Com espírito de campeão

Foto: AELTC

Se tecnicamente Carlos Alcaraz ainda não mostrou sua versão mais completa neste Wimbledon, o espírito lutador segue compensando pequenas deficiências. O russo Andrey Rublev foi um teste e tanto neste domingo, principalmente depois de ganhar o primeiro set e colocar muita pressão no bicampeão também na outra série. Mas aí entrou em cena a notável determinação do espanhol, que o leva pelo terceiro ano consecutivo às quartas de final e estendeu para 18 sua sequência de vitórias.

O primeiro saque desta vez teve grande peso na reação e não foram apenas pelos 22 aces, mas pela profundidade que conseguiu no golpe em momentos muito delicados da partida. O ponto negativo, que precisa de acertos, são certamente os erros não forçados. Cometeu 36 na partida e é muito bom lembrar que a grama tende a mostrar números bem mais baixos de falhas desse tipo, elevando os chamados ‘erros forçados’, justamente porque o tempo de reação e escolhas é muito menor.

Carlitos vai enfrentar na terça-feira um adversário radicalmente oposto, já que Cameron Norrie não é um tenista de potência, mas de colocação, apuro tático e correria. E o canhoto britânico já ganhou dois dos seis confrontos diante do atual número 2 do mundo, o que faz subir o alerta. Sem falar no papel evidente da torcida.

Longe do top 10 que um dia alcançou, Norrie não vive um grande momento na carreira, mas fez uma tremenda partida contra o chileno Nicolas Jarry, sobrevivendo a 46 aces, a um match-point perdido ainda no terceiro set e a duas vantagens importantes que jogou fora dos dois tiebreaks que perdeu do valente adversário. Daí os elogios necessários à cabeça firme que Norrie manteve em quinto set também apertado.

Interessante deve ser o reencontro entre Taylor Fritz e Karen Khachanov, principalmente porque o russo ganhou os dois confrontos já feitos. Depois do penoso início de torneio, Fritz se viu favorecido com o abandono do contundido Jordan Thompson, tendo ficado apenas 10 games em quadra. Khachanov, ao contrário, fez uma belíssima exibição diante do polonês Kamil Majchrzak, onde fez de tudo um pouco e quase tudo muito bem.

O histórico muito mais vasto na grama e o fato de já ter feito uma final de Grand Slam dá considerável favoritismo a Fritz, mas não dá para descartar Khachanov, que joga longe dos holofotes e por isso parece estar livre de qualquer tipo de pressão. Isso sempre é muito perigoso.

Sabalenka segue firme

Os jogos não estão fáceis, mas Aryna Sabalenka segue firme em sua meta de atingir pelo menos a primeira final de Wimbledon. Completou o quarto jogo sem perder set, recuperando-se quando Elise Mertens fez 3/1 na segunda série, e continua buscando variações, com 10 pontos bem sucedidos nas 15 subidas à rede.

Sem possuir um grande saque, é difícil imaginar que a veterana Laura Siegemund consiga segurar a força bruta das devoluções que a número 1 do mundo geralmente impõe. A belga, que saca muito melhor que a alemã, perdeu 42% dos pontos quando foi sacadora. De qualquer forma, chegar às quartas já é um feito para a forte tenista de 37 anos, parceira de Bia Haddad nas duplas, onde tem se dado melhor no circuito.

A outra vaga na semi será disputada por duas tenistas de gerações diferentes, mas que gostam de bater mais reto na bola e por isso merecem elogios na grama. Com 18 temporadas na estrada, Anastasia Pavlyuchenkova disputará aos 34 anos quartas de Slam pela 10ª vez e ainda sonha com primeira semi em Wimbledon. A norte-americana Amanda Anisimova teve grande experiência quando era tida como fenômeno de precocidade, fazendo semi em Roland Garros de seis anos atrás. Anda na busca para recuperar a cabeça e pudemos perceber um momento de “apagão” no meio da partida difícil contra Linda Noskova.

Vale observar que a queda de Noskova coloca fim à representação tcheca em um torneio em que historicamente as jogadoras do país sempre foram muito bem, desde os tempos de Martina Navratilova às mais recentes conquistas de Barbora Krejcikova e Marketa Vondrousova, passando ainda por Jana Novotna e Petra Kvitova.

Dupla também faz história

Mais uma grande e difícil partida de Rafael Matos e Marcelo Melo em Wimbledon, mas os dois novamente se mostraram muito bem adaptados ao piso e atingem quartas de final. E com importante adendo: os adversários não serão mais os cabeças 3, que foram surpreendidos por Rinky Hijikata e David Pel.

Melo e Matos formam a primeira parceria totalmente brasileira a atingir as quartas de final de um Grand Slam desde que o próprio mineiro e Bruno Soares fizeram o mesmo em Roland Garros de 2010. Em Wimbledon, Melo e André Sá atingiram as semifinais de 2007. Também vale ressaltar que Melo soma agora nove presenças em quartas de Wimbledon, algo que somente Maria Esther Bueno fez mais, incluindo o título de 2017 e a final de 2013.

Os dois, que pareciam ter perdido esperança de brigar por vaga no Finals, sobem para 17º lugar no ranking da temporada e, com mais uma vitória, podem ganhar mais três posições.

Para completar outro bom dia, Luísa Stefani e o local Joe Salisbury também estão nas quartas e podem muito bem passar por Jan Zielinski e Su-Wei Hsieh.

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Eduardo
Eduardo
3 horas atrás

Dalcim, uma correção factual no texto: A Pavlyuchenkova foi finalista de Roland Garros em 2021.

José Afonso
José Afonso
3 horas atrás

Tevez Jr. foi muito afortunado no sorteio das chaves. Com o nível que está apresentando, se pegasse um adversário muito duro antes das semis, era bem arriscado cair.

Vejo a história se repetir de Roland Garros: ele na final e do outro lado o freguês Sinner ou o algoz Comedor de Fígados, que devem se enfrentar na semi.

Se passar a Cenoura Turbinada, em seu pior piso e totalmente freguês, já sabemos novamente o resultado.

Se o Sentinela dos Balcãs conseguir passar pela Laranja Mecânica, o Boi Miúra Jr. irá duvidar um pouco e podemos ter um resultado diferente das duas últimas edições.

Última edição 3 horas atrás by José Afonso
Adriano
Adriano
2 horas atrás
Responder para  José Afonso

Em Roland Garros eu não concordo teve vários tenistas bons, Musetti/Paul/Shelton…agora realmente em Wimbledon ele teve um sorteio muito favorável mas pode muito bem esse fator que não tá fazendo ele dar o devido valor e foco nesse caminho ? Porque você sabe bem que perdendo ou ganhando quando é Djokovic, Sinner, Zverev ou um tenista de mais alto nível ele também sobe o nível e fica mais focado..

Sérgio Ribeiro
Sérgio Ribeiro
1 hora atrás
Responder para  José Afonso

Estás se superando , caro José Afonso rs . O único que pegou Top 10 até agora, foi Carlos Alcaraz. Rublev está nesta posição devido a campanha até às Oitavas . Só pode ser ultrapassado se Alex de Minaur bater Djokovic. Chamar de freguês um cara do calibre de jannik Sinner , que fez Djokovic sair de um 0 x 2 , aí mesmo na Grama de Wimbledon 2023 , mostra desconhecimento. Algoz Comedor de fígados de quem ??? . Carlitos é Bicampeão no All England Club exatamente pra cima do “ goat “ . Estas lorotas somente colam lá no Site. Na boa , leia o Texto do Post e depois faça as devidas correções…Rsrs, Abs !

Sérgio Ribeiro
Sérgio Ribeiro
1 hora atrás
Responder para  José Afonso

Correção: Djokovic saiu de 0 x 2 nas Quartas de Wimbledon 2022 . Abs !

Julio Marinho
Julio Marinho
1 hora atrás
Responder para  José Afonso

Se pegasse um adversário melhor, bem provavelmente teria jogado melhor. Não é normalmente assim que ele tem conduzido o ano? Perdendo para Goffin e vencendo Sinner? Essas generalizações correm muitos riscos de desconsiderarem aspectos essenciais.

Tribunal de Wimbledon
Tribunal de Wimbledon
1 hora atrás
Responder para  José Afonso

De qualquer forma o campeão sairá do trio supracitado no seu comentário.

Tribunal de Wimbledon
Tribunal de Wimbledon
3 horas atrás

Se tem a discussão de quem é GOAT (Djokovic, Federer ou Nadal), Alcaraz é um tenista de outro planeta. Vai pulverizar todos os recordes.

Ronildo
Ronildo
2 horas atrás
Responder para  Tribunal de Wimbledon

São estas as espectativas.

Carlos Alberto Ribeiro da Silv
Carlos Alberto Ribeiro da Silv
1 hora atrás
Responder para  Tribunal de Wimbledon

Você tem tanta convicção no que escreve que se esconde atrás de um apelido. A discussão de quem é o GOAT atual acabou faz um tempo. A sua previsão é muito óbvia e se você errar não sofrerá nenhuma consequência pelo palpite errado. Então, não precisa fazer uma previsão tão longa, apenas informe se o Alcaraz vai ser campeão de Wimbledon e do US Open 2025. Com o seu apelido, Tribunal de Wimbledon, você vai postar comentários apenas durante o Torneio de Wimbledon ou vai comentar durante os outros torneios também? No US Open você mudará o seu nome para Tribunal do US Open?

Berg
Berg
3 horas atrás

Assim como em Roland Garros, Carlos Alcaraz está no modo “Me engana que eu gosto”. Jogando em um nível bem abaixo e consequentemente tendo jogos extremamente difíceis contra jogadores bons como Fognini e Rublev. Mas na hora da onça beber agua ele eleva o nível. A chave favorece chegar a final, aí lá vai ter que jogar o seu melhor pra ganhar.

Tribunal de Wimbledon
Tribunal de Wimbledon
3 horas atrás

Siegemund euma grata surpresa. Nesta etapa da carreira, fazer uma QF com a Sabalenka é um grande feito. Vou torcer para a alemã

Gilvan
Gilvan
3 horas atrás

Acho o seguinte: se mesmo jogando mal, o Alcaraz segue vencendo os seus oponentes sem muito sofrimento (o mais longe que alguém chegou foi o Fognini, que quase levou um pneu no 5o set), é sinal de que ainda tem muito espaço para crescer.
Ainda vejo o Sinner como o único capaz de pará-lo.

Paulo Almeida
Paulo Almeida
1 hora atrás
Responder para  Gilvan

Já te ajudando por antecipação, Gilvan: Djokovic abre a sessão da Central de novo amanhã e, caso siga avançando, jogará a na “sessão noturna” na sexta-feira, pois quem joga as quartas na terça joga primeiro na sexta. Era disso que eu havia me esquecido.

Também não posso deixar de lembrar da tal grama inteira nas quartas de final, que você postou em poucas pastas atrás. É uma vergonha atrás da outra.

Gilvan
Gilvan
36 minutos atrás
Responder para  Paulo Almeida

Já era hora, Paulinho, pois já entramos na 2a semana do torneio (com a temperatura bem mais amena, diga-se de passagem). Pode seguir anotando no seu caderninho.

Tribunal de Wimbledon
Tribunal de Wimbledon
1 hora atrás
Responder para  Gilvan

Parece que Alcaraz só tem o Sinner de rival, em Wimbledon é favorito, no US Open deve dar Sinner. Está com jeito que os dois devem empilhar majors.

Sérgio Ribeiro
Sérgio Ribeiro
1 hora atrás
Responder para  Gilvan

Ele hoje não jogou mal . Até no primeiro Set disputado no Tiebreak , Alcaraz fez mais pontos que Rublev. Como tem vasto arsenal, ele as vezes se complica nestes jogos . Fez 5 Finais de SLAM e levou todas , meu caro. Abs !

Maurício Sabbag
Maurício Sabbag
2 horas atrás

Inócua – pra não dizer ridícula – essa atitude da ATP, WTA e outras entidades esportivas de não deixarem figurar a bandeira da Rússia pra designar a nacionalidade dos seus atletas.
Acaso o Putin vai parar com a guerra por causa disso? Quem vê pensa… Sem falar que só pelos nomes, qualquer criança da quarta série do primário sabe que são russos.

Gilvan
Gilvan
34 minutos atrás
Responder para  Maurício Sabbag

Se fosse tirar a bandeira de cada país por conta da sua participação em guerras, mais da metade do circuito estaria “apátrida” nesse momento, incluindo americanos, ingleses, australianos, franceses, italianos, ucranianos, israelenses e por aí vai.

Maurício Sabbag
Maurício Sabbag
2 horas atrás

Nole foi fotografado treinando com o joelho direito enfaixado.
???

Jmsa
Jmsa
2 horas atrás

Dificilmente não estará nas finais e digo mais,vai levar o tricampeonato.
Dalcim ,contra qualquer um hoje o alcaraz é favorito ,mas entre sinner e Djokovic qual tem mais chance de vencer o espanhol ?

Luciano
Luciano
6 minutos atrás
Responder para  José Nilton Dalcim

Eu já acho o Sinner. Mas tudo é achismo. Se o Djokovic chegar na final, mesmo contra o Alcaraz, ele pode vencer. Esses caras crescem.

Luiz Fernando
Luiz Fernando
1 hora atrás

Sinceramente não vejo como Djoko e Sinner percam amanhã. Já em Iga não estou pondo fé, tomara q eu esteja enganado…

Rafael
Rafael
16 minutos atrás

Sacando desse jeito não tem pra ninguém, joga muito Alcaraz.

Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br
Paulista de 63 anos, é jornalista especializado em esporte há mais de 45 anos, com coberturas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo. Acompanha o circuito do tênis desde 1980, tendo editado a revista Tênis News. É o criador, proprietário e diretor editorial de TenisBrasil. Contato: joni@tenisbrasil.com.br

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