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Diagnóstico de amigo salvou carreira de Menezes

Foto: Abelardo Mendes Júnior/rededoesporte.gov.br

Atual campeão Pan-americano, João Menezes não está em Santiago para defender a medalha de ouro conquistada em Lima e tampouco tem competido no circuito. Afastado das competições desde 2021, ele passou por diversos procedimentos médicos nos últimos anos e chegou a pensar que não conseguiria voltar. Em entrevista exclusiva a TenisBrasil, o mineiro de 26 anos contou como o diagnóstico de um amigo fisioterapeuta salvou sua carreira e o fez planejar o retorno para 2024.

“Já tinha meio que desencanado de jogar tênis, aceitei minha condição física atual depois de tentar o que tinha de recursos. Eu me consultei com os principais médicos de joelho do Brasil”, falou o mineiro, que convive com problemas no joelho desde o final da carreira juvenil, passando por uma série de cirurgias, a última delas no ano passado, quando passou por mais uma artroscopia e um tratamento com célula tronco. Nada disso resolveu suas dores.

Quando o mineiro já não imaginava poder retomar a carreira de tenista profissional, um amigo fisioterapeuta de Uberaba, sua cidade natal, fez ressurgir suas esperanças. “Consegui melhorar, graças a Deus e ao diagnóstico dele, que me falou: “Eu acho que seu joelho tem problemas, mas sua dor não está vindo do joelho e sim da sua coluna. Por algumas evidências e exames clínicos, a dor vinha da coluna. Foi uma notícia muito inesperada”.

Menezes seguiu as orientações do amigo, parou tudo o que estava fazendo e por dois meses fez apenas o que o fisioterapeuta mandou. “Depois disso eu já estava sem dor e então comecei um processo bem lento de recuperação na academia”, falou o mineiro, que pelo final de julho já estava bem o suficiente para voltar a correr depois seguir para exercícios de força. “Agora, faz exatamente duas semanas que retornei aos treinos aqui em Itajaí. Minha ideia é voltar para o circuito no ano que vem”, disse o ex-número 172 do mundo.

Veja a entrevista completa com João Menezes:

Desde 2021 você tem sofrido com o joelho, já passou por alguns procedimentos e desde 2022 não consegue competir.. Quais foram os problemas que enfrentou neste período e o que te impede de voltar ao circuito?

Comecei a sofrer com dores no joelho já saindo da minha carreira de juvenil e minha primeira cirurgia foi em 2014, com mais uma em 2015 e outra em 2016. Depois disso minha situação tinha se estabilizado, mas em 2021, especificamente depois das Olimpíadas, do jogo contra o Cilic, em que eu me arrebentei naquele jogo. Até joguei algumas partidas depois, mas todas com efeito de medicamentos, pois já estava mancando e tinha dificuldade de me movimentar em quadra. Decidi então que não iria mais jogar. Após o US Open, eu até joguei mais um challenger, mas depois acabei desistindo da Copa Davis contra o Líbano, falei para o Jaime (Oncins) que não iria jogar. Voltei para o Brasil e fiz uma cirurgia, uma histerectomia no joelho esquerdo.

Sempre tive problemas no menisco lateral e aconteceu que eu estava retirando fragmentos do menisco, só que minha dor nunca ia embora. Fiz uma cirurgia em setembro, tentei voltar e não consegui. Depois fiz uma outra em dezembro, aí voltei, mas com muita dor e o joelho inchado. Joguei 4 torneios, entre eles Roland Garros e Wimbledon. Depois do quali de Roland Garros e antes de Wimbledon, meu joelho estava muito inchado e fui fazer um tratamento com células tronco em Porto Alegre, o tratamento deu certo, mas talvez eu precisasse de mais tempo para me recuperar.

Fui jogar o quali de Wimbledon e depois um challenger em Cali, na Colômbia. Lembro que neste torneio eu sentia uma dor em todos os jogos, só que no segundo eu senti uma dor ainda mais forte e está difícil de lidar. No terceiro set, eu batia o mais forte na bola para tentar acabar o ponto logo. Depois desisti da dupla e do torneio na semana seguinte. Isso foi na quarta-feira, então peguei um avião para o Brasil na quinta e cheguei em casa na sexta. Quando chego em casa a primeira coisa que faço é ir ao médico, fiz uma ressonância cujo resultado saiu no sábado e estava com uma fratura por estresse na tíbia. Aí, desde então, nunca mais consegui voltar a jogar. Essa fratura me deixou dois meses com a perna imobilizada sem colocar o pé no chão. Depois disso fiz ainda mais uma artroscopia no joelho e mais um tratamento com célula tronco, só que a dor sempre persistiu.

Como está sua condição física no momento? Há algum planejamento de retorno?

Até o final do ano passado, mesmo com o tratamento com células tronco, o meu joelho parou de inchar, só que eu continuei tendo muita dor, que me impedia não apenas de jogar tênis, mas de fazer qualquer atividade que precisasse correr, agachar ou pular. Estava completamente sem esses movimentos. Já tinha meio que desencanado de jogar tênis, aceitei minha condição física atual depois de tentar o que tinha de recursos. Eu me consultei com os principais médicos de joelho do Brasil, entre eles o ortopedista da seleção brasileira de futebol. Aí liguei para um amigo meu de Uberaba que é fisioterapeuta e pedi para ele dar uma olhada no meu joelho, ver se conseguia fazer alguma coisa. Consegui melhorar, graças a Deus e ao diagnóstico dele, que foi uma notícia muito inesperada. Ele me falou: “Eu acho que seu joelho tem problemas, mas sua dor não está vindo do joelho e sim da sua coluna. Por algumas evidências e exames clínicos, a dor vinha da coluna”.

Comecei a fazer um tratamento em janeiro de 2023. Ele pediu para eu me afastar de tudo o que tinha por dois meses para fazer apenas os exercícios que ele me mandou. Passei a fazer isso e dois meses depois eu já estava sem dor. Comecei um processo bem lento de recuperação na academia. Cinco meses depois, lá pelo final de julho, eu já estava me encontrando bem, então comecei a correr para ganhar um pouco de força. Voltei a fazer agachamento e estou me sentindo bem. Agora, faz exatamente duas semanas que retornei aos treinos aqui em Itajaí. Minha ideia é voltar para o circuito no ano que vem, não sei se em janeiro, fevereiro ou março, mas estou confiante na volta.

Faz mais de um ano que você não compete, ou seja, não fatura nada com premiações. O que tem feito neste período para conseguir pagar as contas?

Desde o final do ano passado eu voltei para a casa dos meus pais em Uberaba, o que já deu uma aliviada nas despesas. E eu tinha investido, montei uma arena de Beach tennis em Uberaba, que está funcionando até hoje. Depois que eu melhorei minha condição física e conseguia minimamente me movementar, eu dei algumas aulas de beach tennis até para não ficar muito tempo parado e conseguir rentabilizar um pouco

Estamos na semana dos Jogos Pan-americanos e quatro anos atrás você foi campeão em Lima. Quais as recordações que tem daquela semana?

As recordações do Pan de Lima vão ficar sempre na minha cabeça, inclusive essa semana antes da abertura eu assisti umas reprises dos meus jogos lá. Foi uma semana espetacular, eu vinha em uma fase muito boa de torneios e resultados, talvez jogando o melhor tênis da minha vida. Acho que foi aquela semana sonhada, que estava tudo dando certo, e eu estava muito bem fisicamente na época. Joguei contra grandes jogadores que hoje em dia estão bem, como por exemplo o (Francisco) Cerúndolo e o (Nicolas) Jarry. O próprio (Tomas) Barrios na final, que hoje está um pouco abaixo dos 100 (é o 105º da ATP nesta semana). Foram jogos muito duros, em que eu consegui mostrar meu melhor tênis. Tive a ajuda do Jaime também que foi muito importante. Só memórias positivas.

Com aquele título, depois você teve a possibilidade de competir nos Jogos Olímpicos de Tóquio, que acabaram acontecendo um ano após o previsto e sem público, por causa da Covid-19. Ainda assim, deu para aproveitar a oportunidade? E o que você tirou daquele jogo contra Marin Cilic na estreia?

Foi um momento muito importante na minha carreira. O ambiente dos Jogos Olímpicos é totalmente diferente, por mais que eu já tivesse jogado dois Pan-americanos, Olimpíada é Olimpíada. Todos os principais atletas do mundo estão lá e foi uma experiência muito legal. O jogo contra o Cilic foi o jogo mais louco que eu tive na vida, saí ganhando e saquei para ganhar no segundo set, perdi o saque e ele começou a jogar muito. Depois no terceiro estava 0/5 e 0-40 eu sacando, pensava que só queria fazer um game e não tomar um ‘pneu’. Então fiz um game, ele então deu uma bobeada e busquei o jogo, depois tive match-point e acabou perdendo 7/6 no terceiro no jogo mais logo das Olimpíadas. Acabou que esse jogo também me quebrou um pouco fisicamente, principalmente a questão do joelho. Foi uma experiência muito marcante e fiquei muito feliz de ter participado. Aproveitando o gancho, gostaria de desejar agora sorte para a equipe do Brasil agora no pan-americano e que eles consigam trazer o maior número possível de medalhas.

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