A volta triunfal do voleador Djokovic

Cinco anos depois do tricampeonato, o sérvio Novak Djokovic encerrou uma série de pendências pessoais com o US Open e, por aquelas deliciosas ironias do esporte, acabou por conquistar em Flushing Meadows o 24º troféu de Grand Slam que havia lhe escapado na amistosa grama de Wimbledon, dois meses atrás.

Em 2019, Djokovic abandonou as oitavas de final por problemas físicos e na temporada seguinte, amplo favorito em uma edição sem Roger Federer e Rafael Nadal, veio a desclassificação. Há dois anos, Nova York poderia assistir ao segundo homem na história a ‘fechar’ o Grand Slam, mas Nole não segurou o emocional e nem ganhou set na decisão. Por fim, em 2022, a decisão de não se vacinar contra covid o tirou forçosamente do Slam norte-americano.

O retorno triunfal veio na hora certa. Djokovic decidiu disputar apenas dois torneios no piso sintético norte-americano e ganhou Cincinnati em cima do número 1 Carlos Alcaraz, vingando-se de Wimbledon, e neste domingo mostrou a Daniil Medvedev o quanto a capacidade técnica pode decidir uma partida, mesmo estando em quadra dois tenistas que já foram líderes do ranking.

Com dificuldade diante do paredão russo – não havia menor dúvida de que a opção tática do russo era alongar todos os pontos -, optou por ir à rede. E aí fez maravilhas em quadra, com voleios exigentes e execuções magistrais. Para completar, veio a reação no tiebreak, o que abriu caminho para a maior de tantas gigantescas façanhas em sua carreira.

A reedição da final de 2021 começou com longas trocas de bola e Djokovic muito mais determinado a definir os pontos, usando ótimas paralelas. O russo não mudou a postura tática, muito menos a posição de devolução, mas conseguiu subir de nível no segundo set e aí forçou o adversário a arriscar subidas à rede, já que parecia claro que a competição física tendia para Medvedev. Foi com arrojo que Djokovic impediu a perigosa quebra no oitavo game e o set-point. Ainda assim, o russo liderou o tiebreak até 3-1 e ainda fez 5-4, mas o saque do sérvio o impediu de sonhar de novo. Haveria ainda emoção quando Djokovic abriu 3/1 e permitiu reação, mas o jogo efetivamente acabou quando ele novamente calibrou as devoluções.

Esta é a terceira vez que Djokovic chega a quatro finais de Slam numa mesma temporada e ergue três troféus, repetindo 2015 e 2021. Desde 2020, disputou 13 Slam – foi obrigado a saltar um Australian Open e um US Open e não aconteceu um Wimbledon -, conquistando oito deles e sendo vice em mais três. É o domínio que explica por que iniciará nesta segunda-feira a inimaginável 390ª semana na frente de todos seus concorrentes.

Os deuses do tênis também tiveram sua parte neste feito histórico. Ao evitar o título de Djokovic em Wimbledon, permitiram que ele chegasse à marca justamente nos EUA, onde pode então fazer emocionante homenagem ao camisa 24 dos Los Angeles Lakers, amigo muito próximo, que faleceu em acidente de helicóptero em janeiro de 2020.

Ao conformado Medvedev, que havia feito uma grande exibição defensiva contra Alcaraz, fica a lição de que está na hora de agregar valores a seu jogo. O melhor exemplo a seguir esteve do outro lado da rede neste domingo.

Mais números para Djokovic

  • Quarto título em 10 finais disputadas no US Open
  • 24º Slam, igualando a recordista absoluta Margaret Court
  • Primeiro a ganhar 3 Slam num mesmo ano pela quarta vez (2011, 2015, 2021 e 2023)
  • Desde os 30 anos, tem 12-3 em finais de Slam (eram 12-9 antes dos 30)
  • Amplia marca para 36 finais em 72 Slam disputados
  • Tem 28-1 nas duras nesta temporada
  • Aos 36 anos, agora é mais velho campeão do US Open, superando os 35 de Ken Rosewall em 1970
  • Chega a 73-1 depois de ganhar o primeiro set no torneio. A exceção foi Wawrinka na final de 2016.
  • Soma 96 título na carreira (69 na dura) e se aproxima dos 103 do Federer e os 109 do Connors
  • Retoma a liderança do ranking e inicia 390ª semana de reinado
  • Totaliza 1.076 vitórias gerais e 361 em Slam
  • Com 88 vitórias no US Open, fica bem perto das 89 do Federer e mira as 98 do Connors
  • Os US$ 3 milhões deste domingo elevam para US$ 10,5 no ano e a US$ 175 mi oficiais na carreira
Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br
Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br

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