Suor e empenho precoces para os favoritos

Foto: Tennis Australia

Nada de vida fácil para os três grandes candidatos ao título que estrearam neste segundo dia de Australian Open. O defensor Jannik Sinner, o número 3 do mundo Carlos Alcaraz e o multicampeão Novak Djokovic tiveram de suar e mostrar empenho já na primeira ida à quadra. Se o italiano e o sérvio têm segunda rodada teoricamente tranquilas, o espanhol deve encarar um teste de paciência e correria.

Sinner encarou dois tiebreaks contra o ótimo sacador Nicolas Jarry e viveu seu momento maior de tensão quando precisou salvar break-points ainda no sétimo game da partida. O número 1 admitiu que o jogo poderia ter ido para qualquer lado nesses sets iniciais e diz que entrar em quadra para defender um título de Grand Slam é algo diferente. Ainda teve tempo para ser polido e não entrar na polêmica gerada por Jarry, que dias atrás lembrou que seu caso de doping foi tratado de forma diferente. Vai enfrentar agora o convidado local Tristan Schoolkate, 173º do ranking.

Houve também pequeno momento de instabilidade para Alcaraz. Ele fez 6/1 e 3/1, mas de repente perdeu o tempo do saque, levou duas quebras seguidas e viu Alexander Shevchenko servir para o segundo set. O cazaque sentiu feio o momento e aí o espanhol retomou as rédeas da partida, vencendo 9 dos 10 games seguintes. O ponto alto veio com as devoluções mais forçadas – chegou a ganhar 61% dos pontos quando Shevchenko usou segundo serviço. O canhoto baixinho e muito brigador Yoshihito Nishioka é a barreira seguinte.

O garoto Nishesh Basavareddy conseguiu dar trabalho a Djokovic, mesmo sem um poderoso serviço. Apostou em pontos longos por um set e meio, período em que o sérvio demonstrava oscilações e não era capaz de impor sua tão conhecida devolução. Enfim, o norte-americano vacilou no final do segundo set e, como se esperava, não manteve o padrão tão exigente. O sérvio sacou muito bem o tempo todo, ganhou confiança para usar paralelas e as trocas de bola ficaram mais curtas. Se não foi uma estreia dos sonhos, ao menos deverá servir para deixar Nole mais atento desde o começo. Vem agora outro nome da novíssima geração, Jaime Faria, que furou o quali para disputar seu primeiro Slam aos 21 anos.

Wild bate na trave

Para quem estava sem jogar desde o final de outubro e vindo de cirurgias, Thiago Wild teve atuação muito boa contra Fabian Marozsan e só se rendeu no último game do quinto set, após quatro horas de muito esforço. É bem verdade que o ace o salvou algumas vezes (foram 23), já que permitiu 16 break-points ao adversário e sofreu quatro quebras. O segundo serviço não assustou o húngaro, que terminou o jogo com 59% de pontos vencidos.

Fato curioso é que, apesar do placar tão apertado – 6/3, 6/7, 7/5, 5/7 e 7/5 em favor de Marozsan -, Wild jamais liderou a partida, nem no terceiro, nem no quinto set. Na verdade, ele passou a maior parte do tempo pressionado na série decisiva, tendo evitado oito break-points em três serviços diferentes antes de cair. Pena não ter chegado ao menos ao ‘tiebreakão’, que tornaria o momento mais lotérico.

O paranaense admitiu depois que por vezes duvidou do próprio físico e daí acabou arriscando um pouco além do que poderia em alguns momentos importantes. “A ideia era centralizar mais o jogo em cima do corpo dele e acho que executei bem o plano”. Ele agora se prepara para os jogos da Copa Davis contra a França, que acontecem logo depois do Australian Open, em Orleans.

O tênis brasileiro terá mais duas chances de avançar à segunda rodada: às 21h desta segunda-feira, Bia Haddad é favoritíssima contra a argentina Julia Riera, saibrista que veio do quali. E por volta das 6h30 de terça, o tão aguardado desafio de João Fonseca diante do top 10 Andrey Rublev. Imperdível.

Resumão

– Quatro cabeças masculino caíram cedo, com destaque para a atuação firme de Alex Michelsen contra o instável Stefanos Tsitsipas. Fizeram companhia ao grego o chileno Alejandro Tabillo e o argentino Sebastian Baez.
– Caso curioso aconteceu com Francesco Passaro. Ele entrou de lucky-loser no lugar de Fabio Fognini e viu Grigor Dimitrov desistir no começo do segundo set. outra vez por causa do quadril. Preocupante.
– Tommy Paul, Jack Draper e Frances Tiafoe tiveram de lutar cinco sets, desgaste precoce em qualquer Grand Slam.
– Nick Kyrgios perdeu do mesmo Jacob Fearnley que João Fonseca passou facilmente em Camberra e anunciou que este foi seu último Australian Open. Percebeu que falta físico.
– Mesmo sem atuações empolgantes, Iga Swiatek e Coco Gauff mantiveram o favoritismo. A polonesa avaliou sua estreia com crescimento progressivo e gostou de seu final de segundo set. A norte-americana oscilou demais no saque e cometeu alguns erros pavorosos contra Sofia Kenin.
– Belinda Bencic segue firme no seu retorno pós-maternidade e barrou Jelena Ostapenko. Bem mais inesperada foi a vitória de Lucia Bronzetti sobre Vika Azarenka, que desperdiçou 4/2 no segundo set e errou muito.
– A bicampeã Naomi Osaka se vingou de Caroline Garcia, para quem havia perdido na estreia do torneio em 2024, mas não terá muito tempo para comemorar: agora vem a versátil Karolina Muchova.

Saiba que…

– Com um dia a mais de torneio, o Australian Open se tornou no ano passado o primeiro Slam a superar a casa de 1 milhão de ingressos vendidos.
– Neste ano, o domingo de chuva foi fraco, mas a ‘segunda-feira cheia’ marcou recorde de maior público da história para um único dia: 95.290.
– Sinner defende um troféu de Slam pela primeira vez. O último a obter sucesso nisso foi Nadal, em Roland Garros de 2006.
– Cinco tenistas ganharam o Australian Open em sua primeira participação: Connors (1973), Tanner (77), Gerulaitis (77), Kriek (81) e Agassi (95). O último a obter tal façanha nos demais Slam foi Nadal, em Roland Garros de 2005.

Subscribe
Notificar
guest
22 Comentários
Oldest
Newest Most Voted
Inline Feedbacks
Ver todos os comentários
Rodrigo Lightman
Rodrigo Lightman
5 horas atrás

Assisti aos dois jogos dos Thiagos. Ambos jogaram muito bem. O Monteiro sacou bem e seu forehand tava bem calibrado. Depois da perda dos dois matches points, e consequentemente o set, a parte mental se esvaiu. No jogo do Wild, eu o achei lento, provavelmente pela longa inatividade. Mas fez belos voleios e lutou até o fim sem espernear. Parabéns aos dois!

Vitor
Vitor
5 horas atrás

Dalcim vc teve notícias da pré temporada do Wild?

Paulo H
Paulo H
5 horas atrás

Sou fã do sérvio, mas é nítido o desgaste físico dele durante a partida, fato que não era tão evidente nos seus áureos tempos. Uma das coisas que o Djoko devia aprimorar é entrar mais “ligado” nos sets iniciais, para ir vencendo desde o início, sem ter a dificuldade adicional de reverter um placar negativo. Essa, aliás, era uma das grandes qualidades do espanhol Rafael Nadal.

Gilvan
Gilvan
4 horas atrás

A bem da verdade, o único dos favoritos que pegou um adversário perigoso foi o Sinner. Zverev e Alcaraz enfrentaram sparrings de lixo.
Saindo dos favoritos, Djokovic fez o que se esperava: sofreu para vencer um tenista medíocre. No 1o confronto contra um atleta mais qualificado, será eliminado. Talvez não chegue às 4as de final.
Wild e Kyrgios são farinha do mesmo saco. 2 atletas descompromissados, que acham que jogam muito mais do que efetivamente apresentam em quadra. Inclusive, eu tinha avisado já na 1a semana de janeiro que esse seria o último ano do Kyrgios e não deu outra.

Sandra
Sandra
4 horas atrás

Para os 37 anos dó Djokovic, vc não achou que o físico dele está muito bom Dalcim ?

Ronildo
Ronildo
1 hora atrás
Responder para  José Nilton Dalcim

Vamos!!

Refaelov
Refaelov
3 horas atrás

Dalcin, você n achou sintomático 4 dos 6 sulamericanos q já estreiaram na chave masculina terem rodado ao final de 5 sets? Seria alguma defasagem da preparação física aqui do continente, um relaxamento maior dos sulamericanos durante as festividades de final de ano, fraqueza emocional dos latinos ou um acaso/coincidência mesmo?

Saudações!

Marcos Castillo
Marcos Castillo
3 horas atrás

E o maior tenista greco-australiano da história está eliminado do torneio.
Infelizmente não será desta vez que veremos o duelo contra Sinner.
Espero que ele volte atrás de sua decisão e que este não seja seu último AO. Gostaria muito que ele se comprometesse com o esporte, treinasse bastante, melhorasse seu físico e, aí então,em sua melhor forma, enfrentasse o italiano e levasse a óbvia surra que um número 1 do mundo imporia a um adversário com jogo de top 200.

Luigi
Luigi
3 horas atrás

A new balance foi bem demais nesse kit da Gauff, humilhação pra cima da nike

Gustavo
Gustavo
3 horas atrás

No Aberto da Austrália deste ano, os treinadores podem escolher sentar-se *no nível da quadra* com os jogadores, em cabines que exibem estatísticas em tempo real.

Assim como nas regras alteradas, os jogadores podem falar com os treinadores enquanto estiverem no mesmo lado da quadra

Sérgio Ribeiro
Sérgio Ribeiro
30 minutos atrás
Responder para  Gustavo

Errado : A ITF resolveu que a partir de 01/01/2025, o Treinador pode se comunicar de onde estiver, exceto durante os pontos. Vimos ontem Djokovic e Murray se utilizando da nova regra mas de maneira discreta. Vale pra TODOS os SLAM , Copa Davis, BJK CUP…etc…Abs !

Jota
Jota
2 horas atrás

Mas eu pensei que o Kyrgios voltaria para mostrar a todos que ele pode ganhar um Grand Slam? Ehehehe

Jota
Jota
2 horas atrás

A programação com Djokovic, Alcaraz e Kyrgios começando suas partidas praticamente no mesmo horário tem que estar entre as piores programações de todos os tempos!

Todos os 3 jogadores com grandes bases de fãs e apelo global, sem mencionar as audiências da TV!

Jota
Jota
2 horas atrás
Responder para  José Nilton Dalcim

Ou para dizerem que Jannik tem o maior número de fãs
Kkk

Groff
Groff
2 horas atrás

Pessoal, vi a agenda aqui e notei que vamos ter um duelo francês de gerações entre o sempre interessante Monfils e o novato Mpetshi Perricard. O último venceu em Basel na última temporada, e não tenho ouvido o pessoal falando muito a respeito (meu tempo por aqui está restrito faz um tempo, então tem isso também). Com 2,03m de altura, ele teve uma média de 217 km/h (135 mph) no primeiro saque até julho do ano passado. Na final de Basel, as médias de velocidade foram ainda maiores. Com bom deslocamento para o seu tamanho, pode vir a dar trabalho, mas minha observação é outra: o pessoal deixou as bolas mais felpudas e as quadras mais lentas, o que tornou o tênis, com algumas exceções, um festival de estilos baseados em defesa e contra-ataque (por sorte, Alcaraz e Sinner parecem gostar de um jogo mais agressivo, mas não é esse o ponto). Mas o que vai acontecer se chegarem tenistas ainda mais poderosos do que nas gerações passadas e trouxerem de volta o estilo majoritariamente baseado em ataque, com possibilidade inclusive de resgate do voleio seguido ao serviço? De notar que o Mpetshi Perricard teve média de segundo serviço de 207Kph na Suíça!!! Nesse sentido, penso no seguinte cenário: “tornaram o jogo mais lento, daí evoluímos para conseguir ficar ainda mais potentes e para voltar ao padrão de quando o jogo era baseado majoritariamente no serviço e não na correria lateral”, diriam esses novos supostos jogadores sobre os quais estou elucubrando. Eu, particularmente, ia gostar, mas as audiências também gostariam? O que acham? No mais, quero ver se consigo pegar pelo menos essa partida e a do João.

Marcelo Costa
Marcelo Costa
1 hora atrás
Responder para  Groff

A eterna discussão de velocidade, ano passado creio que foi indian wells, ou miami, eles mediam a velocidade média dos golpes de fundo, e pasme no drive média de 77 mph, e revez 71 mhp, ou seja, estão batendo a mais de 110 kph em ambos lados. O que Sinner fez e faz, nada mais é que bater mais a frente cortando o tempo da bola, ou seja, usando o proprio peso pra gerar potência em um swing mais curto e rápido, hoje o revez não é mais protegido, o jogador joga literalmente no meio da quadra, distribuindo de ambos lados com a mesma força e precisão.
O jogo de hoje não é e não será de ataque, será de variação, baseado em mudanças de direção, constancia e deslocamento. Você ao citar o jovem frances como exímio sacador, imagine ele sacar como saca, com uma bola e quadra extremamente veloz, quase não haveria jogo.
Eu particularmente adoro essa moderna forma de jogar, onde o tenista precisa de mais que recurso, precisa saber administrar esse repertório, pois, do outro lado terá alguém que não tem buracos, como vimos hoje o então desconhecido adversário do sérvio sustentando a troca de bolas dos dois lados.

Gustavo
Gustavo
1 hora atrás

Há muito mais honra no esporte em perder de forma justa do que em ganhar de forma injusta.

Rafael
Rafael
1 hora atrás

Alguém que viu o jogo do Alcaraz, notou alguma mudança no saque dele?

Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br
Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br
plugins premium WordPress

Comunicar erro

Comunique a redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nessa página.

Obs.: Link e título da página são enviados automaticamente ao TenisBrasil.