Com uma distribuição muito saudável entre saque firme e devolução agressiva, ingredientes muito bem-vindos sobre a grama, João Fonseca obteve sua segunda vitória em Wimbledon com louvor. Precisou de muita confiança para sair de diversos apertos gerados pelo norte-americano Jenson Brooksby e se emocionou com mais uma terceira rodada de Grand Slam, repetindo Roland Garros de um mês atrás.
O carioca de 18 anos continua a surpreender os analistas internacionais – e muito provavelmente seus experientes adversários – pela frieza com que encara os pontos delicados de uma partida. O exemplo maior foi o 0-40 do game final, onde jamais se apressou. Aliás, claramente ele sacou e devolveu muito melhor do que Brooksby, tendo feito a bola voltar 40% dos pontos em que o adversário colocou o primeiro saque e 47% em cima do segundo. Finalizou com 51 winners e ganhou 26 das 46 subidas à rede.
Na Era Profissional, iniciada em 1968, foram poucos os brasileiros que conseguiram chegar na terceira rodada de Wimbledon. Maria Esther Bueno fez isso duas vezes (1968 e 1976) assim como Cássio Motta (1983 e 1984) e Flávio Saretta (2002 e 2003). Também chegaram lá Edison Mandarino (1970), Carlos Kirmayr (1981), Marcos Hocevar e Patrícia Medrado (1982), João Soares (1983), Gustavo Kuerten (1999 e 2000), André Sá (2002), Thomaz Bellucci (2010) e Bia Haddad (2023 e 2024). De toda essa turma, superaram essa fase apenas Estherzinha, Guga, Sá e Bia.
O próximo desafio de Fonseca será o chileno Nicolas Jarry. Ele disputa seu sexto Wimbledon e repete a terceira rodada de 2023, aliás seu grande ano no circuito, com oitavas em Roland Garros e terceira fase também no US Open, além de dois títulos de ATP. Três temporadas antes, foi suspenso por uso de anabolizantes. Em 2024, fez final em Roma, o que o levou ao 16º do ranking. Mas tem feito um 2025 fraco, tendo chegado a Wimbledon com apenas seis vitórias em nível ATP, o que derrubou seu ranking para o 143º posto atual.
O chileno, que precisou ganhar seus três jogos do qualificatório, já marcou 40 aces nos dois jogos feitos na chave principal, o dobro de Fonseca, com 71% de acerto do forte primeiro saque e 83% de pontos obtidos com ele, números ligeiramente melhores que os do brasileiro (69% e 77%). Também possui um forehand respeitável, mas peca muito com o backhand, onde lhe falta consistência e muitas vezes potência. É o caminho.
Bia agora só nas duplas
Na gangorra que tem sido sua temporada até aqui, Bia Haddad Maia não conseguiu jogar bem duas partidas seguidas em Wimbledon e se despediu da chave de simples. O primeiro set contra Dalma Galfi, 110ª do ranking, foi apertado e a brasileira chegou a recuperar uma quebra para levar ao tiebreak, onde saiu atrás e reagiu de novo, mas nunca realmente se impôs.
A perda do primeiro set deixou a húngara muito confiante e Bia se perdeu, cedendo logo dois games de serviço, vendo a adversária se defender muito bem e sempre buscar contragolpes pelas paralelas. Bia fez oito duplas faltas, sete delas no primeiro set. Se Galfi salvou sete de oito break-points, a brasileira perdeu os três que permitiu.
O foco agora se volta à chave de duplas, onde ela e a alemã Laura Siegemund precisam ganhar boas rodadas para se manter na faixa de classificação ao Finals.
CORENTIN MOUTET SHOT OF THE TOURNAMENT AGAIN.
10/10 vision. 10/10 execution.
French flair at its finest. 🇫🇷🪄 pic.twitter.com/XBwEqohVsA
— Bastien Fachan (@BastienFachan) July 2, 2025
Resumão
– Alcaraz jogou para o gasto em cima do top 800 Tarvet e chegou a perder dois serviços, mas disparou 38 winners. Aguarda Aliasssime ou Struff.
– Fritz foi de novo ao quinto set, diante de mais um super-sacador, num jogo de pontos curtos. Diallo tem qualidades técnicas e precisa ganhar experiência. O 5º do mundo pega Davidovich ou Zandschulp e deve vir mais trabalho duro.
– Os russos não tiveram vida fácil. Khachanov chegou a estar 2 a 1 atrás de Mochizuki e Rublev saiu perdendo e reagiu em cima de Harris.
– Mais dois cabeças masculinos se despediram: Tiafoe parou no canhoto Norrie, semifinalista há três anos e sempre perigoso no piso, e Lehecka não tirou set de Bellucci. O britânico se reencontrará com Fonseca se ambos vencerem.
– E a finalista Paolini se despediu num jogo que podia ter caído para qualquer lado diante de Rakhimova. Tem chance de ainda se segurar no top 10.
– A chave se abriu para Anisimova, que será adversária de Galfi e viu também o adeus de Shnaider e Krueger. Já é possível pensar em duelo contra Osaka nas quartas.
– Sabalenka passou maus bocados diante do tênis de base pesado de Bouzkova, como era de se esperar, porém foi muito bem ver a número 1 cada vez mais solta na transição à rede.
– Sua adversária agora será Raducanu, com impecável atuação tática diante de Vondrousova, campeã de 2023 e que vinha do título em Berlim.
– E quem ganhar terá pela frente Svitolina ou Mertens, outro ótimo duelo da terceira rodada. E tudo indica que a sobrevivente cruzará com Keys. Será que a campeã sai daqui?
– Jogão de duplas entre Matos/Melo e Luz/Dodig. Demorou 3h05 e teve nova vitória do dueto todo brasileiro, que antevê segunda rodada bem propícia. Romboli ganhou seu primeiro jogo em Wimbledon e o terceiro de Slam.
Oi Dalcim, Thomaz Koch não alcançou 3a rodada em Wimbledon ?
Fez quartas, mas em 1967, portanto na Era amadora.
Com óbvia exceção de Alcaraz e Sinner, Fonseca tem tênis para ganhar de qualquer adversário, desde que mantenha a cabeça no lugar, atacando na hora certa e tendo a humildade de se defender e usar o slice quando preciso. Concentrar no saque e seguir com a confiança em alta. O jogo de hoje dá esperanças.
Caramba!!! Fico imaginando nosso querido João Fonseca nas quartas de final, enfrentando o bicampeão Carlos Alcaraz… sonhar continua sendo permitido, certo???
Boa noite. Parabéns pelo texto, Dalcim. Apenas um pequeno complemento: além de 2003, Saretta também fez 3a rodada em WB em 2002, perdendo justamente para André Sá.
Verdade! Obrigado pela correção.
Joao vence o chileno
Daria pro João ganhar desse Alcaraz meia boca das rodadas iniciais. Mais pra frente será complicado.
Os títulos do blog são de muita qualidade. Parabéns!!
Obrigado, Evandro!
Da 4ª colocação pra cima, vejo o nível da WTA bem sofrível. A prova é Beatriz Maia ter um ano tão irregular, e se sustentar ainda no top 20. Aliás, a brasileira só chegou a ser top10, diga-se de passagem de maneira bem efêmera, porque andou vencendo alguns torneios “ganháveis”, embora que merecidos, e também por ter alguns “curtos-circuitos”, e chegar longe em alguns torneios considerados grandes. Mas nunca sequer chegou a final de master mil, ou GS. É apenas uma jogadora mediana que teve algumas boas participações fora da sua média, chegando aonde chegou. O seu jogo é completamente previsível, e isso deve ser bem estudado pelas adversárias. Será que ela faz o mesmo?
Sim, ela fez final de um W1000, além de semifinal, quartas e oitavas em Slam, ou seja, chegou entre as 16 melhores, o que é um bom resultado pra alguém na faixa de ranking dela.
Agora, sobre ela seguir no Top 20: entre agosto e outubro, ela defende 1.462 pontos. Só com os pontos que ela somou nesses três meses no ano passado, ela estaria no Top 30.
comentarios infelizes. quantos jogadores brasileiros chegaram numa SF de slam em simples???
A chave abriu muito, professor. Parece improvável que o João, superando o Jarry, não passe também por Norrie ou Bellucci. De repente, as quartas de final projetadas ali atrás como um ‘sonho distante’ estão muito próximas. Trabalho muito duro do staff para blindar o João dessas projeções, porque é inevitável quando a chave se abre dessa forma e o potencial dele não é realmente conhecido.
Para o confronto com o chileno, me parece que o João vai estar em vantagem sempre que conseguir entrar nos pontos. Não vejo o Jarry incomodando o João nos games de serviço do brasileiro. A chave vai ser converter os BPs, algo que o João tem falhado nesses últimos meses.
Dalcim, fiquei curioso: poderia me informar quão longe foi a Maria Esther em 68 e 76 em Wimbledon?
Quartas em 1968 e Oitavas em 1976.
Não é impossível que minhas orações de torcedor finalmente possam ser atendidas…
Passei anos de minha vida pedindo que Guga desse dois passos à frente nas devoluções (e tivesse reflexo para sustentar isso), contudo não fui agraciado. Implorei aos céus que Bellucci jogasse os momentos decisivos como estava jogando nos pontos prévios, porém os anjos não me ouviram. Já neste ano tenho implorado para que o João seja mais calmo quando quiser fazer benditos winners de direita, isto é, que coloque a bola um metro e meio mais para dentro da quadra; que tão somente passe a esfera amarela para o outro lado quando isso for suficiente; e que não procure fazer winner em todo e qualquer contra-ataque. Talvez eu seja surpreendido e minhas súplicas sejam atendidas antes de minha novena acabar.
Ah, sim… Há algumas horas, em franco delírio, minha imaginação indicou-me que apenas um outro profissional jogou na rede de forma tão, ao mesmo tempo, elegante, intensa, sincrônica, técnica e com visão do ponto quanto João: o sueco Edberg. Claro que era um devaneio! Mas juro que eu quis ficar na dúvida…
Eu adoro ler essa coluna.
Fico lisonjeado!
Oi Dalcim, e comum ver quedas na grama mesmo jogando com os tenis corretos. Porem, o Joao parece cair mais que o comum. Vc notou o mesmo?
Verdade, ele realmente escorregou algumas vezes, mas talvez seja a falta de costume, Ari.