Acompanhei atentamente o Australian Open de 2024. Foram 15 dias de noites comprometidas e mal dormidas mas de grandes espetáculos. Vale a pena qualquer esforço para torcer primeiro para as brasileiras e brasileiros, depois para os preferidos. Nesse segundo quesito, o resultado foi bem satisfatório e ficam os aplausos para Jannik Sinner e Aryna Sabalenka.
Bia Haddad Maia e Luísa Stefani foram melhor que no ano anterior, porém ainda sabemos que podem chegar bem mais longe nesta temporada que acaba de começar.
De uma forma geral, chama muito a atenção a presença cada vez mais numerosa de tenistas do leste europeu e o nível de jogo apresentado. É evidente a constatação que a moda pegou: capitaneadas pela agora bicampeã Sabalenka, o lema agora é bater o mais forte possível em qualquer bola que possa ir para o lado da adversária.
Outra constatação que não é tão novidade, mas que chama cada vez mais a atenção é sobre o desaparecimento dos backhands de uma mão. Posso ter errado na conta, já que não assisti a todos os jogos, no entanto só encontrei duas tenistas, entre 128, com essa raridade: Viktorija Golubic, suíça de 31 anos, ex 35 do ranking; e a francesa de 21 anos Diane Parry, que teve a posição 58 como sua melhor classificação.
Desde praticamente o final da década de 1960, quando tenistas como Chris Evert, Bjorn Borg e Jimmy Connors começaram a fazer sucesso com o revés de duas mãos, esse golpe passou a ser mais observado, tornando-se popular. O circuito, falando só do feminino, passou a ficar bem dividido entre as duas opções. De um lado, a própria Chris Evert, sucedida por Monica Seles, Martina Hingis e as irmãs Williams (Venus e Serena). Do outro, Martina Navratilova, Steffi Graff, Gabriela Sabatini, Conchita Martinez , Amélie Mauresmo… citando apenas as mais conhecidas…
Só resta então justificar técnica e cientificamente o porquê da quase extinção, no circuito feminino, desse golpe tradicional e, no meu entender, o mais bonito entre todos. Vale lembrar que entre os homens ainda encontramos excelentes representantes.
Obviamente que esse tema já foi amplamente vasculhado e debatido, mas vamos aos fatos.
A iniciação ao esporte passou a ficar muito precoce (4 anos) e percebeu-se que o aprendizado do backhand era facilitado com a ajuda do outro braço. Dessa forma, ficou também mais fácil controlar e imprimir força ao golpe.
O backhand de uma mão também apresenta mais dificuldade em rebater bolas acima do nível dos ombros, dificultando dessa forma devoluções de saque ‘kick’, aquele com topspin que quicam bem alto.
As supostas antigas vantagens eram a facilidade de adaptar a empunhadura para o slice, voleio e um maior alcance, porém a maioria dos jogadores da atualidade já estão resolvendo essas diferenças com ambos os braços. No caso dos homens, algumas dessas dificuldades são superadas pelo desenvolvimento da força dos músculos envolvidos na execução do golpe.
Portanto, como no feminino já não vemos, recomendo apreciarem os maravilhosos backhands de jogadores como Stefanos Tsitsipas, Dominic Thiem, Stan Wawrinka, Grigor Dimitrov, Richard Gasquet e o jovem Lorenzo Musetti, enquanto é tempo. Afinal são verdadeiras ‘obras de arte’ do nossa modalidade!
Pena
O backhand de 1 mão deve morrer em 10 anos. Não há o que fazer. É um belo golpe, mas para as exigências do tenis moderno, simplesmente é uma desvantagem. Isso só aumenta a admiração pelas conquistas de Federer que pegou uma fase de transição, quando haviam alguns tenistas que usavam o golpe (embora a grande maioria já não usava), e foi multicampeão
Nunca entendi direito qual a desvantagem q tantos citam aqui. Seria algo relacionado a potência ou angulacao que se consegue?
Se voce joga tenis e já experimentou as 2 formas, não é muito dificil de entender. O Backhand de 1 mão te dá mais alcance, mas tanto o braço como as mãos na posição do revés tem menos força e menos precisão. Então com 1 mão se voce desvia alguns entimetros o ponto de impacto, é o suficiente para jogar a bola 2 metros fora ou na rede, no profissional isso seria milimetros. Fora que para responder uma bola muito pesada ou alta, o braço e a mão não consegue o angulo e a força. No forehand se pegamos a bola um pouco fora de posição ajustamos com o punho, no backhand normalmente não temos força, então se o golpe não nasce exato do inicio ao impacto, a chance de errar é maior. Ou seja o backhand de 1 mão te perdoa muito menos e te dá menos flexibilidade para bloquear uma bola pesada ou alta. Voce perde um pouco pelo alcance, porque o impacto é mais perto do corpo, mas o que ganha supera em muito o que perde.
Kkkkkk… Ainda bem que o Guga, Stan e outros não seguiram sua opinião…
Guga, stan e outros não chegariam no sucesso nesta nova geração. Musetti, Shapovalov e demais dificilmente ficarão entre os 5 melhores, além do Stefanos que já está saindo do top 10 e não deve voltar. Devolver um saque a 200 km por hora só com uma mão no back é muito difícil. O máximo que dá para fazer é escorar e levar uma pancada de cruzado na sequência.
Guga jogou em outra época, onde o backhad de 1 mão ainda dominava. E quanto ao Stan, quantos jogadores voce consegue ver hoje com conseguem controlar o backhand de 1 mão com potencia e consistencia como o Wawrinka. Por outro lado, quantos jogadores que nem são top 50 tem um backhand de 2 mãos excelente e conseguem dar potencia e velocidade? O backhand de 2 mãos te perdoa muito mais, isso quer dizer que vai funcionar para 100%, sempre vai aparecer um Stan, um Shapovalov, um Musetti, mas ver esses caras dominarem hoje está cada vez mais dificil.
Está no próprio artigo acima as vantagens e desvantagem.
Meu complemento é que a vantagem é praticamente nula. É bom só para quem vai desenvolver o estilo all around(all court), que é o tenista completo que joga com todos golpes e recursos do tenis como era o Federer, seu último expoente de sucesso do estilo.
Hoje em dia compensa mais trabalhar o físico e os golpes de base dos dois lados da quadra, assim como o Nadal e o Djokovic e com o passar dos anos, ir acrescentando mais recursos no seu repertório.
Nossa, concordo com você, Patricia.
O BH de uma mão é muito mais bonito. Eu iniciei meu aprendizado com uma mão, mas para buscar “força”, fui aconselhada a mudar para o de duas mãos. Me arrependo.
Às vezes, jogando com amigos, me pego usando o golpe com uma mão e ainda levo elogios. Daí uso os dois, até pq um deles é involuntário.
Abraços.
Comigo foi ao contrario, tinha um backhand de 2 mãos forte e consistente, mas tinha dificuldades na paralela, meu professor “da antiga” recomendou trocar. Troquei e realmente é mais facil a paralela, mas voce perde muito a consistencia e a velocidade. Ou melhor ao acelerar o risco de errar no minimo triplica com uma mão. Nunca consegui voltar. Então talvez voce tenha sorte, joga com 2 mas as vezes consegue pegr bem com 1. Mas cada um é diferente, não existe forma correta para todos, é o que te adapta melhor
A velocidade da bola também conspira contra. No backhand de duas mãos é possível pegá-la um pouco atrasdo, mais junto ao corpo. Entre as mulheres, que eu lembre, a Justine Henin foi a mais eficiente.
Não há como discordar! Arrisco dizer que não veremos mais um(a) líder do ranking batendo o backhand com uma só mão. No tênis moderno, isso mais parece uma desvantagem…
Realmente os backhands de uma mão são verdadeiras preciosidades em extinção, eu comecei com o revés de duas mãos e mudei para uma mão, não me arrependo, ao menos por hora.
O maior representante da esquerda de uma mão nas últimas décadas, Roger Federer, infelizmente foi vencido pelas lesões e se aposentou e, com ele, a maior parte da magia, da técnica refinada e do “Tênis arte”, tivemos o privilégio de acompanhar dezenas de seus jogos, sorte a nossa.
Que o futuro do Esporte fique bem nas mãos de Sinner, Alcaraz, Rune, Medvedev, Zverev, Tsitsipas e das gerações que vierem.
Sorry, Patricia. Respeito a sua ‘nostalgia estética’ pelo revés de uma mão, mas essa técnica é patética. Fazendo uma projeção estatística, o revés de duas mãos é melhor em 80% das situações de jogo, e uma mão nos noutros 20%. O que traz a seguinte pergunta: tenistas não trocam toda hora de empunhadura (saque, voleio, slice, forehand, etc)? Por que não podem mudar de revés também? Se a bola vier boa para uma mão, vai uma mão. Se vier boa para duas, vai duas. Quem disse que não pode misturar uma e duas mãos?
Caro amigo, obrigada pelo interesse no tema.
Respeito sua preferência pelo backhand de duas mãos, porém o de uma está longe de ser “patético”, inclusive no tênis atual.
O melhor exemplo da nova geração é o italiano Lorenzo Musetti, de apenas 21 anos, e 18º do mundo.
Com relação aos jogadores terem os dois tipos de golpe, com uma e duas mãos, quem sabe um dia, já que o esporte vem se modificando constantemente. Porém, não ė só uma questão de empunhadura. Os estudiosos de biomecânica encontram muitas diferenças na execução desse golpe, que usa os mesmos músculos, mas apresenta uma série de diferenças sutis e de ativação muscular.
Citando algumas, o backhand de uma mão mostra mais ativação dos extensores do punho, enquanto o de duas, maior rotação de tronco e flexão do joelho direito (para destros). Seria talvez considerado como um novo golpe, exigindo treinamento intenso para aperfeiçoamento.
Olha, Patrícia, eu particularmente acho o backhand de 2 mãos bem + bonito que o simples. Eu executo com 1 mão só, mas morro de inveja de quem o faz do outro jeito. Até já tentei mudar, mas não consegui.
Eu sempre achei o backhand da Chris Evert e do Jimmy Connors verdadeiras obras-primas. A
A Steffi Graf tinha no backhand simples seu ponto fraco. Era um ‘slice’ atrás do outro. Dificilmente batia com força e fugia dele sempre que podia.
Caro Maurício,
Gosto não se discute. Eu particularmente acho a terminação do backhand de uma mão um verdadeiro passo de balé.
Quanto à Steffi, pelo fato dela confiar muito no slice, acabou usando menos o top spin, embora nos treinos pudéssemos ver a qualidade dessa batida.
As “fugidas” eram estratégicas, já que o forehand daquele lado era uma arma mortífera! Não a colocaria nesse rol de beleza do golpe. Que tal pensarmos na Gabriela Sabatini ou na Justine Henin?
Steffi Graf teve o melhor slice que já vi, entre homens e mulheres. Melhor inclusive que o belo e incensado slice do Federer.
É fascinante observar a evolução das técnicas no mundo do tênis, no backhand de uma mão não é diferente. A influência de jogadores lendários como Roger Federer e Stan Wawrinka é inegável, e muitos continuam a se inspirar na elegância desse golpe clássico.
No entanto, como você mostra no artigo, o backhand de uma mão parece estar em declínio. Será interessante acompanhar como essa técnica se desenvolverá no futuro.
O tênis é um esporte que valoriza a inovação, mas também a maestria técnica. Embora o backhand de duas mãos começa a ser mais visível, a persistência entre alguns jogadores talentosos e que sabem usar a técnica vão manter esse golpe tão charmoso vivo.
Patricia, esqueceu de mencionar Justine Henin, o melhor backhand de uma mão de todos os tempos, considerando homens e mulheres.
Excelente texto, Patrícia. A chegada do seu blog foi mais um “winner” do TenisBrasil.
Aproveito para lhe perguntar: quais as três tenistas, cujo backhand com uma mão você mais apreciava?
E entre os homens?
Oi, André. Agradeço o elogio! Entre as mulheres, gostava do revés da Gabriela Sabatini, Justine Henin e o da francesa Amelie Mauresmo. Coloco na lista também o da espanhola Carla Suarez Navarro, que chegou ao número 6 do ranking mundial. Entre os homens, fico com o Roger Federer, Stan Wawrinka e o francês Richard Gasquet.