A lamentável ausência de mulheres treinadoras

Conchita com Muguruza. (Foto: WTA/Jimmy48)

A grande surpresa do noticiário internacional em outubro sem dúvida foi o rompimento da então número 1 do mundo Iga Swiatek com o seu técnico, o polaco Tomasz Wiktorowski, após uma temporada sem grandes resultados depois de Roland Garros e ausência no circuito.

Novo técnico já anunciado, o belga Wim Fissette, com excelente currículo, inclui tenistas como a japonesa Naomi Osaka, a belga Kim Clijsters, a romena Simona Halep, a alemã Angelique Kerber e a bielorrussa Victoria Azarenka. Todas aliás com vitórias em Grand Slams e topo do ranking, lugar agora ocupado pela bielorrussa Aryna Sabalenka.

É vida que segue para quem ficou por 122 semanas no topo do ranking!

A novidade porém que mais chamou a atenção, pelas circunstâncias do ocorrido, foi outra separação de uma também vitoriosa dupla do circuito – a cazaque Elena Rybakina e o seu técnico, Stefano Vukov, acusado de ter um comportamento extremamente agressivo com a pupila que ao longo do ano. Ela desistiu de competir em oito torneios do circuito, gerando especulações sobre os reais motivos, além dos alegados problemas físicos.

Dessa forma, a notícia de que a quinta tenista do planeta está em Dubai e treinando com a romena Simona Halep já causou um certo alívio na expectativa de retorno das duas ao circuito. Pessoalmente torço para que a romena de 33 anos e ex-líder do ranking, que já não reestreou muito bem, após mais de um ano afastada por doping (já inocentada), venha se juntar a um número ainda reduzido de mulheres técnicas de tenistas.

Atualmente temos apenas duas ao lado de tenistas no top 20 do mundo. A espanhola Conchita Martinez, campeã de Wimbledon em 1994, que já treinou por anos a também espanhola, Garbiñe Muguruza, vencedora em Roland Garros em 2016 e Wimbledon em 2017, agora está ao lado da russa Mirra Andreeva, atual 16ª do mundo. Menos conhecida do público brasileiro, a argentina Patrícia Tarabini, campeã de dupla mista em Roland Garros de 1996, treina atualmente outra russa, Anna Kalinskaya, 11ª da classificação WTA.

Voltando no tempo, vale relembrar outros nomes como o da francesa Amélie Mauresmo, vencedora do Australian Open e de Wimbledon em 2006, atual diretora de Roland Garros, que sofreu inúmeras críticas e discriminações ao longo do tempo que foi treinadora do britânico Andy Murray, então terceiro do mundo.

Outros nomes como Mary Pierce, Lindsay Davenport, Martina Navratilova e Rennee Stubbs atuam ou atuaram nessa área. Curiosamente ou não, todas elas, sem exceção, recheadas de títulos de Grand Slam em simples ou duplas, significando que a régua é muito alta quando se trata de treinadoras mulheres.

Comparativamente falando, temos o exemplo do próprio ex-treinador da Rybakina que, como jogador alcançou apenas o ranking de 1112 do mundo, Wim Fissette, que chegou a 1291 posição e Thomasz Wiktorowski (ex da Swiatek) e o francês Patrick Mouratoglou, atual técnico de Osaka e ex da Serena Williams. Sequer chegaram a ser tenistas profissionais.

Ao mesmo tempo e com o passar dele, vemos cada vez mais casos de técnicos abusivos, principalmente no circuito feminino, que sem dúvida prejudicaram a carreira, deixando marcas indeléveis na vida de muitas delas, sendo necessário em alguns casos recorrerem à justiça para seguirem adiante.

A França por exemplo mantém nas grades um deles, num caso gravíssimo de abuso sexual. Histórias de pais treinadores e violentos é também do conhecimento de muitos. São exemplos conhecidos o da norte-americana Jennifer Capriati e, muito notório, o da francesa Mary Pierce, que precisou até de processo judiciai para banir o pai do circuito.

Longe de acreditar que assédio moral, psicológico e sexual só parte de homens, é também absurdo pensar que eles detém, absolutos, o conhecimento para se alcançar sucesso na modalidade.

Se faz premente na atualidade que mulheres assumam esse posto, ao menos no circuito feminino. Não há qualquer justificativa para o contrário. Se o argumento é nível de jogo, vale lembrar que boa parte dos tenistas viajam com rebatedores e não necessariamente precisam jogar com seus técnicos que tem na parceria funções mais intelectuais, envolvendo táticas e estratégias de jogo.

Afinal não parece lógico que mulheres entendam mais do próprio jogo e até mesmo da forma de pensar e agir em quadra? Segue aí portanto um ponto para reflexão!

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Leonardo Faria
Leonardo Faria
2 horas atrás

“Se faz premente na atualidade que mulheres assumam esse posto, ao menos no circuito feminino. Não há qualquer justificativa para o contrário. ”

Isso é bem simples de se resolver. Por que não se pergunta às tenistas por que elas não contratam treinadoras? Se elas gerenciam a própria carreira, escolhem seus treinadores, fisioterapeutas, massagistas, por que elas não escolhem mulheres para isso? A partir do momento que souber a causa dessa não contratação, pode-se solucionar esse problema da ausência de treinadoras no circuito.

Ronaldo Spelta
Ronaldo Spelta
2 horas atrás
Responder para  Leonardo Faria

Além da escolha das jogadoras, será que existem mulheres com a vontade e capacidade de assumir o cargo de treinadora? Viajar o ano inteiro é mais complicado para mulheres do que para os homens? Alguém saberia dizer?

Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br
Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br

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