Está na hora de Bia repensar seu jogo

Depois do ascensão fulminante do ano passado, Beatriz Haddad Maia sabia que teria uma longa temporada jogando no alto nível, algo então inédito na sua carreira. Para encarar essa transição nada fácil, ela e o técnico Rafael Paciaroni optaram por montar uma estratégia de risco, onde o primordial era trabalhar com o primeiro saque, forçar devoluções e encurtar pontos.

Funcionou por um bom tempo e até mesmo no saibro Bia conseguiu manter padrão elevado, ainda que tenha sido obrigada a disputar partidas por vezes muito longas e desgastantes. Isso ficou possível porque claramente havia melhorado o físico e o trabalho de pernas e por consequência seu lado defensivo, até então um de seus pontos frágeis, sem falar na força mental de suportar pressão e encontrar soluções contra a parede.

É bem verdade que mesmo nesse primeiro semestre de resultados mais consistentes vieram algumas derrotas duras, como a queda na estreia do Australian Open ou a dificuldade que encontrou diante da juvenil Mirra Andreeva em Madri. Já ficava um tanto evidente que Bia não era mais novidade para suas adversárias e, sempre que cruzou alguém com capacidade de alternar o ritmo do jogo, o suor triplicou. Foi o caso até de Emma Raducanu, mas também das gabaritadas Ons Jabeur e Belinda Bencic.

Ainda assim, as quartas de Roma e a histórica semi de Roland Garros, onde competiu de igual para igual com Iga Swiatek, confirmaram a evolução geral da canhota brasileira, que fez um torneio extremamente exigente no saibro de Paris. Talvez por isso deveria ter atrasado a transição para a grama, onde se mostrou perdida. Ainda ganhou três bons jogos em Wimbledon até sentir a contusão que a impediu de desafiar Elena Rybakina.

Daí em diante Bia não se recuperou mais. Só ganhou dois jogos consecutivos uma vez, já em San Diego. Sua única atuação realmente empolgante deste segundo semestre foi em cima de Sloane Stephens. Em outras vezes, desperdiçou chances e vantagens, seja contra Leylah Fernandez ou Karolina Muchova e, pior ainda, caiu para oponentes que deveria ter se imposto com autoridade, principalmente Taylor Townsend. Sua dificuldade em jogar como favorita é clara.

A confiança depende de vitórias e de atuações seguras e isso tem sido raro, o que contribui para a instabilidade. O primeiro saque não machuca como se espera de uma tenista alta e canhota que é top 20, o segundo serviço ficou frágil e a coloca à mercê das devoluções ousadas, que quase toda menina do circuito tem hoje. As bolas de risco são muitas vezes desperdiçadas em momentos cruciais, o que gera a fuga de break-points e a frustração. Muitas vezes, falta trabalhar o ponto um pouquinho mais.

Resta apenas mais um torneio regular na temporada para ela – embora o Elite seja um evento disputado em grupo de três jogadoras – e depois virá a BJK Cup contra a Coreia, em Brasília, onde não se espera qualquer dificuldade. É muito provável que Bia encerre a temporada no top 20, o que seria um resultado excepcional. Ela ficou 14 meses consecutivos nesse posto de tanto prestígio e isso garante a condição de cabeça ao menos no primeiro trimestre de 2024.

Ao mesmo tempo, é evidente que a equipe precisa repensar seu jogo. Já foi bem legal ver maiores variações, com mais curtas e voleios, porém o saque é elemento essencial no seu estilo ofensivo e tenho de concordar que a contratação de um especialista na área seja a solução ideal, como tem acontecido com tanta frequência no circuito. A partir de um serviço eficiente, fica bem mais fácil construir seu plano de jogo de pontos curtos.

A hora é agora.

E mais

  • Hubert Hurkacz é daqueles tenistas que ninguém quer enfrentar no circuito. Exímio sacador, golpes pesados da base, movimentação muito acima da média, frieza e visão tática o tornam um terror. Assim, seu segundo título de Masters 1000 neste domingo o recoloca nos holofotes. O polonês está perto de recuperar posto no top 10 e entrou de vez na briga pelo Finals.
  • Hurkacz está em momento aliás muito superior a concorrentes diretos, como de Tsitsipas, Rune e Ruud, mas a distância para a vaga em Turim está na casa dos 400 pontos. Ele não vai se poupar e joga em Tóquio nesta semana, depois Basileia e Paris.
  • Andrey Rublev está virtualmente garantido em Turim. Em sua curiosa entrevista após o vice em Xangai, garantiu que está emocionalmente bem controlado. E tem certa razão. Apesar da gritaria, ficou a um ponto do título.
  • Quem perdeu embalo foi Alexander Zverev, com duas derrotas seguidas em estreia, mas o alemão ainda se mantém em sétimo na temporada.
  • Tóquio deverá ser decisivo para Taylor Fritz e Tommy Paul mostrarem se estão mesmo em condições de brigar pelas vagas. Alex de Minaur está distante, porém ainda pode sonhar. Paul e De Minaur nunca estiveram em posição mais adequada para atingir o sonhado top 10.
Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br
Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br

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