Deu a lógica por linhas tortas

A França tinha o melhor grupo, jogava em casa e em suas condições prediletas. A vitória era natural e assim foi. Com apenas um set perdido, o time de Paul-Henri Mathieu bateu o Brasil em Orléans e vai jogar as oitavas de final da Copa Davis, enquanto o ainda jovem equipe de Jaime Oncins terá de aguardar adversário em setembro para tentar de novo o qualificatório em 2026.

João Fonseca e Thiago Wild no entanto fizeram sua parte. O carioca de 18 anos, vindo de duas vitórias na Davis do ano passado e em momento de confiança neste início de temporada, não jogou seu melhor tênis contra o experiente Ugo Humbert. Equilibrou o quanto pôde o primeiro set, apesar de claramente estar desconfortável com o tempo da bola no piso tão veloz, deixando muito golpe na rede. O poderoso 15º do mundo só se soltou mesmo a partir da quebra que lhe deu a primeira série – não usou tão bem seu saque de canhoto – e aí sim foi bem superior, principalmente nas devoluções.

O ‘timing’ também pareceu o problema de Wild no primeiro set contra Arthur Fils, que fez o que quis, apesar de não se mostrar à vontade nas bolas baixas. O paranaense enfim conseguiu alongar mais os pontos e a partida ficou equilibrada e o set, aberto. Até que veio a falha do juiz. É bem verdade que Wild se enrolou nesse game. Abriu 40-15 e foi cedendo break-points. Aí, no terceiro deles, tentou curta e não foi firme no voleio para concluir. A bola ficou na mão do francês, que mandou longe. Para sua sorte, o juiz de cadeira viu a bola resvalar no brasileiro e determinou a quebra. Todo mundo errou. Foi mais fácil culpar o árbitro.

Mais tarde, Fils reconheceu que não viu a bola tocar no brasileiro e o próprio paranaense desculpou o adversário, dizendo que faria o mesmo se fosse a seu favor. Sinceridade absoluta. Wild reagiu mal ao cumprimentar o garoto francês na rede, no início de um bate-boca que precisou ser contido por capitães e juiz. Porém, garante que foi só o calor do momento e que depois se entendeu com Fils. Bom.

A Davis não exige marcação eletrônica das linhas e usa a arbitragem tradicional e o sistema de desafios. Também não possui checagem de lances, o que talvez resolveria o imbróglio do ponto controvertido e daria o 40-40 para Wild ainda tentar se manter vivo na partida. Há muitos recursos técnicos disponíveis hoje para simplificar essas polêmicas e causar justiça. Com seus 125 anos, a Davis precisa se modernizar.

Por fim, a pequena decepção brasileira coube à dupla, único ponto em que eu realmente acreditava no favoritismo brasileiro. Além de estarem jogando juntos há meses, Rafael Matos e Marcelo Melo têm muita experiência e enfrentaram um estranho dueto francês, em que Benjamin Bonzi sequer é especialista no assunto e muito menos atuou ao lado de Pierre Herbert, que convenhamos não é mais o mesmo ganhador de cinco Grand Slam. O canhoto gaúcho jogou melhor que Melo, mas ainda assim errou bolas fáceis, como acontece em qualquer partida de duplas. Foi no detalhe. Pena que ao menos não aumentamos a ansiedade francesa.

‘Encontrão’ derruba Chile

Em outro momento confuso do fim de semana, Zizou Bergs foi tão eufórico para a virada de lado, assim que tirou o serviço e garantiu o direito de sacar para a vitória, que no caminho deu um tremendo ‘encontrão’ e levou Cristian Garin ao chão. Para mim, obviamente não proposital.

Garin, que mostrou depois um olho roxo, exigiu a desclassificação do belga, mas o supervisor Carlos Ramos considerou acidental. O chileno se recusou a voltar para a quadra e perdeu por sucessivas advertências.

Dessa forma, ficam definidas as oitavas de final do Grupo Mundial da Copa Davis, a ser disputadas entre 12 e 14 de setembro: a Holanda, que não precisou jogar por ser a atual vice, jogará em casa contra a Argentina e a Austrália receberá a Bélgica. Todo desfalcado, o Canadá perdeu em casa para a Hungria, que cruzará com a Áustria, enquanto a Alemanha terá de ir ao Japão.

Os EUA recebem os tchecos, a Espanha sedia contra a Dinamarca – Holger Rune foi essencial na dura virada contra a Sérvia – e a França terá de ir à Croácia. Os sete classificados se juntam à campeã Itália nas quartas de final de Bolonha, no final de novembro.

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João Sawao ando
João Sawao ando
3 horas atrás

Questão de interpretação para mim foi proposital….o bergs não precisava correr daquele jeito .tinha que ser desclassificado o belga

Bruno
Bruno
2 horas atrás
Responder para  José Nilton Dalcim

Por esse ângulo achei que foi sem querer. Por outro tinha achado proposital. Mas independente disto, o Bergs não deveria ser desclassificado? Sendo intencional ou não, ele machucou outra pessoa. Foi imprudente.

Lázaro
Lázaro
2 horas atrás
Responder para  José Nilton Dalcim

Caro Dalcim, independentemente da intenção foi uma agressão contra o jogador adversário. Isto não é motivo de desclassificação? Lembro-me de jogadores que atiraram raquete ou mesmo a bola com raiva de algo do jogo e atingiram um juiz de linha e foram desclassificados, embora não tivessem intenção, mas, como neste caso, imprudência.

André Borges
André Borges
2 horas atrás
Responder para  José Nilton Dalcim

Eu vi proposital também, caminhando de frente, dentro do campo de visão. Mas anyway, proposital ou não é desclassificação, me lembro do Nalbandian chutando de forma imprudente uma placa e ferindo um juiz de linha, pedindo desculpas imediatamente e sendo desclassificado.

Evandro
Evandro
1 hora atrás
Responder para  André Borges

Óbvio que para oriundos de ceeeertas nacionalidades, a regra é aplicada com mais rigor… Tipo latino-americanos e sérvios.

SANDRO
SANDRO
2 horas atrás
Responder para  João Sawao ando

João Sawao ando, concordo contigo! Eu vi o mesmo lance por outros angulos em outros vídeos e dá para ver em outros ângulos que o Zizou vê o Garin pela frente e em vez de parar de correr e esperar o Garon passar para comemorar, ele salta para cima do Garin e lhe dá uma ombrada no olho e ainda lhe puxa a camisa derrubando o Garin no chão, como se fosse uma provocação ao Garin… Zizou teve uma atitude irresponsável e deveria ser punido por isso ! Vale ressaltar que por muito menos, por uma atitude nada proposital a tenista japonesa Miyu Kato e também o Djokovic foram desclassificados de Grand Slam por boladas involuntárias… O que Zizou Bergs foi muito mais grave e irresponsável !

José Yoh
José Yoh
1 hora atrás
Responder para  João Sawao ando

Para mim, parece pouco provável que o belga não tenha visto Garin chegando, mesmo na euforia da comemoração.

Mas por outros casos de desclassificação do passado, o coerente seria eliminá-lo independente se foi intencional ou não.

A Davis agradece a polêmica, bem coisa de futebol.
Abs

SANDRO
SANDRO
2 horas atrás

Se Djokovic foi desclassificado de um Grand Slam e multado por uma bolada realmente não proposital na boleira… Essa ombrada no olho do Garin é muito mais grave , resultado da imprudência irresponsável e desvairada do belga… Como ele não viu um cara grande como o Garin na frente dele ? Pulou pra cima, deu uma ombrada no olho e derrubou o Garin no chão ! Se isso não for motivo de desclassificação, eu não sei mais o que é? Ou o Djokovic só foi punido por ser “sérvio” ? Se for belga não é punido ?

Helena
Helena
1 hora atrás
Responder para  SANDRO

Desde esse incidente, já tivemos jogadores jogando a bola proposital na torcida, jogando sem querer, acertando bolada na cara de torcedor, dando um encontrão no adversário. Nenhum deles foi desclassificado.

HARES
HARES
2 horas atrás

Peoposital ou não, creio que não seja o ponto… a questão é que o Belga assumiu uma postura eufórica demais e com isso atropelou e machucou seu oponente…merecia sim uma desclassificação, em minha opinião…

A questão não é se foi intencional ou não…mas se causou algum tipo de dano a alguém…

É o Tênis, está mudado…regras estão sendo mal interpretadas…

Vide desclassificação De Djokovic por atingir uma bola sem querer numa juíza de linha no US OPEN…

Na Davis deve ser diferente, mas condescendente.

Maurício Luís *
Maurício Luís *
2 horas atrás

Resta-me só torcer pra que o time brasileiro ao menos não tenha perdido o rumo de volta pra casa.

José Yoh
José Yoh
1 hora atrás

As duas polêmicas de hoje escancaram o apetite da Davis por polêmicas. O atraso tecnológico do torneio, a guerra das torcidas, o patriotismo exagerado… tá tudo ali para ferver no caldeirão, cópia sem vergonha do futebol. A única diferença é que boa parte das estrelas não fazem questão de participar.
Abs

Evandro
Evandro
1 hora atrás

Por causa dessas duas atitudes, serei croata e australiano desde criancinha.

Fernando Brack
Fernando Brack
51 minutos atrás

Porque ‘por linhas tortas’? O time francês tem tenistas melhor ranqueados, jogou em casa e em piso de sua escolha. Pra mim deu a lógica, apenas isso.

Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br
Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br

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