocínios para jogar. Especializou-se em duplas e no Aberto de Belo Horizonte, chegou às semifinais em 2006, contra os mineiros André Sá e Marcelo Melo. No Aberto de São Paulo, outro Challenger, chegou às quartas de final, vencendo o cabeça de chave 1 e 30º do mundo, o argentino Carlos Berlocq e seu compatriota Emiliano Redondi, nas oitavas.
Em sua curta carreira como profissional, jogou os maiores torneios do país entre 2004 a 2008. Em seu melhor momento, chegou a ficar entre os 700 melhores do ranking mundial. “O resumo é que eu realizei algo que as pessoas comuns acham que não é possível e é essa história que o filme vai contar”, conclui.
Depois que deixou as quadras, Paulo Camargo ainda conquistou um feito que é sonho de muitos colegas do esporte. Foi o responsável pelo treinamento de grandes nomes do tênis mundial, que vieram ao Brasil para um evento em 2015. Entre eles, Roger Federer, Maria Sharapova e Serena Williams. Esse episódio também estará no filme “1 % Até onde você iria?” como mais um capítulo da extraordinária jornada de Paulo Camargo para transformar um sonho em realidade. “Eu queria muito ver o Federer jogar. Como não podia pagar o ingresso, decidi fazer parte da equipe que treinaria o Federer e foi o que aconteceu. Tornei-me responsável pelo treinamento dos maiores nomes da história do tênis mundial que estiveram no Brasil naquela temporada”, relata.
Insistência é uma das palavras-chave do método “7 Pilares da Alta Performance”, que Paulo Camargo apresenta em suas palestras e treinamentos. “Eu sempre tive um plano claro na cabeça. Mesmo que estivesse passando fome, sabia exatamente aonde queria chegar. Eu aceitei passar por situações bem desagradáveis porque o sonho que eu perseguia exigia insistência. Não aceitava um não de nenhuma forma.”
Outra vez, numa história extraordinária de um homem comum, surge o nome de Roger Federer, uma inspiração, de certa forma, uma reverência (e referência) aquele que é o tenista mais importante da história do tênis, não por um rei, um aristocrata…alguém comum (não menos importante), batalhador, que busca na realidade difícil do esporte, sonhos (que muitas vezes nem se materializa).
O legado é isso…como disse aquele rapaz…”Federer é o próprio tênis”.